O título pode parecer estranho, porém, é autoexplicativo (prefiro coisas práticas). Assim como a maioria da população pobre brasileira, tive uma infância difícil, até para nascer na verdade. Nasci com o cordão umbilical envolto no meu pescoço, causando grande dificuldade para respirar, o famoso "laçada". Como infelizmente fiquei viva, minha mãe seguiu a tradição interiorana de colocar meu nome de Maria (sim, me chamo Maria Rubia), acho que assim que ouvi o nome escolhido, comecei a chorar por saber que já nasci pobre. Dramas à parte, né meninas.
Minha mãe, Dona Amélia, era faxineira e costureira em uma fábrica de bolsas da cidade, pegava de seis às dezoito horas no trabalho. Com três filhas, ganhou a vida sozinha e sem depender de macho para contribuir com a obrigação mínima do que é ser um pai.
Mãe e pai, ela denominava assim o seu papel.
Sou a mais velha das irmãs, assim tenho uma lembrança mais antiga de como foi o sacrifício de criar três filhas sozinha em uma cidade totalmente desconhecida e sem familiares que dessem o apoio necessário para uma estruturação familiar e financeira. Lembro-me de ser levada junto ao trabalho dela, pois não havia quem ficasse comigo para minha mãe trabalhar. Aaaaa, como eu amava pular naquela pilha de tecidos amontoados nos cantos da parede só esperando para serem costurados e transformados em bolsas. Mainha, corria louca atrás de mim para que eu não sujasse os materiais de costura e não machucasse novamente meu dedo em uma das máquinas de costura. Vou até contar como que foi isso, menina: estava eu, pleníssima, sentada no banco onde minha mãe fica sentada para costurar, nisso, como uma criança anja que eu era, começou a passar em minha cabeça que eu saberia facilmente construir um look para arrasar na alfabetização (podemos imaginar a merda que foi). Como não alcançava o pedal que dá o impulso na máquina para o seu funcionamento, segurei na mesa e me pendurei de forma que minha mão ficasse no caminho da agulha e do tecido e meus dois pés pisassem com tudo no pedal. Resultado, meu dedo foi alfinetado e praticamente costurado na máquina. No meio de toda essa situação, comecei a gritar desesperadamente, mobilizando toda a fábrica até minha mesa de "trabalho". Mainha veio me socorrer desesperada porque viu o sangue que saia do meu dedo. Depois de todo o acontecimento e já com o dedo tratado, ainda levei uma pequena surra dela para "aprender a ser gente".
Essa e outras traquinagens na minha infância, fizeram com que os neurônios funcionais de quem vivia ao meu redor, questionassem sua utilidade dentro dos cérebros dessas pessoas.
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Rúbia: não preciso ser julieta
Документальная прозаRúbia é uma mulher negra, brasileira e marginalizada que se revolta contra um sistema patriarcal e descobre que não precisa seguir as regras impostas pela família ou corresponder as expectativas idealizadas de seu marido. Com uma boa dose de humor...