Jisoo não conseguia ver quase nada fora da fumaça que escapava por seus lábios, o corpo quente de Lalisa descansava sobre o seu e nada além daquilo parecia fazer sentido. O cheiro de cigarro estava impregnado em seus dedos há tempo o suficiente para não se lembrar de como era antes, as mesmas mãos que tocavam a pele macia da tailandesa com esmero, que se perdiam em seus longos cabelos castanhos e refaziam os traços de seu rosto porque sabia que aquele carinho a faria adormecer rápido o suficiente para que não sentisse o cheiro asqueroso da nicotina se espalhando por todo o cômodo. Era lua cheia, aquela regra parecia não se aplicar, os olhos castanhos estavam perdidos nos lábios com o formato sutil de coração, dedos esguios deslizando por seu maxilar, passeando pelo pescoço com resquícios de suor e terminando na região da clavícula, a delicadeza morando na ponta de seus dedos, como se precisasse adorá-la para respirar e aquela fosse a sua melhor forma de o fazer. Cega pelo amor que via no olhar da mais velha, gentilmente mesclado com algo difícil demais para se decifrar, algo que fazia com que seus olhos de jabuticaba esbanjassem um tipo diferente de brilho, um que não encontraria no olhar de um estranho apressado em uma esquina movimentada, um que fazia seu abraço parecer o lar mais estranho em que ela já estivera.— Dorme um pouco. - a coreana insistiu com um sussurro baixo, mão direita ocupada em um carinho que alcançava toda a região das costas, a pele suada era mais agradável ao toque do que deveria ser, em silêncio, ela pedia para que algo em si passasse a odiá-la, seria mais fácil quando precisasse partir. Manoban negou em um murmúrio embolado em uma dúzia de sentimentos que não teria coragem de verbalizar, apesar disso, se aconchegou em Jisoo como se precisasse a sentir de perto, o primeiro passo para deixar o sono a arrastar para um lugar distante demais.
— Eu queria que você ficasse. - Lalisa insistiu, uma vontade cega de segurar o que não possuía, procurando maneiras de ter quem nunca chamaria de sua. Kim usou sua suavidade habitual para levar a mão direita da garota até seus lábios, o beijo que deveria ser em sua pele macia acabou exatamente sobre o belo anel que descansava ali, o diamante brilhava como se estivessem em um dia ensolarado, o peso insuportável se tornou escancarado o suficiente para ter a tailandesa corada, mas não o bastante para que retirasse suas palavras, mesmo que o eco fosse incômodo, era o que precisava dizer.
— Não percebe como é cruel comigo? - apesar da amarga escolha de palavras, a mais velha tinha um sorriso discreto nos lábios, como se fosse um detalhe insignificante, como se a cor do bolo e o tamanho do véu não estivessem decididos, prestes a serem colocados em prática, quarenta e oito horas antes da cerimônia, elas ainda estavam em sua bolha mágica.
— Eu jogo tudo fora, tudo o que você precisa fazer é pedir. - afirmou com certo desespero marcado em seu timbre, escondendo o rosto na pele tão branca quanto a neve como se pudessem se tornar uma só carne, unidas até o dia em que deixassem essa vida, prontas para se encontrar em alguma outra, uma onde não existiam empecilhos tão densos quanto um muro de concreto. Jisoo respirou profundamente, fechou os olhos enquanto a segurava, se permitindo, mesmo que por poucos momentos, imaginar um mundo onde tinha coragem o bastante para exigir isso, uma realidade onde Lalisa era sua sem amarras ou receios, o anel seria escolhido por ela e o casamento seria das duas, envoltas na bolha de amor delicadamente construída com encontros românticos e beijos sob a chuva de verão.
— Você sabe que eu não posso, Lis. - a frase escapou de seus lábios mesmo que doesse como o inferno, ela não aguentaria lidar com a possibilidade de ser um arrependimento para a garota que amava, estava evitando o momento em que Manoban olharia para trás e a culparia por ter descartado uma vida perfeita em troca de roupas com cheiro de cigarro e pouca estabilidade financeira e emocional, estava escolhendo pelas duas, a intensidade da dor não importava.
— Só fica comigo até o amanhecer. - foi o que Jisoo fez, marcando sua pele com mais alguns beijos e trocando juras de amor com prazo de validade definido, tentando ignorar o fato de que não a teria, ter consciência de que ela nunca fora sua causava certo peso em seu peito, mas não poderia fazer nada além de adorá-la e torcer para que fosse um pesadelo. Dois dias depois, Jisoo estava escorada em sua moto com um cigarro entre os lábios, assistiu de longe o momento em que a chuva de arroz banhou o casal sorridente como se lavasse seus pecados, amassou a bituca com a sola do coturno preto e arrancou com pressa, Lalisa viu um borrão roxo em algum lugar além da multidão e deixou uma lágrima amarga escorrer. Encontraria sua alma gêmea em outra vida.
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lisoo é o melhor shipp do bp (depois de ot4) e vou defender ate a morte
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stay
FanfictionLalisa era uma egoísta incurável e Jisoo precisava deixá-la ir, mesmo sabendo que nunca encontraria outro amor tão magnífico. (one-shot. lisoo.)