Nadin e Allya ...
Depois de terem se despedido de Yaman , Nadin destrancou a porta do carro e Allya ficou de lado enquanto Nadin abria a porta do carro para ela. Então ajeitou o cinto de segurança e recostou a cabeça no encosto, enquanto Nadin ligava o motor.
- Está cansada?
Ele a olhou de soslaio, colocando o carro em movimento.
– Não . E você ?
_ Não .
_ Qual era daquela mulher , que não parava de cercar Yaman ? Allya ,quis saber em um determinado momento do percurso.
_ Foi uma ex – noiva de Yaman . Uma louca e interesseira !
_ Achei estranho ela ter aparecido no ensaio de casamento. Vi que Seher e Ella ficaram tensas!
_ Não se preocupe com isso Garanto que Seher, saberá o que fazer com ela !
Allya sorriu e concordou .
Pela janela do carro esporte de Nadin , Allya contemplava as luzes de Izmir enquanto ele prestava atenção na estrada molhada e escorregadia.
Cedendo a um impulso, Allya ligou o rádio para saber qual música Nadin ouvia quando pegava a estrada . Ela se surpreendeu ao ouvir músicas folclóricas turcas . Tinha essa play list em seu carro também . Embora escutasse aquelas canções desde a infância com sua mãe, Allya ficara surpresa ao descobrir que Nadin também as apreciava.
Nadin entrou no ritmo da música e começou a bater com o dedo polegar no volante e começou a cantar. Allya o imitou , e os dois cantaram juntos várias delas. Allya riu.
— Tradição é uma bênção e, às vezes, uma maldição, não acha?
— Sobretudo para os turcos.
Então, começou a tocar aquela velha cantiga sobre a mulher da turquia e a força de seu olhar.
— Essa é a favorita de mamãe — Nadin comentou, ao acaso.
— Da minha também.
— Faz sentido. — Ultrapassou um caminhão, antes de prosseguir: — Que tolice não deixarem de lado esse ressentimento estúpido e fazerem as pazes. Elas têm tantas coisas em comum...
— Estou de pleno acordo.
Deixando-se levar pelos devaneios, Allya imaginou o que aconteceria caso sua mãe e Zaynep se tornassem amigas. Na certa, fariam tanta pressão e planos mirabolantes para que os filhos se casassem que seria difícil conseguir escapar dos sagrados laços do matrimônio. Olhou para Nadin. , tão compenetrado ao volante, e soltou um suspiro.
“Não seria nenhum problema passar o resto da vida ao lado dele...”, surpreendeu-se pensando, o que a deixou furiosa consigo mesma.
— Qual é mesmo a entrada certa, Allya ? Com essa neve eu me perdi ...
Ela olhou para a sinalização, em meio a neve , no mesmo instante em que acabavam de passar pelo caminho certo.
— Era aquela... — Sem graça, encolheu-se no banco do carro dele. — Sinto muito, Nadin Há outra, cinco quilômetros à frente.
— Não tem importância. Quando uma mulher perde a entrada da rodovia em que se mora porque está olhando para mim de um modo tão adorável, como posso ficar bravo?
— Convencido!
— Falei apenas o que vi, Allya. Parece que algo em mim a cativa...
Irritada, Allya pôs as mãos na cintura, virando-se para encará-lo melhor.
— Com um ego desse tamanho, estou surpresa que sobre espaço para mim neste carro!
Nadin retribuiu o desaforo com um sorriso e, quando uma canção romântica começou a tocar, acompanhou cada verso. Sempre que possível, lançava olhares sentimentais para ela.
— Você é impossível! — Allya esbravejou, rendendo-se ao jeito extrovertido de Nadin .
Allya permaneceu calada durante os quilômetros seguintes, perdida em pensamentos. Durante aquela viagem, descobrira que, além de despertar-lhe todos os instintos de mulher, Nadin ainda era uma companhia muito agradável. Isso podia parecer simples, mas mudava todo o conceito que fazia sobre os representantes do sexo masculino. Ele não a via apenas como uma ex modelo . Mas como amiga . Até agora achava impossível encontrar um homem capaz de ser amante, companheiro e amigo. Nadin estava lhe provando o quanto estivera errada a esse respeito.
Allya não queria que a noite acabasse e não queria ficar sozinha em seu apartamento . Como se tivesse lendo seus pensamentos ele indagou :
— Se não estiver cansada, gostaria de sair comigo para dançar ou prefere ir direto para sua casa ? — Nadin perguntou, enquanto passavam pela rua principal, pondo fim àquele silêncio.
– De forma alguma, eu adoraria sair com você ... Quero dizer , como amigos ! – assegurou ela gaguejando .
O sorriso de Nadin pareceu aquecer o interior do carro.
Apesar da determinação de ater-se somente ao acordo, Allya não podia deixar de notar a encantadora ruguinha que se formava no rosto de Nadin , a cada sorriso. Ela estremecia por dentro só de pensar que, se tudo desse certo, ela seria mãe dali a mais ou menos nove meses. Mas onde e quando se daria o encontro inevitável? Não ficara claro ainda. E era evidente que teria de ser pensado. Seria no apartamento dela ou na casa dele? Haveria um jantar antes? Talvez ela devesse convidá-lo para jantar...
__ Estamos quase chegando !_ Disse ele tirando Allya de seus devaneios.
Nadin a levou no “Reina ”, um restaurante noturno e elegante , de frente para o estreito de Bósforo e todos os seus palácios, quase embaixo de uma das pontes que ligam a Europa com a Ásia. Não poderia ser mais perfeito! Allya pensou .
Ficou surpresa, ao ver que o lugar estava apinhado, apesar de ser quinta-feira.
— Nossa, quanta gente! — sussurrou ao ouvido de Nadin. , enquanto este a guiava para uma pequena mesa situada num canto.
Um animado grupo de jovens ocupava uma mesa nos fundos do recinto e cantavam um desafinado: “Parabéns para você .”
– Desculpem o barulho – desculpou-se a garçonete no instante em que se aproximou da mesa deles.– Temos uma aniversariante , e o grupo é animado por isso está uma loucura . – A moça loira que deveria contar com uns trinta e poucos anos trajava uma calça jeans e uma blusa rosa com um colete preto por cima . O corpo escultural e os seios fartos chamavam a atenção dos homens que passavam ao redor dela.
– Por mim, tudo bem – Disse Allya, observando a garçonete.
— Se você quiser alguma coisa, qualquer coisa que seja, é só chamar — disse a moça, olhando com ar de adoração para Nadin .
Como ele não prestasse muita atenção a ela, Allya relaxou um pouco. Ele tirara o sobretudo negro e afrouxava a gravata , enrolara as mangas da camisa e abrira o colarinho. Ela pilhou-se admirando os pelos dos braços fortes
— Obrigado- Ele agradeceu a garçonete com um sorriso.
O sorriso dele deveria ser considerado um atentado ao pudor.
A garçonete sorriu para ele entrega do os menus .
__ Aqui estão os menus. _Disse se inclinando e entregando a ele.
– Vou querer um Yeni Raki e queijo feta. _ Pediu Allya sem olhar no menu .
– A mulher anotou o pedido . Depois disso, dirigiu a atenção para Nadin : – E você, bonitão? O que vai querer?
Allya cobriu a boca com as mãos para poder disfarçar um sorriso ao observar o rosto de Nadin corar.
Depois de limpar a garganta, ele pediu:
– Por enquanto , o mesmo para mim.
– Certo.
Assim que a garçonete se afastou, Allya comentou:
– Humm... Ela gostou de você! Se você preferir, eu posso dar uma volta por aí para deixar o caminho livre.
– O quê? Aquela mulher quase me comeu vivo com os olhos! Eu a proíbo de sair daí e me deixar sozinho com aquela predadora!
– Predadora? – Allya sorriu com deboche. – Não se preocupe, eu o protegerei. Quer que finja que sou sua namorada?
– Seria um favor. Pelo menos enquanto estivermos aqui.
Allya sabia que estava fazendo um jogo perigoso, mas era impossível resistir.
– E quanto às suas regras?
– Bem, elas existem para que ninguém saia magoado.
Allya olhou na direção da garçonete que estava recostada no balcão do bar e provocou: – Ela não parece ter medo de sofrer. Até parece do tipo que gosta de sadomasoquismo.
