Fogo baixo (capítulo único)

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Obito suspirou ao perceber de quem se tratava a figura esbelta que atravessava a porta do restaurante naquele final de manhã. Ele estalou um dedo num gesto nervoso, desde pequeno enfrentava aquele tipo de problema: Embora na maioria das vezes sociável, encontrava certa dificuldade quando o assunto era confortar alguém, de modo que se escorava em ações para demonstrar que sentia muito.

Naquele dia em específico, sua primeira ação foi segurar uma pequena caixinha de cannoli, sabendo o quanto Itachi gostava do doce.

— Esses são seus. — O mais novo comentou de forma vaga após a primeira mordida, sorrindo ao ver o rosto surpreso de Obito.

— Você sempre acerta!

— Isso porque o seu é o mais gostoso! — Confidenciou, vendo o outro revirar os olhos.

— Sabe que não precisa me bajular, né? Eu o avisaria que está aqui mesmo que me dissesse a verdade. — Ele resmungou, sua voz se tornando mais baixa à medida em que se afastava rumo a cozinha.

Não entendia tamanha formalidade, uma vez que Itachi visitava o irmão com frequência em seu ambiente de trabalho, mas não se incomodava em chamar Shisui, até mesmo porque se divertia em momentos como esse.

Com um sorriso zombeteiro, atravessou a porta dupla da cozinha, onde Shisui parecia concentrado, debruçado no balcão enquanto explicava algo para um dos cozinheiros da equipe, a postura respeitável como um cheff deveria ser. E Obito adoraria desfazer essa dita postura com o que tinha a dizer:

— Itachi está aí. — Ele revelou com prazer, as três palavras como um sopro num castelo de cartas desmontando Shisui pouco a pouco.

— O que disse, Obito?

O irmão mais velho revirou os olhos, ao que murmurava um "Você entendeu!". Shisui então se desculpou com o cozinheiro novato, dizendo que logo estaria de volta antes de entrar no escritório junto a Obito.

— Como ele está? — Perguntou preocupado.

Já sabia mais ou menos o que aconteceu, mas preferiu não forçar Itachi a dizer qualquer coisa, sabendo que o amigo viria até si quando se sentisse realmente pronto para isso.

— Por fora bem, mas você conhece o Itachi. — Obito cruzou os braços acentuando o porte elegante no uniforme de chef que vestia. — Mas não acha melhor ver por si mesmo, irmãozinho? Talvez até algo mais... — O homem deixou no ar, olhos negros brilhando provocativos para o irmão caçula, que revirou os olhos suspirando com enfado.

Ele então levantou apenas o indicador, gesto irritante que herdara de Hashirama nos momentos em que o pai costumava recitar alguma sabedoria popular italiana ou sermão. E quando a primeira sílaba saiu dos lábios bem feitos, foi interrompido pelo mais velho:

— Já sei, já sei, o lance do fogo baixo de novo, né? Já tô cansado dessa merda, nonna que me perdoe!— Obito gemeu cansado apenas à mera menção a fala alheia. — Resta saber se isso é sabedoria mesmo... — O chef antes de costas coladas à porta se aproximou do outro recostado à mesa como um gato, seu sorriso largo como o do próprio Cheshire. — Ou apenas covardia! — Finalizou quando os rostos se nivelaram, divertido com a reação do caçula, que cruzou os braços irritado enquanto um beicinho aparecia em seus lábios.

Obito ainda tentou morder o bico do irmão num gesto de provocação típico antes de ser empurrado do pequeno escritório enquanto imitava uma galinha.

Do lado de dentro enquanto esperava por Itachi, Shisui divagou:

Uma paixão ardente podia até ser atrativa num primeiro momento, mas Shisui estava convencido de que não era o que desejava naquele período de sua vida.

Fogo baixo (ShiIta)Onde histórias criam vida. Descubra agora