-Violet Greenwood. - A secretária falou. Ela me olhava com os olhos cansados e com um certo desprezo na voz. Ela estendeu a mão e me entregou um envelope. Dentro dele continha um papel, que definiria se eu havia repetido ou passado.
Olhei para o envelope e suspirei. Candace olhava para mim.
Candace Lake era a menina mais popular do colégio. Ela sentava atrás de mim em algumas aulas. Não sei se eramos melhores amigas, mas nós conversávamos e nos dávamos bem. Normalmente, eu me sentava na mesma mesa que ela e as pessoas populares. Isso talvez desse a falsa impressão de que algum deles era meu amigo. Provavelmente a metade deles ignorava minha presença completamente. Talvez Candace tivesse pena de mim, por ser tão sozinha. Ela falava que eu era muito engraçada e as vezes ela me chamava para dormir na casa dela, onde ela me falava de seus namoros e sobre sua vida, sobre brigas com seus amigos populares e sobre vários assuntos, que não me interessavam, mas eu fingia ouvir.
-E então? -Candace perguntou, nervosa. Ela sabia que eu havia ido mal o ano inteiro. Ela pegou o envelope dela e começou a caminhar comigo em direção a porta. O dia estava nublado e bem frio.
Comecei a abrir meu envelope devagar. Eu já sabia o que aconteceria.
Então eu vi. Escrito. Em vermelho. Reprovada.
-Merda. - eu disse, olhando para o chão. Candace me deu um abraço e eu tentei retribuir. Eu nunca fui muito de abraçar.
-E-eu vou te ajudar, você vai conseguir. Não é o fim do mundo. - Candace falou e eu continuei olhando pro chão. Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto.
Isso não é justo. Eu me esforcei tanto.
-Eu tenho que ir. Parabéns. Por ter passado. - olhei para o envelope dela, que dizia APROVADA. Suspirei e olhei pro céu. Havia começado a chover. Coloquei meu capuz na cabeça e corri até onde havia deixado minha bicicleta e pedalei.
Eu não chorava mais. Eu só sentia dor. Eu estava um ano mais longe de sair desse inferno. Dessa cidade minúscula. De onde tudo o que importa e o quão popular você é. Ou se você é esperto o suficiente para um dia ter chances de sair dessa cidade e ir encontrar alguma coisa pela qual realmente valesse a pena viver.
Eu não me enquadrava nessa última opção.
Respirei fundo e me lembrei de uma ideia que eu havia tido, a algum tempo. E não saia mais da minha cabeça.
Fugir. Ir para Nova York. Sair em busca de uma aventura. Sair em busca de Violet Greenwod.
Eu não tinha nada a perder. Meus pais ligam mais pra quem eu aparentava ser do que para quem eu realmente era. Eles acham que eu andar com Candace significava que eu era popular e tinha muitos amigos. E as notas. Eram um problema. Nós brigávamos muito por causa disso. Eles não entendem que eu me esforço.
Não quero nem mais pensar sobre notas.
Cheguei em casa e subi correndo as escadas até o meu quarto. Eram três horas. Meus pais chegavam as seis.
Sentei na minha cama e pensei por um pouco mais de dez minutos se realmente faria isso.
Na pior das hipóteses, eu voltaria pra casa no dia seguinte e falaria que dormi na casa de Candace.
"O que levar quando se vai fugir de casa?"
Merda. Eu não sei.
Peguei minha mochila vermelha escuro e esvaziei. Tirei todos os livros da escola, lápis e canetas.
Abri meu armário e peguei uma calça jeans. Eu estava usando uma calça jeans quase preta. Com essa, seriam duas calças. Peguei seis camisetas. Com a que eu usava, eram sete. Eu peguei as melhores que eu tinha mas que não chamavam muita atenção, com o tecido que duraria mais e que não pareciam ser baratas. Quando se foge de casa, não se quer parecer desleixada.
Coloquei na minha mochila um par de chinelos. Eu usava um tênis. Com isso eram dois calçados. Peguei um moletom bem quente. O inverno estava começando a chegar. Se eu realmente fosse para Nova York, esse casaco aguentaria o frio. Coloquei na mochila um casaco parecido com o que eu estava usando, só que ao invés de cinza escuro, azul. Era um casaco normal, daqueles com capuz atrás e nada desenhado ou escrito, que possui um zíper.
Peguei também uma blusa xadrez, um chapéu preto, um óculos escuros em forma de coração, pois foi o primeiro que achei. Logo depois achei um preto, levemente arredondado, e coloquei na mochila também. Coloquei também minhas lentes de contato. Todas as que eu havia comprado. Eu usava óculos de grau havia um tempo. Mas as vezes eu usava lente. Não sei. Eu não tinha muito tempo, fui jogando na mochila o que julguei importante.
Peguei um gorro cinza e joguei na mochila. Ela estava levemente cheia, mas ainda cabiam algumas coisas. Peguei um cachecol cinza escuro e um livro que eu havia comprado a pouco tempo.
"Violet você tem que estar preparada pra tudo" pensei. Lembrei-me de um kit de costura que havia pegado de um hotel quando fui visitar minha avó a um tempo atrás. Era bem pequeno, metade da minha mão.
Joguei na mochila, junto com uns cinco elásticos de cabelo. Aproveitei e prendi o meu em um rabo de cavalo, de modo que só a minha franja ficasse para frente.
Olhei para o meu armário e vi um vestido curto, apertado, que Candace me fez comprar. Dei de ombros e coloquei na mochila. Coloquei também um estojo com uma sombra preta, um pincel, base e um batom vermelho.
Eu raramente usava maquiagem. Mas eu estava indo para Nova York. Eu iria parecer apresentável. Eu acho.
Peguei umas dez calcinhas e uns tres sutias e coloquei, junto com uma toalha, na mochila , que estava bastante cheia.
Fui até a cozinha e peguei uma garrafa de água de quando eu era menor. Podia encher em restaurantes, de graça. Ela era rosa e estava escrito "Have You Hugged Someone Today?". Dei de ombros e enchi com água e coloquei na mochila, agora lotada.
Fui até meu quarto e procurei uma daquelas bolsas que parecem uma sacola, com um fecho em cima. Achei uma bege com detalhes pretos e vinho, com um gato desenhado no lado. Ela era bem grande e tinha um zíper. Iria servir.
Peguei um cobertor e enfiei na sacola, junto com oito pacotes de biscoito de água e sal, um de óreo, três barras de chocolate, algumas maçãs, fósforo, um kit pequeno de primeiro socorros, com bandaid, remédios para dor de cabeça, alguns absorventes, uma lanterna e alguns lencinhos.
Eram cinco horas. Eu só tinha mais uma hora.
Corri até o quarto dos meus pais e peguei o dinheiro de emergencia. Dois mil dólares, com os setecentos que eu tinha em meu cofrinho e alguns trocados. Coloquei tudo em uma carteira junto com meus documentos: o verdadeiro, que mostrava minha idade real, 16 e um falso que dizia que eu tinha 21. Coloquei uma escova de dente, escova de cabelo, desodorante e pasta de dente em uma necessaire e coloquei tudo isso na sacola.
Peguei um canivete e coloquei no bolso. Lembrei de uma almofada, que meu pai tinha, de encher. Peguei e coloquei na sacola. Não podia esquecer de nada.
Ah claro. O bilhete. Eu não podia fugir sem dizer nada.
Merda. O que eu falo.
"Queridos pai e mãe. Eu fui em busca de mim, eu preciso me encontrar. Em um tempo darei notícias. Amo vocês. Espero que vocês entendam.
PS: Desculpa ter reprovado. Aqui meu celular. Eu sei que vocês iam me colocar de castigo. Então aqui está."
Fiz uma xícara de chá e dois sanduíches. Um para agora e um coloquei na sacola. Comeria no trem. Peguei meu ipod e um fone de ouvido. Não levaria celular.
Sai de casa e andei até o ponto de ônibus. Não tinha mais volta agora.
Acordei pelo motorista. Ele mandava todos descerem e eu havia cochilado. Olhei para o relógio. Eram sete e meia. Meus pais haviam chegado a essa hora. Será que haviam lido o bilhete ou esperavam por mim?
Aventura, Violet.
Andei até onde se compravam bilhetes de trem e a moça me cumprimentou.
-Boa noite. Eu quero uma passagem para Nova York, de trem. O das oito e quinze. - olhei e vi que ao seu lado, haviam mapas a venda. Peguei um.
-São sessenta dólares. - ela disse e eu paguei. Agora, oficialmente, não havia mais volta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Adventure Seeker
Teen FictionO mundo de Violet está desabando. Toda pressão para tirar notas boas, ser bonita, ter vários amigos, ser popular, ter tempo para ficar com a família e para ir para festas, ser obediente e fazer tudo o que mandam está matando Violet aos poucos. Então...