Ele a olhou com censura.
– Estou surpreso com a sua insinuação!
Grande coisa, pensou Allya. Ela mesma estava chocada com seu próprio comportamento.
– Bem, eu não sou tão ingênua quanto possa pensar.
– Claro que é! – insistiu ele em tom de desaprovação. – E isso não tem nada a ver com o números de pretendentes que tenha tido. Você é uma pessoa afetuosa e verdadeira. Consegue ser simpática com as pessoas, e elas a respeitam.
– Uau! Estou me sentindo nas nuvens! Isso quer dizer que você gosta de mim?
Ele balançou a cabeça com um riso de diversão.
– Não posso negar .
– Obrigada – respondeu ela corando satisfeita. – Ih! A garçonete está chegando com nossa bebida .
Ele ergueu uma sobrancelha e a preveniu:
– Não saia daí!
– Claro que não! Eu prometi que não sairia – assegurou ela enquanto se erguia e afastava a cadeira, sem antes representar lhe dando um beijo casto na boca . – E é o que farei assim que retornar do toalete.
– O quê? Que bela “namorada’ você é!
– Ora, Nadin ! Ambos sabemos que você saberá lidar com ela. Logo estarei de volta. Preciso verificar algo – Ela se apressou a caminho do toalete .
Nadin levou as mãos lábios e a viu sair , não compreendia suas reações àquela mulher. Ela era capaz de despertar-lhe uma nova curiosidade, um desejo de saber detalhes sobre sua vida...Tinha uma vaga noção do que ela faria no banheiro . Allya estava prestes a ovular e seria necessário que ele se pronunciasse quem sabe ainda essa noite. E era impossível entender por que uma completa estranha o perturbava tão profundamente, fazendo com que aceitasse um plano maluco desses.
No banheiro , Allya retirou da bolsa o kit de ovulação que guardará desde o acordo que fizera com Nadin . Fez o teste, e olhou para o bastão que marcava que ela estava ovulando . E agora? O que deveria fazer? O que falaria para Nadin ? Não poderia simplesmente chegar nele e falar ...” Estou ovulando , faça amor comigo agora”!
Poxa vida , ele estava sendo paquerado pela linda garçonete de seios fartos ! Mas eles tinham um acordo . Ele aceitara em dormir com ela não é? Seria justo usa- lo dessa forma ? Allya se olhou no espelho e fez uma careta .
Ah ,Droga . Não era tão fácil como ela pensava !
Depois que Allya retornou , viu Nadin olhando ao redor , já com os aperitivos na mesa . Se aproximou e sorriu .
__ E aí , como foi com a garçonete?_ Perguntou sentando na cadeira .
__ Não foi . Tenho “namorada” lembra – se?__ Nadin disse olhando em seus olhos e descobrindo que ela estava um tanto ansiosa.
__ Entendi. __ Allya pigarreou e começou a dizer : _ Nadin eu ...
__Shhh... __Ele colocou o dedo em seu lábio . __Vamos aproveitar um pouco mais .
__ Taman .
Em nenhum momento Allya e Nadin falaram sobre o acordo de ter um bebê , mesmo sabendo que ela estava ovulando, evitaram falar no assunto . Em vez disso, falaram de si mesmos, sobre suas preferências quanto a comida e bebida, música e livros. Allya descobriu que Nadin era um ávido leitor de notícias e devorava o jornal na televisão todas as manhãs. Já ela confessou que preferia assistir documentários , na Netflix . Contou também que gostava de “fugir” da realidade mergulhando num bom romance de mistério. Outros homens teriam desdenhado desse hábito, mas Nadin , não. De algum modo, ela soubera que ele a respeitaria. A conversa estava animada e Allya ficou surpresa em ver que ambos tinham muita coisa em comum. Enquanto bebiam e saboreavam o queijo , teve um momento da conversa que ele contou que, tinha uma cachorra da raça Setter Irlandês, chamada Panthalemon , mais conhecida como”Pan “ que colocara o nome da cachorra em homenagem ao filme “ A Bússola de Ouro” um filme que ele particularmente gostava . Ao contar ele ficou sem graça e Allya adorou saber, pois era a raça que desejava ter um dia, quando tivesse sua casa , ela sorriu , pois um homem grandão como ele , era sensível a esses tipos de filmes infantil . Era estranho ele não querer filhos e uma esposa e ela gostaria de saber o porquê . Todos na empresa falava que ele era um play boy e mulherengo ... Mas , ali no restaurante ele se mostrava tímido .
