Os meus pés estalavam contra a calçada ao ritmo de um remix da Black Widow de Iggy Azalea. O vento enquadrava o meu rosto como diariamente fazia, o meu olhar focava-se num ponto inexistente enquanto a minha mente perseguia os milhares de pensamentos que me varriam.
Fiz a minha paragem do costume no Canto do Zé onde a D. Miranda já me esperava com o sumo de laranja habitual e o jornal do dia repousado numa das mesas do pequeno café.
"Bom dia menina, como está a correr a corrida?" perguntou-me com a sua voz calma e amigável.
"Cansativa, Miranda, demasiado exaustiva." tentava limpar o suor existente na minha cara antes de cumprimentar a mulher do dono do café "Nunca devia ter parado de correr por dois anos, agora pareço uma velha!"
Sentia já o meu top molhado devido ao meu suor provocado, maioritariamente, pelo escaldante sol que pousava hoje pelas ruas de Lisboa.
Falta pouco, repetia para mim mesma. Como se palavras fossem acalmar o cansaço que se apoderava de mim.
Corria, já com menor moderação, quando o filho do Sr. George, meu vizinho, se junta a mim no final da minha dolorosa mas necessária corrida matinal. Ninguém falou, como usual. E eu nem sabia o nome do rapaz que, todos os dias, me acompanha no último quilómetro da minha corrida e, quando me deixa em casa a poucos metros da sua, me deseja um bom dia com o seu adorável sorriso.
Paro junto à porta de entrada procurando pela chave de casa num vaso de jardim enquanto, discretamente, aprecio o moço da casa ao lado. O seu cabelo castanho escuro deitava pequenas gotas de suor e os seus olhos cor de avelã, mesmo não os vendo, sei que piscam freneticamente devido à junção do suor e do sol. Como te conheço, mesmo não fazendo ideia de quem és.