43.

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Kaira.

Acordo em um lugar totalmente desconhecido e num quarto que, por possuir tamanha elegância, com certeza não é o meu.

No mesmo momento que faço menção de me levantar a porta do cômodo é aberta, revelando uma das últimas pessoas que eu queria ver no mundo.

Atacante: Tu tá bem? - Fecha a porta por trás dele vindo na minha direção com uma garrafinha de água em mãos.

- Eu pareço bem? - Tusso sentindo minha garganta arranhar e meu peito doer.

Foram dois dias sem água e comida, amarrada, passando frio e respirando aquele ar extremamente poluído.

Ele destampa a garrafinha e me oferece. Eu pego rapidamente dando alguns goles antes de passar a língua pelos lábios, sentindo eles descascarem.

Atacante: Vai pra onde? - Pergunta depois que eu levanto daquele colchão fofo me calçando.

- Pra minha casa. - Respondo e ele passa por mim e alcança a porta, trancando.

Atacante: Jota tá por lá, ô destemida.

- E daí?

Atacante: Tu é sadomasoquista? - Pergunta sério. - Tu vai voltar pra lá depois do que ele te fez? - Franze as sobrancelhas. - A fome e a sede já estão corroendo sua mente, porque não é possível.

Não consigo segurar a raiva pelo que ele fez comigo e ainda ter a audácia de fingir que se importa, sendo que menos de duas horas atrás ele tava me fazendo de escudo humano, e num impulso eu jogo a garrafa de água contra seu rosto, pegando no canto da boca e formando um corte ali.

- Pelo menos o Jota é previsível. - Falo vendo ele passar a mão, limpando o sangue. - Eu consigo saber do que ele é capaz, até onde ele vai. - Encaro ele que continua quieto com a mão no recém ferimento. - Já você é bem mais perigoso. - Constato. - Fingido pra caralho, uma bomba relógio que ninguém sabe quando vai explodir e se explodir o que vai fazer.

Atacante: Não importa o quão imprevisível eu seja. - Ele fala depois de um tempo em silêncio. - Nós dois sabemos que eu não ia matar você.

- Onde estou? - Encaro a piscina pela vista que a sacada proporciona.

Atacante: Minha casa na pista, condomínio do CV.

- O que vai ser da minha vida agora, meu Deus? - Falo comigo mesma, passando a mão no cabelo, e coçando a cabeça totalmente perdida em pensamentos.

Atacante: Aquele pau no cu quis te cobrar por se envolver comigo, não foi? - Assinto. - Solução vai ser tu se mudar pra minha quebrada visto que fui causador dessa parada aí.

- Não precisa ter pena de mim, odeio isso.

Atacante: Não é pena, pô, é realidade. Nós dois se envolveu por vontade própria mas eu tive iniciativa então sou maioritariamente culpado.

- Então tu só quer me ajudar pra aliviar a culpa que tá sentindo? - Suspendo a sobrancelha direita.

Atacante: Papo de transparência? - Balanço a cabeça positivamente e ele se escora na porta do quarto coçando a nuca. - Tipo isso.

- Escroto toda vida, né? - Forço um sorriso e ele bufa alto. - Achei que...

Atacante: Tu me conheceu assim, não foi? - Abre os braços me cortando. - Nasci assim e vou morrer assim. Isso aqui não é conto da princesa e o sapo não, acorda, tu não vai me mudar com um beijo ou uma foda, tá ligada?

Sinceramente mesmo eu não possuindo expectativa nenhuma ele conseguiu ficar abaixo das expectativas que eu não criei.

- Honestamente eu prefiro enfrentar seja lá o que o Jota estiver planejando fazer comigo do que aceitar sua ajuda pra aliviar a culpa que tá te corroendo. - Levanto caminhando na reta dele. - Licença, vou embora. - Ele destranca a porta afastando pro lado.

Atacante: Tanto faz. - Escuto ele falar antes de abrir a porta e dar de cara com o Mota vindo pra cá com uma bandeja cheia de comida.

- Obrigada, mas eu já estou indo. - Falo e ele me olha confuso antes de encarar o Atacante com a cara fechada.

Mota: Mete o pé, tua cara não esconde que, como sempre, tu fez merda. - Olha repreensoramente pra ele que sai levantando os braços como quem se rende. - Na moral mermo, liga pra esse filho da puta não, senta aí e come pra gente conversar.

- Se for sobre me mudar pro Alemão a resposta é a mesma que eu dei pro outro lá. - Dou uma garfada no bolo e como.

Mota: Eu... - Aponta pra seu próprio peito antes de continuar. - ...Mota, tô te pedindo de coração pra tu não aceitar por ele mas sim por mim. - Senta do meu lado. - Dona Maria e a Mel também acha que é melhor, não vai dar pra proteger vocês se tu continuar por lá.

- Nem fudendo que eu vou deixar elas lá, Jota é capaz de fazer alguma maldade pra me atingir por saber que elas são meu ponto fraco. - Balanço a cabeça em negação, assustada só de imaginar ele fazendo mal pra elas.

Mota: E tu acha mermo que eu ia deixar minha peituda e minha sogrinha lá à mercê do desgraçado? - Faz tsc com a boca. - Que nada, pô, elas concordou em meter o pé pro Alemão também e inclusive já estão lá, só que disseram que só ficam pra morar se tu for também.

- Nesse caso... - Suspiro dando um gole no suco de laranja. - Nada mais me impede.

Mota: Fechou. - Ergue a mão e eu bato minha palma na dele.

Inolvidável - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora