14 - O olho em chamas

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Mundo dos mortos - Era indefinida

A escadaria parecia não ter fim, descemos centenas de degraus, nas paredes de pedra as tochas agora tinham chamas azuis que iluminavam fracamente o caminho e a temperatura caía cada vez mais.

Quando os degraus acabaram chegamos a uma área ampla, ou pelo menos parecia ampla, pois a escuridão não deixava que víssemos mais do que alguns metros ao nosso redor.

Pegamos algumas lanternas e seguimos em frente, o chão de pedra que era largo de repente se afunilou em uma ponte de um metro de largura, dos dois lados um abismo de escuridão, não dava para enxergar o que nos esperava se caíssemos, assim como não era possível ver as paredes nem o teto, só dava para ver o caminho de pedra por onde devíamos avançar.

Depois de vinte minutos naquela ponte de pedra o chão voltou a se alargar e chegamos a um nevoeiro, estava muito frio e dava para ouvir murmúrios vindo da névoa, havia alguma coisa viva ali.

A névoa era densa e o lugar totalmente escuro, nossas lanternas não estavam ajudando em nada, mas nossa única opção era avançar, então calados entramos no nevoeiro. Eu sabia que estávamos perdidos, não havia mapas ali ou qualquer forma de se orientar, não sabíamos nem mesmo se sobre nós havia algum teto ou se estávamos a céu aberto, mas eu realmente duvidava que veríamos dali a luz do sol.

- Fiquem juntos, disse J e continuou avançando.

Eu começava a duvidar da liderança de J, ele não se importava com seus liderados e em situações críticas eu acabava assumindo involuntariamente, queria que a missão acabasse para não precisar ter essa responsabilidade.

Estávamos andando em fila indiana quando eu senti um toque gelado.

- Hey, gritei assustado sacando Kusanagi e todos se alarmaram cada um tomando suas armas.

A coisa que me tocou parecia uma pessoa, aparentemente não oferecia perigo, era como se a pessoa fosse feita de névoa, não dava para definir sua raça, nem o sexo, apenas os olhos eram parcialmente visíveis, não dava para ver seu rosto e muito menos ouvir o que falava. O homem névoa apenas passou por mim, como se não tivesse me notado, e seguiu em frente, parou a uns três metros e suspirou, murmurou algo incompreensível e voltou a se afastar se misturando novamente à névoa.

Percebemos que ele não era o único, a névoa era cheia de fantasmas sem rosto, pareciam eternamente entediados, murmuravam e suspiravam e continuavam andando sem verem uns aos outros e sem serem vistos.

Caminhamos por mais meia hora, não havia como ter noção alguma de direção sem enxergar nada e eu comecei a desconfiar que andávamos em círculos, até que a névoa começou a se dissipar e finalmente acabou. Diante de nós uma grande muralha de pedra, não dava para enxergar quão longa era aquela muralha e nem quão alta. Era uma espécie estranha de claustrofobia, apesar de não estarmos em um espaço fechado não ver totalmente o ambiente dava a impressão que estávamos presos na escuridão.

- Não devíamos estar aqui, disse Samir muito sério.

Não sei exatamente o porquê, mas eu concordava com ele, aquele lugar não parecia real, era como se fosse outra dimensão.

- Do que está falando? Perguntou J.

- Minha habilidade não funciona aqui.

Aquilo me alarmou, e se nenhuma habilidade funcionasse ali? Seria um problema sério.

- Eu continuo igual, disse Demétrius pegando uma rocha e esfarelando entre os dedos.

- Eu também posso ouvir a mente de vocês, disse Yuno.

O círculo da realidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora