ℂ𝕒𝕡í𝕥𝕦𝕝𝕠 -𝟙

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Millie

-Alguém respondeu ao nosso anúncio.

Lanço um olhar por cima do laptop, fazendo uma cara meio frustrada.

Parte de mim esperava que ninguém respondesse, que eu pudesse de algum modo me arranjar sozinha.  O calor do computador está cozinhando minhas pernas, mas não me preocupo em tira-lo dali. É trabalho e aquecimento de inverno num só pote.

-Você não devia deixar essa coisa tão perto, sabia? -Finn bate na tela enquanto passa a caminho do armário. Tira o  Wok.- Esses lances.

Eu o adoro por ele cozinhar, por ele se importar.

-O ultrassom diz que ela já tem todos os braços e pernas, para de ser preocupar. - eu já mostrei a ele as imagens da ultrassonografia uma dezena de vezes. Até agora, ele faltou todos os meus exames. -mudo desconfortavelmente de posição e coloca o computador sobre o velho sofá afundado ao meu lado. 

Millie: não esta interessado em quem respondeu o anúncio?

Finn: claro que estou, diga!

Finn joga óleo na janela. Ele faz bagunça quando cozinha. O anel de chamas azuis salta para a vida, no momento em que ele liga o bico de gás ao máximo. Morde o lábio inferior e joga pedaços de frango na  wok. A fumaça é sugada pelo exaustor.

Millie: Uma mulher chamada, Iris Apatow -falo mais alto do que chiadeira. Vasculho os detalhes no e-mail outra vez- aqui diz que ela tem muita experiência e todas as qualificações adequadas.

Vou telefonar depois, para sondar qual é a dela. Preciso mostrar disposição, ainda que ter uma estranha em casa não seja uma ideia particularmente agradável. Sei como Finn se preocupa por eu ter que cuidar de tudo quando ele estiver longe novamente. Ele tem razão, é claro. Vou precisar de ajuda.

Nosso papo sobre babá é subitamente interrompido por ruídos, confusão e gritos vindos da sala de visitas. Levanto-me do sofá, pernas abertas e mãos na lombar para evitar que minha coluna ceda. Ergo os braços para deter a investida de salvamento de Finn.

Millie: Tudo bem, eu vou.

Finn parece pensar que sou incapaz de fazer qualquer coisa quando ele esta em casa. Provavelmente porque da ultima vez que me viu eu não estava do tamanho de uma casa.

Millie: Jane, Will, oque esta acontecendo?

Estou na porta da sala de visitas. Os meninos erguem o olhar para mim. desconsolados, tiveram que recuar nos estágios iniciais da guerra. Will tem algo duro e amarelo grudado no canto da boca, Jane esta brandindo o revolver de brinquedo do irmão.

Só deixo que eles se divirtam com brinquedos desse tipo quando Finn esta em casa. Ele não vê problema. Em outras ocasiões, fico tudo trancado no armário. Armas de brinquedo foram uma assunto polemico naquele jantar horrível, já alguns anos, não muito depois de eu ter conhecido Finn. Eu queria que todos os amigos dele gostassem de mim, que não fizessem comparações, que confiassem que eu tinha minha própria coleção de instintos maternais quando chegasse o momento de criar meus filhos recém-herdados.

-Como você lida com esse tipo de gêmeos. Millie? -perguntou uma das mulheres quando declarei que não gostava de ver crianças brincando com espadas e revolveres.

Deus sabe quantos meninos perturbados vejo em meu trabalho para ter aprendido que há coisas melhores que eles poderiam fazer com seu tempo.

-Deve ser difícil ser mãe..... sem ser uma -conclui ela.

Eu poderia ter lhe dado um tapa.

Millie: Will, venha aqui! -digo, e faço o impensável.

Lambo um lenço e limpo sua boca, ele se contorce e se manda. Olho o revolver na mão de Jane. Toma-lo dela causaria um grande incidente. no tal jantar, expliquei debilmente que, como madrasta de gêmeos que perderam a mãe biológica para o câncer, eu acreditava que isso me dava o direito de me considerar mãe deles -mas, na ocasião, ninguém se importou realmente ou prestou atenção. O assunto fora adiante.

Aᴛé ᴠᴏᴄê ꜱᴇʀ ᴍɪɴʜᴀ -FɪʟʟɪᴇOnde histórias criam vida. Descubra agora