único

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O dia em Campos estava lindo, absurdamente lindo, Heloísa concordaria com as palavras ditas se não estivesse nesse exato momento em trabalho de parto, sentindo as dores que pensou jamais sentir novamente. Heloísa apertava as mãos de Eugênio como se fossem a última coisa existente da terra, não percebeu que Eugênio lacrimejava e a mão estava vermelha. Olívia e Violeta corriam com panos de água e Manuela passava os paninhos pela testa dela. Augusta não saia do lado do telefone esperando por Leônidas. Heloísa grunhiu de dor novamente, apertando a mão de Eugênio na medida em que os gritos saíam de sua garganta.

Se fosse listar, diria que aquela era uma mistura de dor e felicidade juntas, quando a contração vinha, mil pensamentos também vinham, ela conseguiria? Perderia sua filha assim como perdeu a Olívia? Seria uma boa mãe? Eram tantas perguntas que os apertos na mão de Eugênio se intensificaram.

— Cadê o Leônidas? – ela disse, entre um choramingo e um rosnado de dor.

— A Dorinha e o Davi foram procurar ele na vila. – Violeta disse, acariciando os cabelos da irmã mais nova. — Fique calma, tá bom?

— Como você me pede calma, se tem literalmente uma criança querendo sair de dentro de mim! – Heloísa grunhiu, assustando a irmã e a Eugênio que gritou junto com ela quando sentiu a mão estalando.

— Quebrou! – ele concluiu, fazendo Olívia lhe dar um tapa na nuca. — Meu Deus, essa louca quebrou minha mão.

— Você me chamou de que? – Heloísa se virou, não sabia decifrar a expressão de raiva ou de dor. — Repete.

— Te chamei de linda, essa linda cunhada que quebrou minha mão. – ele riu, sendo afastado por Olívia que assumiu o lugar de Eugênio. — Eu vou procurar o Leônidas.

Alguns minutos se passaram desde que Eugênio saiu, Heloísa estava tendo outra contração enquanto segurava a cômoda de madeira.

— O Leônidas. – Heloísa choramingou olhando para a irmã.

— Ele já tá vindo meu anjo, não quer se sentar? – sugeriu, sorrindo amarelo quando a irmã negou suspirando pela dor.

— Isso dói. – ela choramingou de novo.

— Vai passar e você vai ter sua menininha nos seus braços, toda dor vai valer a pena. – Violeta disse, sorrindo lhe passando coragem. — Eu confio em você.

Heloísa passou os outros quinze minutos perguntando por Leônidas e grunhindo de dor a cada contração, o ritmo das dores ia aumentando conforme as horas iam passando. Leônidas estava na vila ajudando a organizar o cinema e a biblioteca que seria inaugurada para as crianças. Heloísa sequer deu bola, afinal não imaginaria que estaria em trabalho de parto justo hoje.

Não admitiria, mas estava com medo. Tinha medo de que alguém levasse a sua menininha – que ela tinha certeza que era uma menina. Heloísa só sabia sentir medo dentro de si, implorava para Leônidas chegar logo e dizer palavras reconfortantes. Ele estaria lá, ela não precisaria sentir medo ou angústia. Se ela sentisse qualquer dor ele rapidamente seguraria sua mão, e tiraria seu cabelo de seu olho.

Heloísa precisava dele naquele instante, não era do tipo que se apoiava em alguém para quando tivesse necessidade, mas naquele momento ela queria ele lá, segurando sua mão e a abraçando. Heloísa se preparou novamente para sentir aquela dor insuportável, mas ouviu o barulho da porta e os passos apressados de Leônidas, sujo de… lama?

— Minha rosa! – ele jogou o casaco em qualquer canto correndo até Heloísa e segurando seu rosto. — Eu sinto muito por não ter vindo antes mas é que eu estava tão concentrado com a biblioteca que-

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