4 - Fé

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Ilha de Villskär — Costa ocidental da Finlândia — 950 d.C.

Eu estava vendado, precisava sentir de onde viria o golpe, ouvir a movimentação do ar, ver mais do que com os olhos, fui atacado pelo lado direito, me esquivei com facilidade, outro golpe veio do lado oposto quase que imediatamente, novamente eu me esquivei, estava ficando prático naquilo, cinco dias tinham se passado desde chegamos naquela ilha, sempre comendo animais caçados, frutas e peixes a vontade eu não passava mais fome, meus braços estavam mais firmes, eu estava conseguindo lutar bem, pude me imaginar como um grande guerreiro lutando ao lado de Yuno e dos demais com igualdade. Enquanto isso J saía todas as manhãs procurando por pistas da localização do aro, e voltava ao cair da tarde sem nada.

Uma paulada na testa me trouxe de volta a realidade, aquilo doeu bastante, quando eu tirei a venda Kaléa estava em minha frente com o bastão de madeira na mão.

- Se fosse uma espada você estaria morto.

- Desculpe.

- Desculpas não trazem as pessoas de volta a vida, não se distraia nunca.

Nesse momento levei uma rasteira de alguém atrás de mim, era Osha, não tive como me defender, cai para trás feito uma fruta madura.

- Não está ouvindo? Disse Osha. Nunca se distraia, ou você será morto.

Achei aquilo injusto, não devia prestar atenção ao que Kaléa me ensinava? Como poderia ouvir e continuar atento? Mesmo estando no chão eu estava feliz de ter duas boas professoras, com os exercícios que elas passavam toda tarde e as lutas que fazíamos para treinar eu me sentia mais preparado. Enquanto eu ainda estava me levantando Demétrius surgiu de entre as árvores e agarrou Kaléa pelas costas, eu e Osha nos entreolhamos, era um comportamento suspeito, será que já havia algo entre eles? Como se soubesse o que a gente estava pensando, Demétrius puxou Kaléa e a beijou nos lábios demoradamente, eu e Osha nos entreolhamos de novo, definitivamente havia algo entre eles, enquanto eles se beijavam sem previsão de parar eu e Osha ficamos esperando constrangidos. Eles combinavam, por incrível que pareça eram um casal bonito, ele com suas feições delicadas e olhos azuis, ela com seus traços selvagens e cabelo crespo, opostos e complementares, fiquei feliz por eles.

Eu estava suado, precisava tomar um banho, havia uma cachoeira a uns cem metros da praia, e a água era maravilhosa, estava a caminho, mas vi Yuno treinando e resolvi parar para admirar, ultimamente não tínhamos conversado muito, ela parecia distante e até evitava me olhar nos olhos, eu suspeitava que ela sabia que eu gostava dela, mas estava sem jeito de dizer que era só minha amiga, eu sabia que ela era demais pra mim.

- Oi, disse Yuno ao me flagrar espionando ela.

- Oi, você está cada vez melhor, sua pontaria é impressionante.

- Gostaria de ver uma coisa?

Meu coração sempre batia descompassado quando ela estava por perto, eu perdia a capacidade de falar, de raciocinar logicamente.

- Unhum, respondi.

- Venha comigo.

Yuno se afastou por entre as árvores na direção da montanha rochosa, passando por córregos de água, árvores antigas, um espaço aberto entre as árvores e finalmente chegamos a um penhasco, era uma pedra enorme e no alto, de cima podíamos ver o mar a uns quinze metros abaixo, era uma visão incrível, o sol estava se pondo no mar, o céu exibia traços em vários tons de lilás enquanto o dia ia embora e dando lugar às estrelas, que começavam a aparecer timidamente, o vento acariciava nossos rostos, era um cenário lindo para um primeiro beijo, mas quando pensei nisso meu corpo travou, e se eu tivesse entendido errado? E se ela não me deixasse beijá-la? E se ela me batesse e dissesse que somos só amigos? Não importa o quanto eu tentasse meu corpo não se movia, Yuno se aproximou de mim olhando nos meus olhos, era óbvio que ela queria ser beijada... Ou será que não? Meu cérebro se recusava a trabalhar.

O círculo da realidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora