O céu já não era o mesmo, estava coberto por nuvens de carregadas, trazendo chuva ao solo, uma tempestade avassaladora. Mas ao olhar para elas, dava para perceber que o azul havia sumido, e dado entrada para o vermelho púrpura. Não um crepúsculo e nem um alvorecer, mas todo vermelho, como sangue manchado em uma camisa branca.
Ao olhar seu redor, havia várias pessoas: mulheres de todas as idades jogadas no chão formando uma montanha, uma enorme montanha de cadáveres, pálidas e despidas. Não era somente uma montanha, mas vários montes de corpos, e uma em especial, estava em sua frente. Todos aqueles corpos seguravam um trono. Trono qual já havia visto antes em sonhos. Caveira. Era totalmente feito com ossos humanos, com pequeno respingos de sangue saindo dos olhos vazios e escuros de cada caveira. Ao andar e aproximar da montanha, havia um objeto sobre o trono. Era uma coroa. Ouro branco, seis ponta, sendo a do meio a maior, e sua borda, um tipo de círculo peludo, envolvendo totalmente a circunferência da coroa. Mas algo naquela coroa era intrigante. Havia uma cobra enrolada sobre o objeto, rastejando e contorcendo. De repente, a montanha de mulheres mortas, se mexeu, saindo assim várias cobras das bocas de todas as mulheres, e indo em direção à ela.
Foi um raio de luz batendo em seu rosto, saindo da janela que fez Regina despertar deste pesadelo. Embora estivesse deitada, seu coração estava acelerado, estava com adrenalina a milhão, e a última coisa que queria era ter um ataque de ansiedade.
Regina se levanta. Ainda estava no mesmo quarto em que havia passado dois anos de sua vida inteiramente isolada do mundo. Mesmo trocando os móveis, renovando seu guarda-roupa, ainda sentia uma aperto no peito, ao olhar para a porta e se lembrar de vê Carolina pendurada e morta no quarto a frente. Morta por sua tia, que não teve piedade com uma garota que estava apenas protegendo a vida de alguém.
As janelas se abrem, permitindo assim entrar toda a luz da manhã. Era finalzinho de verão, e o sol já estava em seu auge, mesmo sendo sete horas da manhã. A vista do apartamento era lindo. Dava para ver as pessoas andando apressadas com seu copo de café do Starbucks em uma mão e o celular sobre a orelha ou respondendo mensagens. Crianças com seus pais andando com total precisão, focados em chegar ao seu destino, e outras, esperando o ônibus escolar. A avenida era bastante movimentada neste horário, carros passando pra lá e pra cá, cachorros derrubando latas de lixo na rua em busca de comida, isso era triste de se ver.
O céu. Estava azul, o sol já iluminava com seus raios quentes, e deixava um encanto de cores no céu, uma mistura de azul celeste com azul claro. Os pássaros voavam e busca de comida para levar ao ninho e dar para seus filhotes. Era lindo e encantador, em como a natureza consegue ser bela e majestosa.
Caminhando até o banheiro, Regina tirou seu pijama de cachorrinho que havia comprado no dia em que voltou da Grécia. Liberdade. Queria simbolizar este acontecimento com algo que representasse o descanso. Pijama de cachorrinho. Pensará Regina, ao ouvir a pergunta do detetive Carter. Ligou o chuveiro e aguardou em frente ao espelho, enquanto a água esquentava, em uma temperatura totalmente agradável para seu corpo.
Seu reflexo mostrava um rosto diferente. Não era mais cansado ou triste como antes. Agora era de alívio e paz.
Seu cabelo ainda permanecia curto, quase um garoto, se fôssemos julgar a pessoa pelo seu visual. Pensará naquela noite. Malfadada noite, em que teria sido estuprada por Guilherme. As cicatrizes marcadas em seu corpo e sua alma, deixando um enorme trauma, reprimido e guardado em seu interior, para evitar mostrar fraqueza e perguntas desnecessárias.
Sua mão desliza carinhosamente, sobre as marcas que foram deixadas pelo chicote, que rasgava sua pele como uma tesoura cortando um papel. Embora fossem agora somente linhas esbranquiçadas, a dor corria pelo seu corpo. Não uma dor física, mas mental, que iria seguir ela, por onde ela andasse.
Logo depois de tomar um banho quente, e se arrumar, Regina pega seu copo de cappuccino, e caminha saindo do apartamento. Os corredores já não eram mais escuros, agora haviam lâmpadas novas. Mas não era só isso. O tapete vermelho, estendia o corredor até o elevador e as escadas, mesas de canto e vasos contendo galhos com flores de cerejeiras dava um brilho no recinto. As paredes estavam pintadas, com cor bege, tudo pago e feito por Regina. A pequena herança que Carolina havia deixado para ela, permitiu que comprasse o prédio, e de certa forma, melhorá-lo para os moradores.
Pegando o elevador que agora não rangia, Regina aperta o botão “T", indicando ser o térreo, e se olha admirando seu reflexo sobre o espelho. Estava vestindo um salto alto branco, um vestido azul escuro de alça e franzido na cintura, amarrado por um cinto, um colar de perolas e o cabelo levemente penteado para o lado esquerdo, deixando as pontas soltas e bagunçado.
O silêncio reinava naquele pequeno quadrado, até que o telefone toca.
– Alô? – falou Regina atendendo tal telefonema, sem antes mesmo de olhar quem seria.
– Regina, sou eu, Leticia.
– Leticia? – Regina sorri passando uma de suas mãos sobre o vestido.
– A audiência começa hoje. Está preparada? – Se escuta passos fortes, de salto pisando sobre um piso de madeira.
– Sinceramente, não – Regina sai do elevador, e caminha até a rua, aonde ela caminha pela multidão. – mas esperei por esse dia já faz tanto tempo.
– Boa sorte.
– O lado bom, é que só meu pai será julgado em uma corte – Regina para ao vê que o sinal para atravessar a rua estava fechado. –, o restante dos homens já foram sentenciados a mais de trinta anos na prisão.
– E enquanto a Moh?
– Estou indo falar com o Carter para falar sobre esse assunto – Regina atravessa a rua, enfrentando a multidão que atravessava para a outra calçada – felizmente, ninguém sabe da Moh, somente ele, então talvez ele não vá fazer nada contra.
– Tomara.
– Agora deixa eu desligar, acabei de chegar na delegacia.
– Se cuida Regina, e me mantenha informada.
– Claro. – Regina desliga o telefone, e caminha subindo cada degrau, e entrando dentro da delegacia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Volte Para Casa - Rainha Suprema (Pequena Degustação)
General FictionApós passar dois anos fugindo, Regina finalmente se vê livre de seus pais e uma sociedade machista. Desde então teria imaginado uma vida quase perfeita, esperando pelo fim dessa história, julgamento de seu pai, para finalmente ver ele pagando por se...