ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ𝗣rólogoㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ

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Você já teve um dia ruim, não é? Aqueles em que o despertador não toca, o pão praticamente pega fogo na torradeira e você lembra tarde demais que todas as suas roupas estão encharcadas, esquecidas na máquina de lavar? Aí você entra correndo na escola, vinte minutos atrasada, rezando para ninguém notar que seu cabelo parece o pelo de um cachorro depois de tomar um bom banho, mas bem na hora em que senta no seu lugar, a professora berra um "Atrasada hoje, Emily?" e todos na sala te olham, dando aquelas risadinhas debochadas.

Aposto que você já teve dias assim. Todos nós temos. Mas e quanto aos dias péssimos? Aqueles tão tensos e horríveis que trituram as coisas de que você gosta só pelo prazer de jogá-las na sua cara?
O dia em que descobri que iria morar com o meu pai se encaixa perfeitamente na categoria dos péssimos, mas na época, isso era a menor das minhas preocupações.

Eu tinha terminado o ensino médio duas semanas antes e estava voltando com minha mãe de uma consulta médica dela. O silêncio se expandia dentro do carro, exceto pelo comercial no rádio. Naquela manhã, eu havia feito 18 anos e iria começar a minha fase adulta e não conseguia acreditar em como aquilo se tornara insignificante.

Minha mãe desligou o rádio e olhou para mim, pelo reflexo do retrovisor.

ー Como você está, meu bem?

Sua voz estava calma, mas quando olhei para ela comecei a chorar de novo. Ela estava muito pálida e magra. Como eu não tinha notado que ela havia emagrecido tanto?

ー Não sei - respondi, tentando manter a voz calma.

ーAcho que ainda estou em choque.

Ela assentiu, parando no sinal. O sol fazia de tudo para nos ofuscar, e eu olhei diretamente para ele, mesmo com os olhos ardendo. Esse é o dia em que tudo vai mudar, pensei. De agora em diante, haverá o antes e o depois de hoje.

ー Emy, e se você passasse as suas férias com a tia Claudia desta vez?

Eu me virei para ela.

ー O quê?

ー Talvez seja bom para espairecer os pensamentos. Até porque já faz muito tempo que você não vê o Dustin, vai ser bom para os dois matarem a saudade um do outro. Lembra daquele natal? Todos estavam na sala e você e o Dustin se trancavam no quarto e jogavam aquele joguinho de mágica, qual o nome mesmo?

Não se esqueçam de que tínhamos acabado de receber a pior notícia do mundo. A pior.

ー...D&D, jogávamos D&D.

Nós amávamos mais que tudo, jogar um Rpg de mesa chamado Dungeons & Dragons, que era um jogo do interpretação de papéis. A distância nunca nos impedia, sempre nos falávamos por telefone ou por meio de cartas, mas não era a mesma coisa que conversar ou jogar pessoalmente.

[...]

ー Talvez quando você voltar, você possa morar com ele.

O meu sangue congelou e eu não conseguia responder, apenas continuei a encarar com descrença. Eu não queria conhecer ele, ainda não...

ー Como?...

ー Falei que quero que você vá morar com o seu pai. Depois.

Aquilo chamou minha atenção. Para começar, eu não acreditava no depois. Sim, o câncer da minha mãe estava progredindo exatamente do jeito que os médicos explicaram que aconteceria. E tem outra coisa: morar com o meu pai?

ー Mas por quê? - Perguntei, sem ser grosseira.

Era importante não contrariar minha mãe. Evitar estresse ajuda na recuperação.

ー Não quero que fique sozinha...quando eu for.

Olhei o botão para chamar as enfermeiras. Ficar com um homem desconhecido e a nova família dele? Será que tinham dado morfina demais a ela?

ー Emy, olhe para mim - Ela usou seu tom autoritário que dizia "Mocinha, eu sou a sua mãe".

ー Isso é sério?

Eu olhei para ela, e de repente comecei a ficar ofegante. Minha mãe estava falando sério. Será que tinha algum saco de papel por ali?

Ela balançou a cabeça, com os olhos brilhando.

ー Vai ser...difícil. Não precisamos falar disso agora, mas queria que você ouvisse de mim mesma sobre essa decisão. Você vai precisar de alguém. Depois.

ー Mãe, isso nem faz sentido. Por que eu iria morar com um desconhecido?

Eu me levantei e comecei a vasculhar as gavetas na mesinha de cabeceira dela. Devia ter um saco de papel em algum lugar.

ー Emy, sente-se.

ー Mas, mãe...

ー Sente-se. Você vai ficar bem. Você vai conseguir. Sua vida vai seguir em frente e vai ser maravilhosa.

ー Não. Você vai conseguir. Às vezes as pessoas se recuperam.

ー Emy, ele é um homem maravilhoso. Você vai amá-lo.

ー Duvido. E se ele é um homem tão bom assim, por que ele foi embora?

Desisti de encontrar um saco, então me joguei de novo na cadeira e coloquei a cabeça entre os joelhos.

Ela se sentou com dificuldade, depois estendeu a mão, tocando as minhas costas.

ー As coisas eram meio complicadas entre nós, mas ele quer conhecê-la. E disse que adoraria que você ficasse com ele. Prometa que vai tentar. Pelo menos por alguns meses.

Bateram à porta. Nós duas erguemos o rosto e vimos uma enfermeira com um uniforme azul-bebê.

ー Só vim checar como vocês estão - disse ela, cantarolando.

Ou estava ignorando ou não percebeu minha expressão. Numa Escala de Tranquilo a Tenso, o quarto estava mais ou menos 1 para 1000.

ー Bom dia. Emy, a hora da visita acabou, você pode voltar amanhã às 6:00, tudo bem?

Olhei uma última vez para minha mãe, que deu um sorriso fraco antes de me retirar do quarto, suspirando.

Talvez ela tenha razão, mas com certeza depois das férias. Preciso de um tempo, e sei exatamente quem me faria sair um pouco da realidade: Dustin.

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𝗡𝗼𝘁𝗮𝘀 𝗱𝗮 𝗮𝘂𝘁𝗼𝗿𝗮!

Sim. Eu mudei a história toda, me perdoem, eu não consigo me decidir!! Minha inspiração para a história da protagonista é de um livro chamado "𝗔𝗺𝗼𝗿 𝗲 𝗚𝗲𝗹𝗮𝘁𝗼", o meu preferido, confesso. 🤭

Resumindo o prólogo: Emily finalmente descobre o problema de sua mãe, ela tem câncer terminal, e no meio dessa bagunça toda, a mãe dela faz uma decisão: Emy irá morar com o pai. Porém ela tem a escolha de passar as férias com o primo, Dustin. E quando voltar, irá morar com o desconhecido paternal.

𝐋𝐄𝐓 𝐌𝐄 𝐈𝐍𝐓𝐎 𝐘𝐎𝐔𝐑 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓 - 𝙀𝙙𝙙𝙞𝙚 𝙈𝙪𝙣𝙨𝙤𝙣Onde histórias criam vida. Descubra agora