CEDO O SUFICIENTE PARA o campo ainda estar coberto por uma fina camada de névoa, mas não tão cedo para impedir a pequena atleta de começar seus treinos.
Apanhar a bola. Brandir a crosse. Mirar.
Gol.
Como a treinadora Ray havia dito, um verdadeiro talento nato. Em campo era como se todo o restante desaparecesse, exceto aquelas vinte e três meninas em seus uniformes escarlate. Seu coração batia mais forte, o suor e a fadiga não eram incômodos, e os aplausos da torcida a cada vez que acertava era música para seus ouvidos.
Não queria que aquilo acabasse nunca.
A jogadora parou no meio de um lance, novamente, pegando o olhar indiscreto da outra assistindo na arquibancada. Todos os dias ela estava lá, socada em seu casaco bege alguns números maiores e fingindo anotar algo em um fichário. Sabia que era desculpa para assisti-lá jogar, e especialmente naquele dia, notou que se sentia corajosa o suficiente para encarar sem vergonha alguma.
— Está machucando seu ombro!
A jogadora parou, franzindo as sobrancelhas. De longe, pouco conseguia distinguir na expressão interessada da menina, apenas sua coroa de cachos marrons presa em um penteado que, muito provável, a mãe fizera. Não sabia dizer ao certo, já que sua mãe não estava exatamente presente para poder ditar o que era comum.
— O quê? — gritou.
— Você. Está. Machucando. Seu ombro! — a outra repetiu, mais alto. Era possível notar um forte sotaque em sua voz pausada.
A jogadora olhou para a crosse em mãos, apertando os dedos em volta da haste. Sem luvas, conseguia sentir perfeitamente a superfície fria.
— É mesmo? — riu.
Conseguiu sentir a mudança de atitude da menina quando decidiu largar o bastão e se aproximar. Algo nas bochechas cheias e coradas, os olhos da cor do cabelo e na luz pobre do Sol a cobrindo deixaram a jogadora na mesma situação enrubescida. Timidez correu em suas veias como a adrenalina de segundos atrás.
— Entende de lacrosse? — indagou baixinho, coçando a nuca.
A menina arregalou as orbes quentes quando a outra se inclinou para perto. Era apenas um gesto impensado, algo que fazia para escutar melhor devido a pequena lesão recente no ouvido esquerdo, mas notou o desconforto que causou, se endireitando de novo.
— Assisto com meu pai sempre. — a menina respondeu, torcendo nervosamente os dedos na barra da saia vermelha quadriculada. A jogadora mordeu o lábio inferior para não rir, achava que ninguém usava aquele uniforme por livre escolha — S-seu movimento se concentra muito no giro dos ombros, tente torcer o quadril da próxima vez também.
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FAKE GAME | ⚢
Ficção Adolescente¬ Viola Sovereigh vem de uma família abastada em uma cidade pacata de Ontário. Capitã do time de lacrose, a garota se vê pressionada em um meio social de aparências a ter um par para uma importante festa, e a primeira pessoa que vem a sua cabeça é s...