Seria boatos ? Ela se perguntava.
Nadin não conseguia tirar os olhos dela enquanto falava . Allya era tão diferente de Samia. Vestia um vestido de lã de manga longa e com decote generoso, que emoldurava o colo macio e alvo. Seus cabelos escuros e brilhantes estavam presos num coque, que acentuava a nuca perfeita. A maquiagem era suave, apenas reforçava seus pontos fortes: os olhos cor de mel e os lábios bem feitos e rosados .
— Você é linda — elogiou-a Nadin .
__ Obrigada _disse ela bebendo o aperitivo ,pois estava com a garganta seca .
O aperitivo estava tão saboroso que ela bebera um pouco mais do que deveria. Uma música alegre chamou-lhes a atenção, convidando-os a dançar, e dançaram. Na enorme pista central, não perderam nenhum passo, dançando com perfeição o que a impressionou . Nadin era um excelente dançarino .
A música era agitada, e, portanto, não dançariam juntos. Ela adorava música. Seu corpo vibrava ao som da melodia. Mal sabia ela que, apesar de não o tocar, ainda assim seu modo de dançar deixava Nadin muito excitado.
Quando a música acabou, voltaram para a mesa e Nadin pediu ao garçom , dessa vez outra garrafa de Raki e camarões .
O garçom sorriu para ambos e se retirou para providenciar o prato e a bebida.
Depois de terem saboreado uma deliciosa porção de camarões e mais uma garrafa de Raki , Nadin e Allya estavam alegres .
Momentos mais tarde, o conjunto musical começou a tocar uma melodia lenta.
— Vamos dançar esta também, Allya?
Normalmente, ela preferia evitar dançar músicas lentas, mas o Raki e a agradável presença de Nadin eram irresistíveis. Então, deixou-se conduzir por ele até a pista de danças novamente , onde foi envolvida pelos braços fortes e puxada para junto do peito musculoso. Ela usava botas de salto alto, e seus rostos se tocaram.
Com o braço em volta da cintura de Allya, ele a puxou mais para si. A mulher que abraçava perturbava suas noites de sono desde que a conhecera. Allya estava sóbria, e o corpo esguio, involuntariamente, seguia o comando de Nadin .
Sentia-se segura nos braços possessivos daquele homem que a enlaçava com ardor. De repente, pensou em se afastar, mas seu instinto insistia em fazê-la aproximar-se de Nadin . Sempre estivera na defensiva, especialmente depois do que sofrera com Daniel .
Então, sentiu a mão que abraçava sua cintura descer um pouco mais. Estava colada àquele corpo viril, que dava mostras de desejá-la.
Atordoada, ela suspirou quando outra música badalada começou a tocar , separando- os .
Exaustos voltaram novamente a mesa para que pudessem conversar com mais privacidade.
— Mais Raki? — Ofereceu, quebrando o silêncio e erguendo a garrafa.
— Não... obrigada. — Pelo amor de Deus! Corava e estava gaguejando enquanto bebia o resto do conteúdo do copo, com medo de que Nadin percebesse sua atração física.
Pouco depois de eles haverem terminado de comer , o jovem garçom apareceu discretamente , olhando para Allya com certa insistência . Corando ele trouxe o menu de sobremesas. Enquanto Nadin observava os doces no menu , Allya não pôde deixar de notar mais uma vez a elegância e a sofisticação de Nadin . Ele emanava uma espécie de sensualidade primitiva que atraía as mulheres feito um ímã. Da mesa, Allya conseguia ver a garçonete na outra mesa , ainda lançava olhares para ele . Allya fez uma careta.
- Quer pedir a sobremesa senhorita ?
O evidente desejo de agradar demonstrado pelo jovem garçom estava sendo quase embaraçoso. Allya sorriu para ele com gentileza.
- Evet , obrigada. Vou querer o sorvete com calda quente de chocolate .
_ E o Sr ? Disse o jovem sem tirar os olhos de Allya .
__ O mesmo que o dela e uma água ,por favor .
__ Uau , a senhorita é modelo da capa da revista Flamer não é? Poderia me dar um autógrafo ? Eu a reconheci , no poster que temos no restaurante . Uma pena que decidiu se aposentar. Três anos se passaram e ainda continua lindíssima !
__ Obrigada . Onde quer o autógrafo ?
__ Pode escrever na minha camisa , nas costas ? Disse ele entregando uma caneta .
__ Claro __ Allya se levantou e pegou a caneta piloto da mão do garçom , e se inclinou para escrever em suas costas .
__ Prontinho .
__Obrigado , e desculpe incomoda- Los.
O rapaz se retirou e foi sorrindo para providenciar os pedidos .
- Ganhou mais um fã – observou Nadin , quando este se retirou.
Um brilho de divertimento surgiu nos olhos dela.
– Está com ciúme?
Ele arqueou uma sobrancelha.
– Pareço estar?
Allya gostaria muito de poder dizer que sim, mas não seria a verdade. E talvez por isso mesmo tenha sentido vontade de continuar com a provocação.
- Bem, ele é jovem, tem boa aparência... – Fingiu considerar a possibilidade por um instante.
– É provável que seja um estudante universitário trabalhando à noite em um restaurante como esse para conseguir bancar os estudos. Isso indicaria que ele tem potencial. Será que ele aceitaria deixar tudo isso por uma “aventurazinha”comigo e me engravidar ?
O sorriso de Nadin fez Allya sentir um arrepio pelo corpo.
– Acho que está na hora de levá-la para casa, isso sim !
Ela riu. Ele estava com ciúmes dela !
Allya e Nadin conversaram e dançaram muito . Descobrindo muitas coisas em comum ... Allya contou de seu relacionamento com Daniel , e como ela havia interrompido o namoro . De como foi doloroso pegar ele na cabine com outra mulher.
__ Que idiota !
__ Ele foi sim ..._ Ela murmurou.
__E você ? Já amou alguém ?
__ Quem nunca ?_ Respondeu Nadin ,sem dar mais detalhes e encerrando o assunto deixando Allya curiosa .
Após terminarem a refeição, Nadin ajudou Allya a vestir o casaco e eles saíram do restaurante .
Já era muito tarde quando voltavam novamente para o carro coberto de neve e , bem-humorados, Allya aproveitava-se da deliciosa companhia de Nadin , o corpo e a mente relaxados, desejando que a noite jamais terminasse.
Nadin tomou a estrada novamente ,e subiu a encosta até o mirante , a quase oitocentos metros de altitude, de onde se tinha uma vista espetacular da cidade lá embaixo e principalmente do elevador Tarihi Asansor .
- Que beleza! – exclamou Allya, extasiada, arrumando o pesado casaco e saltando do carro antes que Nadin o freasse por completo.
Ele desligou o motor e juntou-se a ela na mureta. – Nunca tinha vindo aqui? – indagou, surpreso.
- Vim algumas vezes, mas nunca- à noite – esclareceu ela. – É de tirar o fôlego.
- Sem dúvida.
Izmir reluzia como minúsculos diamantes esparramados num cachecol de veludo negro. A vista era espetacular. Allya concluiu que poderia passar horas admirando aquela cena sem se entediar. Mas o frio ali era intenso .Um arrepio involuntário a sacudiu, e Nadin notou.
- Venha cá – prontificou-se ele, abraçando-a por trás. A temperatura no centro da cidade era no mínimo dez graus mais alta do que aquela no mirante.
Sentindo as mãos fortes de Nadin cruzadas sob os seios, Allya não hesitou em recostar-se contra o corpo másculo e acolhedor.
Ela não entendia o que se passava exatamente entre ambos, o que causara tamanha mudança em Nadin , se mostrando romântico na relação que tinham apesar de ter prometido não se envolver a não ser com o acordo . Ao mesmo tempo, não ansiava por descobrir os motivos por trás do tratamento gentil que ele ora lhe dispensava. Era gostoso e isso bastava.
A culpa tomou conta de Allya. Sua idéia de ter um relacionamento breve com Nadin , apenas para que pudesse ter um bebê, estava lhe soando sórdida e mesquinha. De repente, percebeu que não tinha o direito de pedir isso a ele, nem a nenhum outro homem de caráter.
Desfaça o acordo, lembrou uma voz interior desagradável. Desista de tudo agora, a fim de não arruinar isso que está nascendo entre vocês. Conte para ele que quer desistir do plano e ficar com ele.
Allya fechou os olhos, bloqueando a imagem da cidade. Não era a primeira vez naquela noite que sua voz interior a censurava. O problema era que ainda não tivera uma boa oportunidade para abordar o assunto tão delicado. Se desfazendo do acordo ,seus planos de ser mãe um dia teria fim . Seria pecado querer ter os dois ? Pecado , Allya é você separar seu filho do pai e da avó depois . A voz interior insistia em censura- lá.
- Preciso lhe contar uma coisa – adiantou-se Nadin , de repente.
Allya surpreendeu-se. Era exatamente a frase que ia dizer. Curiosa, restringiu ao fundo da mente a necessidade de confessar os próprios pecados, imaginando o que Nadin tinha a lhe dizer. Mas nem o interesse pela revelação dele bastava para conter a felicidade que lhe enchia o peito. Pois era com isso que sempre sonhara .
Um relacionamento no qual pudessem falar abertamente. Uma relação mais íntima, mais pessoal, na qual ambos pudesse revelar tudo o que pensavam e sentiam?
Evet! Era exatamente o que procurava. Seu sonho tornava-se realidade depois do último relacionamento que tivera com Daniel ,que tinha oferecido tanto... e dado tão pouco. Daniel , o homem que arrancara os sonhos de seu coração e os jogara na poeira.
Nadin iniciou seu discurso, ainda que hesitante:
- Allya... quero ser franco e honesto com você... Quero que você saiba o porque dessa minha “fama de playboy “.
Ele fez uma pausa e suspirou, provocando cócegas na pele sensível atrás da orelha dela.
Allya nem se mexia, pressentindo que o que Nadin estava para revelar teria um imenso significado para ela. Para ambos.
__ No restaurante , você me perguntou se eu tinha me apaixonado uma vez . A resposta é sim .__ A alguns anos , eu me apaixonei e quis tudo que um homem pode desejar em um relacionamento. Prosseguia ele. – Vou lhe dizer qual é.
Ela pousou a cabeça no ombro dele e o encarou.
- Estou ouvindo. – Pelo olhar, transmitia toda a sinceridade que sentia no coração.
– Quero muito ouvir.
Então, imaginando que seria mais fácil para ele se não o fitasse no rosto, voltou os olhos para a cidade cintilante lá embaixo.
Nadin suspirou novamente, mais calmo. Parecia ainda apreensivo quanto ao que ia dizer, mas Allya acreditava ter aliviado um pouco sua ansiedade ao mostrar-se receptiva.
- A história começa alguns anos atrás. Logo que me formei, abri uma agência de segurança pessoal em sociedade com um amigo . Éramos companheiros, Ahmet e eu, e o negócio ia de vento em popa. Almoçávamos sempre num restaurante próximo, e jantávamos lá também, quando havia clientes precisando do nossos serviços .
Nadin não pôde evitar a amargura ao iniciar a segunda parte do relato:
- Nesse restaurante, trabalhava uma moça chamada Samia Yldiz. Cuidava da segurança do restaurante . Era inteligente... bonita e forte .Logo começamos a namorar e fiz com que ela fosse trabalhar na agência . As coisas andaram rápido, se é que me entende. Alugamos um apartamento, moramos juntos por quase um ano... Pela felicidade de minha mãe e meu pai.
Allya percebeu que Nadin engolia em seco. Aproveitou a pausa dele para respirar fundo, percebendo que até então mal inspirara. Não queria perder nenhuma palavra.
- A agencia estava dando ótimos lucros , dando a chance de eu poder da uma vida melhor para meus pais . Samia mostrava-se ávida por aprender o mecanismo da agência e de defesa e eu lhe ensinei tudo o que pude. Ela começou a arranjar clientes famosos como o ator Can Yaman e Engin Aukirek , ela era de um talento incrível. Sendo assim, quando ela pediu para ser sócia, não pensei duas vezes. Nadin deu de ombros, envergonhado.
- Fiquei feliz com mais vínculo, pensava estar apaixonado. Caminhávamos para um futuro juntos. Casamento. Filhos. Uma casa no subúrbio. Tudo, enfim.
O suspiro seguinte foi de uma tristeza profunda.
- Mas eu estava enganado – revelou, num sussurro. – Tinha perdido a cabeça por aquela mulher. E o coração. Passaram-se alguns segundos de silêncio. O ar no mirante se tornava cada vez mais frio, mas Allya mantinha-se aquecida nos braços de Nadin .
- Só quando a pedi em casamento, descobri que havia algo errado. Incrédula, ela me rejeitou sem dó nem piedade, questionando por que estragaríamos um arranjo tão perfeito de “benefícios mútuos”. Era isso o que ela achava que tínhamos juntos, que estávamos vivendo.
Nadin enrijeceu o corpo, como se as lembranças o enregelassem. – Eu tinha sido ludibriado. Usado. Manipulado. Samia não me amava. Nunca tinha me amado. Seu objetivo sempre fora uma boa carreira num negócio de sucesso, dispôs-se a dormir comigo para conseguir isso. E estava disposta a continuar dormindo, para manter o que tinha conquistado. Fiquei enojado. Perdendo a confiança nas mulheres . Desistindo dos sonhos em constituir uma família. Odiei ser usado .
Nadin descruzou as mãos e introduziu uma no casaco de Allya, em busca de seu calor. Encontrou a mão dela e apertou-a. Ele buscava forças, era evidente, e ela tentou transmitir as que tinha.
- A essa altura, Samia já participava de tudo na empresa, era peça-chave. Ahmet confiava no talento dela tanto quanto eu. Decidi sair de cena.
- Foi quando começou a trabalhar na Empresa kirimli, sendo segurança particular ? – indagou Allya.
Nadin confirmou.
- Isso mesmo. Tenho colaborado com Yaman desde então. Onde temos uma grande amizade .
- Mas o que aconteceu com a agência de segurança ?
– Parece que continua fazendo muito sucesso. – Sem disfarçar a mágoa, ele completou: - Ahmet e Samia me mandam um cartão de Natal todo ano.
Nadin desvencilhou-se, pousou as mãos nos quadris de Allya e a fez voltar-se. Fitaram-se por longos segundos.
- Nem sei o que dizer – murmurou ela. – Foi terrível o que Samia fez com você.
Nadin umedeceu o lábio.
- O pior é que passei a resguardar meu coração. Minhas emoções. Nunca mais revelei a ninguém meus sentimentos. Não conseguia confiar nem em mim mesmo. Perdendo a vontade de casar , ser pai . Tinha medo de ser enganado novamente . Comecei a sair com várias mulheres belas, desde então, sem nunca me envolver . Meu lema era “ Ame , e deixe-as “. _ Ele sorriu amargo __ Minha primeira regra de autopreservação pela regra de conduta que estabeleci depois que Samia fizera . E depois , comecei a ter uma certa atração por Zhural , outra que me usou para tentar chegar até Yaman . A sorte que abri meus olhos antes de que algo pior acontecesse.
__ Sempre me perguntava se existiria mulher certa para um só homem.
Allya , sentiu algo incomodá-la, ao ouvi-lo falar de suas mulheres . O que lhe importava o fato de ele já ter estado com tantas mulheres no passado? Ela não era exatamente uma virgem pudica, nem esperava que ele fosse parte de seu futuro. No entanto, por algum motivo, pensar em Nadin Ilgaz com outras mulheres não lhe caiu bem, nada bem.
Nadin inflou o peito.
– Mas acho que estou pronto agora. Quero dizer ...Gostaria de... tentar novamente. Sei que existe uma atração muito forte , pelo menos eu me sinto assim e gostaria de tentar algo com você , se você assim me permitir .
Tinha os olhos castanhos cheios de perguntas, de esperança... e de medo.
