one shot

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eu sou uma pessoa muito insegura comigo mesmo, penso que não consigo fazer nada direito e a única coisa que me salva disso é pintar. simplesmente me alivia de tudo o que existe em volta do meu ser.

com medo e dor me atormentando, fugi para aliviar a cabeça. pensei em ir até a praça, mas na verdade, eu nem sabia para onde estava indo... quando olhei para frente, me vi em um campo, cheio de flores coloridas, árvores grandes e espalhadas, um céu limpo, sem nenhuma nuvem, um sol incrivel e um silencio divino. por algum motivo, aquilo me lembrou Van Gogh. peguei meu caderno e materiais que sempre tenho comigo e comecei a fazer um belo desenho daquela paisagem inspirada em Noite Estrelada. os traços semelhantes ao meu pintor favorito.

eu não me recordo quando Van Gogh se tornou um exemplo na minha vida, mas sei que era uma criancinha quando podia escutar o grito de meus pais a quilometros de distância, e resolvi mexer no computador que havia ali. me deparei com um quadro muito lindo e comecei a pesquisar sobre pinturas e, desde então, pintar virou uma terapia.

eu mostro meus sentimentos, minhas emoções, minhas dores e meus problemas através do pincel.

escuto um barulho no campo em que estava, e quando olho para o lado, vejo uma pessoa fazendo exatamente a mesma coisa que eu, pintando. ele percebe que estava o encarando, e se aproxima de mim, sentando ao meu lado sem falar uma palavra. apenas ficamos ali, ouvindo as respirações concentradas e o barulho do pincel molhando a tela.

depois de alguns minutos, ele resolve quebrar o silêncio.

- eu também gosto de van gogh, reconheço os traços que está usando. - ele diz, agora, olhando para mim. seu rosto era muito lindo, tinha as bochechas gordinhas, os cabelos na testa deixava ele muito fofo, o pescoço manchado de tinta azul o deixava admirável, os olhos tão brilhantes como as estrelas. - aliás, me chamo jisung.

- minho. - eu digo e ele sorri, e foi ali, naquele momento, que eu vi o sorriso mais lindo de toda a terra...

no dia seguinte, quando não havia ninguém em casa, fui novamente para o campo. dessa vez, estava nublado, mas a vista ainda era maravilhosa.

sair para pintar era o que me dava inspiração, então decidi pintar mais um quadro e novamente ele estava lá. ele se sentou ao meu lado e começamos a pintar e conversar um pouco. ele contou o motivo de ter começado a pintar e eu contei o meu. descobri que ele gosta de ler e quando não está pintando, está lendo em alguma cafeteria pela cidade.

- sabe, antes de começar a pintar, meus pais queriam que eu fizesse faculdade de medicina, mas nunca foi minha cara. sou o tipo de pessoa que se algo desse errado com o paciente, eu nunca iria me perdoar. mas ai eu descobri a pintura e decidi seguir com isso.

- como seus pais reagiram? - perguntei agora olhando para ele, depois limpando o pincel para pegar outra cor.

- não gostaram nenhum pouco. - ele disse rindo, tentando aliviar sua dor. - mas eu sou maior de idade, e já tinha planos para me mudar para cá, então só fui embora. te falei que sou de busan, né?

- sim. - quando olhei para ele, o mesmo já me encarava. ficamos um tempo apenas nos descobrindo.

estava encantado. nunca havia observado uma pessoa tão bonita e tão... expressiva. seus olhos mostravam tudo que ele queria dizer.

- hm... e você? por quê começou a pintar? - ele mudou de assunto, agora olhando para frente.

contei que o meu motivo de pintar era por ser um refúgio. ele pediu o por que e contei o que estava acontecendo, em relação as minhas inseguranças e medos.

- olha, as pessoas são campos como esse em que estamos. ontem, estava sol, flores coloridas e um silêncio, também conhecido como paz. e pense que... as nuvens são nossos medos, inseguranças e traumas. hoje, você está afetado pelo que está passando, e essas nuvens atrapalharam o seu sol. pode acontecer uma simples chuvinha, ou trovões altos e fortes. deixe que amanhã o sol brilhe novamente no seu campo, irá saber o que fazer.

a paisagem da nossa vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora