O pesar do concebível vazio das emoções e o valor do precioso amor real

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- Como você lida com isso?

- É difícil saber. Acho que muito de nós é apenas uma resposta inconsciente para sobrevivência, ao ponto de que bastante do que se passa conosco não conseguimos expressar.

- Como quando nosso cérebro renega alguma lembrança que nos faz mal? Dessa forma é como um sistema de defesa, ele nos esconde certas coisas para não revivermos traumas ou momentos que façam mal para nós mesmos.

- Acredito que nossa mente está em eterna tentativa de nos deixar vivos. Talvez o medo, a dor, sejam apenas mais recursos para que possamos chegar até o próximo dia.

- A ansiedade, por exemplo, vem do medo. Medo que se origina desse método de conservação da nossa vida.

- O erro pode não ser dos sentimentos em si...

- E sim do método.

- Exatamente. É como se houvesse realmente uma progamação de defesa da nossa mente e corpo, fazendo com que nosso cérebro inconscientemente nos proteja de possíveis perigos.

- Mas...

- Mas não é um sistema perfeito. Vamos fazer um paralelo com um anti-vírus e um computador. O anti-vírus existe para defender a máquina de malwares que estejam nele, e também prevenir de que novos problemas aconteçam. Sendo assim ele te avisa se você estiver baixando algo que irá danificá-lo.

- Nessa analogia o aviso seria nosso medo.

- Isso. Ou até nossa ansiedade. Seja o que for, o importante é que se você estiver prestes a instalar algo malicioso em seu PC, o anti-vírus irá te avisar de todas formas possíveis para que não faça isso, inclusive tentará te impedir caso ignore os avisos.

- Sendo assim...

- Sendo assim quando sentimos um frio na barriga, um receio, apreensão, enfim...É nosso sistema de defesa falando "cuidado".

- Tá, só que o ponto é...

- O ponto é o seguinte, se você estiver instalando um aplicativo crackeado em seu computador, o anti-vírus irá ver isso exatamente como um malware padrão. Mesmo que seja apenas um aplicativo pirateado e que não vai fazer mal para a máquina. Para ele não há diferenças.

- Já entendi.

- É isso...Assim como o sistema de proteção dos computadores é falho, o nosso também é. Ele avisa quando há algo errado, e o modo de avisar é despertando sentimentos que nos faça sentir desconfortáveis. Mas assim como "uma ameaça detectada", muitas vezes essa proteção aperece em momentos errados, que não nos oferecem um perigo real. Ou até mesmo em situações que precisamos fazer algo, mas nosso corpo não permite.

- É como apresentar um trabalho para toda a turma. Você precisa fazer para ganhar os pontos, mas sente medo da reação dos outros, ou até mesmo receio de falar ou fazer algo errado, o que acaba te impedindo de prosseguir com algo que é necessário.

- Perfeitamente. A ansiedade parece agir quando não deve, afim de nos proteger de perigos que muitas vezes nós mesmos criamos.

- Pois é...Lidar com sentimentos é mais complexo do que podemos imaginar, não?

- Indubitávelmente. Muito de nós é um mistério, quando começamos a questionar certas coisas tudo parece cada vez mais estranho.

- É compreensível...Já se sentiu como um robô? Sabe, como se tudo fosse progamado. Isso tira todo valor que há nesse mundo, pois se tudo for apenas um script, os sentimentos são...

- Vazios. Os sentimentos são vazios. Se somos progamados para amar, então o amor não tem valor. É apenas algo que fazemos pois alguém nos fez fazer.

- Mas isso não seria algo natural? Amar seria da nossa natureza, algo simples.

- Nessa hipótese não. Isso não é natural. Imagine fabricar uma boneca, como aquelas caras que se você apertar a barriga dela ela fala alguma frase. Se ela disser: "eu amo você", ela não falará porque te ama, falará pois foi progamada para dizer isto para qualquer um que aperte um botão específico. Não importa quem você é, ela dirá que te ama. Isso não é natural, entende?

- Acho que entendo. O natural é algo que nasce de convivência, relações e experiências. Não é algo progamado.

- Perfeito.

- Isso é meio triste, não acha?

- Acho. Mas eu não acredito nessa hipótese. Acho que não fomos progamados exatamente para amar. Para e pensa, você ama todas as pessoas que você conhece?

- Definitivamente não.

- Pois bem, eu também não. Existem pessoas que eu gosto, pessoas que eu abomino, pessoas que desprezo, pessoas que para mim são indiferentes...Diversos sentimentos com cada pessoa diferente. E é isso que dá valor ao amor, ele é algo raro, nós tratamos com naturalidade mas pense em quantas pessoas você já viu em toda sua vida, são quantas? Milhares? Talvez milhões, quem sabe. O fato é, de todas essas pessoas, de todas as quase 8 bilhões de vidas na terra, quantas você realmente ama? São tão poucas se comparadas, não é? Por isso o amor é raro, ele é valioso.

- Mas e todas outras pessoas? Se eu não amo elas eu sou um pouco desumana?

- Claro que não. Você não é obrigada a amar ninguém. É necessário respeito e empatia, mas o amor é outra coisa, tem um significado diferente. Mas não quer dizer que você odeie todo o resto, de forma alguma.

- Sabe...É por isso que eu amo você. - Cochichou Atena.

- É por isso que você é tão rara e especial para mim. - Respondeu Sarasvati.

As garotas sorriram, cada uma das duas se ajeitou em suas prórpias cobertas novamente, apagaram a luz do abajur que estava em cima do criado-mudo que ficava entre as camas das meninas. E assim, com o silêncio das duas amigas, e a chuva dos céus chorando por seu amor, elas finalmente puseram-se a dormir.

As linhas de AtenaOnde histórias criam vida. Descubra agora