Prólogo

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Sentir a brisa suave que invadia as frestas da janela em companhia do suave tom de amarelo que a acompanhava me fez ter certeza que o sol já raiou, a manhã começou mais uma vez, e eu ao menos havia dormido um minuto na noite anterior. Novamente, com aquele vazio e o temor costumeiro. Esse pesadelo se tornou vívido em dor e não me abandonava mesmo acordada. Evitar dormir não adiantava. Fingir que estava ocupada salvando algum gato de uma árvore era a desculpa para meu sono constante.

Um tanto frustada por não ter dormido de novo, me encaminhei a passos lentos e monótonos até o banheiro, seguindo para a minha rotina tranquila, como tem sido há um tempo.

Entranho muito a paz que surgiu, apesar de ainda ter alguns conflitos pequenos entre alienígenas, tudo parece tranquilo demais. Talvez eu devesse estar mais atenta e temerosa, nunca ganhei nada nessa vida, a calmaria não deve ser apreciada com tanta devoção se possuo conhecimento que ela não durará tanto quanto gostaria, no entanto, apenas sigo para o banho ao invés de dar atenção a esse pressentimento.

Uma vez que escolhi a camisa de botões e a calça social que usaria hoje, segui para a cozinha e abri a geladeira, só não sei porque fiz isso, já que essa semana eu não tive a decência de fazer compras, mesmo sabendo que precisava ter feito.

Até que batidas na madeira da porta soaram, mas era apenas um aviso, afinal ela sempre está aqui agora. De manhã, de tarde, de noite. Sempre que quiser estar. Sua companhia é bem-vinda a todo instante. Tinha minhas chaves, e a liberdade de entrar a qualquer momento, então apenas o faz desde que essa nova fase em nossa amizade se iniciou há alguns meses.

— Bom dia, Len – comprimento, ainda de costas para ela, mas sabendo que estava aqui. Peguei o último suco de laranja que tinha na geladeira para depois poder me virar, e quase derrubar a garrafa quando a observei. Essas saias justas algum dia vão me matar.

— Dia – ela estava propriamente vestida como a excelente CEO que é, e pronta para me matar do coração a qualquer momento. A expressão suave que me direcionava enquanto avaliava minha cara - provavelmente muito idiota, por sinal -, era a razão da minha ruína. Eu derreto sob seu olhar, mas me mantenho na melhor postura que posso oferecer agora. – O que temos para hoje?

— Nada demais, acabei de perceber que esqueci de fazer compras.

— Bom que eu tenha conferido isso noite passada, porque trouxe seu café da manhã.

— Você é a melhor, mas já sabe disso, certo?

Repousei a garrafa de suco na bancada, ajudando-a com as sacolas enquanto evitava de encarar tanto. Mas se tornava inevitável a cada momento da nossa refeição. Ela me acompanhava em todas elas, por mais que tenha sido uma exigência manhosa minha, gosto de pensar que é mérito meu fazer Lena Luthor se alimentar direito.

— Tudo pronto para hoje a noite? — Levantei o olhar para ela, me questionando o quê exatamente deveria estar pronto. – Você esqueceu?

— Eu te chamei para um jantar e não me lembro? – Ela sorriu, negando em um aceno enquanto desviava o olhar do meu.

— Por onde andam seus pensamentos?

— Em qualquer lugar, menos onde deveriam estar – suspiro, frustada. Ultimamente eu tenho me sentido tão… esgotada. É a única palavra que encontro para definir o meu estado deprimente.

— Quer conversar sobre isso?

— Está tudo bem… – tento mentir, mas minha mente estilhaça em meio a lembranças e tormentos – Não, não está. Mas vai ficar, não se preocupe.

— Quando mudar de ideia, estarei aqui para ouvir você. Não pense que não estou reparando na sua mudança de comportamento. Eu costumava chegar e te acordar, não te encontrar pronta para o trabalho três horas adiantada, Kara.

Came From The FutureOnde histórias criam vida. Descubra agora