Ela havia sim se desestabilizado e não conseguia explicar exatamente o porquê. Enquanto subiam para o segundo andar, a campẽa de Hera, tentava analisar racionalmente sua reação. Já havia perdido amigos em missões, visto a morte de perto mais do que gostaria de admitir. Ela própria já havia sucumbido e voltado graças ao sacrifício de uma deusa menor. Ariel era mais próximo que as outras fatalidades, porém os semideuses se adaptavam e treinavam para controlar as emoções em batalha. Eram "configurados" para serem soldados, mesmo cansados, destruídos e desestabilizados, só após baixar o pico de adrenalina é que pensavam nesse percalços e se permitiam lamentar ou descansar.
Porém, ela não era uma semideusa por completo. Não havia icor correndo em suas veias. Ela não tinha os instintos ou dons de seus companheiros. Ela era um simples mortal que foi salva pela rainha dos deuses e basicamente adotada por ela, ganhando todos os encargos de um meio-sangue, menos os poderes. Treinava e se dedicava muito mais que os outros para compensar, tinha armas mágicas poderosas e o néctar e a ambrosia até faziam um pouco de efeito sem fulminá-la, porém esses eram seus limites.
Baixar a guarda por um instante e se assustar com o ataque sorrateiro lhe custou demais. Talvez o estresse, cansaço e a pressão da missão a fizeram ter um instante de desatenção e Ariel, com sua previsão do futuro, concluiu que a única forma de evitar o ataque foi se jogar entre a garota e o inimigo. Ele não hesitou. Ela sim. A camiseta de Betina ainda estava úmida com o sangue do amigo e isso lhe apertava o coração ao mesmo tempo que a deixava com uma sensação estranha no estômago. Algo ainda pior surgia quando olhava para o corpo sendo carregado aos trancos e barrancos por César e Thiago. O choque ainda não havia passado, suas pernas ainda bambeavam durante a subida pelos lances de escadas.
Ninguém havia a condenado, nem sequer um olhar de reprovação, mesmo todos sabendo que o erro havia sido cometido por ela. Até as amazonas permaneceram em silêncio e com olhar piedoso, o que não combinava muito com suas personalidades. Respiram por cinco minutos e continuaram. Não podiam parar. Não tinham a liberdade de sofrer agora. A escolhida de Hera já havia expressado o sentimento de todos e entrado em quase estado de choque. Alex foi quem evitou que ela entrasse em parafuso. Precisavam terminar aquilo antes que uma desgraça maior acontecesse. Qualquer tragédia irreversíve poderia ser evitada por eles e ela estava comprometida com isso, mesmo que tivesse que pagar caro, não se importava.
A cada degrau que subia seu corpo queimava, estava exausta, mas sua mente trabalhava vertiginosamente. Ela tentava simular o cenário da batalha, o que iriam encarar. Duas certezas ela tinha: Alastor e Radamanthys estariam nos ṕŕoximos andares. Flávia, Clara e Vanessa tinham causado uma grande explosão em algum lugar do prédio. Elas poderiam estar em sério perigo. Precisavam chegar até elas rapidamente.
Quando estavam a poucos metros de adentrar o segundo andar, puderam ouvir um grande barulho dentro da sala. Como se portas tivessem sido destruídas após serem abertas com violência. Mike e Alex não exitaram sequer um segundo, armados e focados se lançaram para dentro do espaço prontas pra luta. Foram em seguida acompanhadas pelas amazonas, depois César e Thiago e fechando a fila, Betina com seus corvos autómatos. E a visão que a filha adotada de Hera teve foi complexa.
O salão não tinha absolutamente nada de relevante, mas um padrão perfeitamente desconfortável. Era um grande espaço, cheio de fileiras de pilares simétricamente dispostos em círculos crescentes com tochas presas em sua estrutura. No centro do ambiente num trono dourado, Alastor, estranhamente parecido com Matt Damon, alto, num terno preto lustroso, barbas e cabelos prateados e olhos vermelhos e afiados como um punhal. Ao seu lado, em pé, o terceiro juiz do submundo, Radamanthys.
O deus menor tinha uma estatura alta e forte, com cabelos loiros espetados e olhos castanhos-claro com um tom amarelado que irradiava poder e seriedade, mesmo à distância. Seu rosto tinha uma feição forte e rígida, acompanhado por suas sobrancelhas emendadas, que tornavam sua expressão mais densa e perigosa. Quando Betina focava em Radamanthys era como se ela tivesse vendo as cerâmicas, papiros e estátuas que retratam Zeus. De todos os filhos do Rei do Olimpo que ela já havia visto nas ilustrações, esse era o de aparência mais semelhante ao pai.
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O Conto das Parcas: As Três Maldições - Vol II
FanfictionPoucos meses após a fundação do Acampamento Perdido, e semanas de silêncio dos inimigos declarados, os semideuses se deparam com um nome empecilho. Será essa nova missão a chave pra desvanecer a Grande Profecia? Autor: Sérgio Damico, filho de Dioní...