Minha avó sempre disse que quando nos sentimos arrepiados sem causa à vista significa que alguém que já se foi - um espírito - nos tocou de alguma forma. Sempre que ela dizia isso, imaginava-me recebendo um abraço de minha mãe. Mas acho ridículo, embora essa imagem venha à minha mente de maneira involuntária. Também não me orgulho em dizer que ela me tranquiliza um pouco.
Entretanto, foi essa imagem que veio à minha mente quando me deparei com meu teste de Runas. Foi como se minha mãe me dissesse Lucy você é muito burra.
Obrigada, mamãe. Sério. Reconfortante mesmo. Você é muito solidária. Tanto faz, de qualquer forma já sabia que era verdade. Runas! Onde já se viu?! De que vai adiantar na minha vida eu saber essa matéria idiota? Por acaso no dia em que eu morrer e for para o céu - quanto otimismo - Deus vai falar "Ah, sim, Lucy, ainda bem que você sabe runas. Só quem sabe runas entra no céu".
Lucy, sua burra!
Olhei para a esquerda, tentando camuflar meu desespero facial e fingir que não estava colando de Jennifer.
Tarde demais.
- Srta. Peterson! Levante-se e venha até aqui agora mesmo!
Congelei onde estava. Todos os meus adoráveis colegas ergueram as cabeças para espiar o que raios Lucy Peterson fizera desta vez para ser chamada a atenção... de novo!
Resolvi dar uma de santa.
- Está falando comigo, Sra. Edwards?
- Não, meu bem, estou apenas testando a sua capacidade de identificar seu nome em mais uma de minhas frases desnecessárias.
- Ah, sim.
- Não seja estúpida e me obedeça agora!
Suspirei audivelmente e me levantei da carteira de madeira, dirigindo-me à frente da sala. A punição para a cola, por ser uma infração não considerada tão grave, era apenas a humilhação. Apenas. Ok. Já havia passado por aquilo algumas vezes. Moleza.
- Você colava de sua colega? - perguntou-me Sra. Edwards.
Suspirei audivelmente, exalando tédio.
- Bom, para ser sincera, não - E olhei para Jenny. - Como você consegue entender essa letrinha, colega!?
Todos riram, inclusive Jenny. Mas a Sra. Edwards achou aquilo a deixa para descontar sua amargura em mim. Como se eu tivesse culpa de ela ser tão asquerosa.
- Olhe para seus colegas, Srta. Peterson.
Obedeci. Dezenas de pares de olhos me encararam de volta, como se eu fosse uma ameba mutante a ser devidamente analisada através de um microscópio. Meus colegas mal conseguiam esconder seus risos, e eu também não estava lá fazendo muita força, confesso.
- Agora repita comigo - sentenciou a Sra. Edwards, e eu quis lhe dar uma sapatada na cabeça quando sua boca grotesca se curvou em um sorriso de escárnio. - Eu (diga seu nome completo) sou uma trapaceira de quinta, pois quis me aproveitar dos esforços de Jennifer Smith para se preparar para o teste de Runas, quando eu mesma devia ter estudado. Poderia receber vinte e três chibatadas, mas serei poupada por ter uma adorável professora. Sinto vergonha de mim mesma e nunca mais farei isso de novo, com nenhum de vocês, meus colegas (e diga o nome de cada um deles olhando diretamente em seus olhos).
Ronquei na força para não rir.
- A senhora acha que tenho memória de elefante para me lembrar de tudo isso? Pelo menos vá falando pausadamente para eu repetir junto!
Meus colegas se acabaram em risadas, e eu sorri malandramente.
- A senhorita gostaria de ir ver o diretor, Peterson? Soube que ele está de muito bom humor hoje.
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À Procura de Lucy
ActionCapa By: @alinecdi Conheça a garota de cabelos amarelos e sujos que foi involuntariamente contra o sistema da pacata e isolada Snow Forest, uma cidadela localizada no centro de uma Floresta densa, fria e perigosa, a qual pouquíssimos tem coragem de...