Allya imaginou se ele estaria apreensivo quanto à reação dela à história, ou à possibilidade de ela o rejeitar. Ela não seria capaz ! De qualquer forma, seria fácil tranqüilizá-lo.
Ergueu a mão e acariciou o rosto dele.
– Estou feliz que tenha me contado Nadin . Nós dois sofremos algo parecido .
Nadin fechou os olhos, apoiando o rosto na mão gentil, e Allya foi tomada por uma onda de emoções.
Nadin fora ferido por duas mulheres frias, calculistas, egoístas e cruéis. Não era de admirar que ele agora se esquivasse a relacionamentos. Assim como ela ,que também fora ferida e traída por Daniel em um cruzeiro romântico . Não era de admirar que hoje ambos temessem em confiar em alguém. A traumatizante experiência explicava por que ela se esquivava dos homens e não confiava mais no amor .
Fui logrado. Usado. Manipulado...
As palavras ecoavam na mente de Allya, como um mantra emitido do alto dos desfiladeiros do mirante . Ela também iria usa- lo . Tudo em seu próprio interesse em ter um bebê .
A exemplo de Samia e de Zhural.
Sentiu as entranhas congelarem como água lamacenta. Oh, céus, não poderia continuar com esse acordo de ter um bebê e descartar – lo depois! Gostava muito de Nadin para fazer algo assim ...
Nadin acabara de se abrir, de confiar nela, de revelar seus segredos mais íntimos. E como o compensaria? Afastando a criança dele ?? Contando que fora tão torpe quanto Samia, a mulher que lhe causara tanta angústia e dor. Seria capaz de ter um filho dele e sapara- Los ,causando – lhe mais dor ? Céus, Não !
Ele não declarara que a amava, mas chegara bem perto. Afirmara querer confiar em alguém novamente. Ele queria tentar. Ela, por sua vez, estava prestes a realizar seu maior sonho, que era ser mãe. Mas e o amor ? Estaria pronta a esquecer a traição que tinha vivido com Daniel e deixar o plano de ter um filho com Nadin e deixar o coração falar mais alto?
Nadin abriu os olhos e fitou-a.
- Não imagina como me sinto bem. Eu queria lhe contar... o que sinto por você . Quero conhece- la ...
Ele a puxou de encontro ao corpo e ela tentou não se enrijecer. Espalmando as mãos no peito largo, olhava-as sem vê-las.
Nadin encostou os dedos em seu queixo e ergueu-o, obrigando-a a fitá-lo nos olhos.
- Estou feliz que saiba de tudo agora. Ainda quero continuar com o plano de você engravidar ... Mas com uma condição , que me deixe participar da vida da criança.
Allya olhou -o nos olhos e meneou a cabeça . Pois não conseguia falar o que queria .
Deixou – se envolver pela voz dele, que vibrava de encontro a sua pele. Então, sem dar-lhe tempo para pensar ou responder, ele pousou a boca sobre a dela.
O beijo de Nadin revelava-se abrasador, fazendo com que uma onda de calor envolvesse Allya por inteiro. Ela não teve escolha senão render-se, aconchegando-se contra o peito musculoso do amado.
Assim rolada a ele, seus mamilos endureciam-se tanto que doíam, e ela ansiava por ter os seios tocados. Como que transformado em lava, o desejo percorria suas veias numa torrente avassaladora, deixando-a literalmente sem fôlego.
Ao entreabrir os lábios, Allya deixou escapar um gemido, convidando Nadin a entrar... uma oferta que ele aceitou de pronto. Pouco importavam as consequências. Ela queria conhecer melhor aquele homem.
Nadin apresentava o sabor de sorvete e Raki, mas era muito mais intoxicante do que qualquer bebida. Com o cérebro enevoado, Allya não conseguia raciocinar, além de perder o equilíbrio. O mundo todo parecia instável. Num esforço desesperado para recuperar um mínimo de controle, agarrou com força o tecido da camisa de Nadin .
Enquanto isso, ele lhe abria o casaco pesado e deslizava os braços em torno de seu corpo, acariciando-lhe as costas de maneira muito sensual. Restava entre eles apenas o vestido de lã e, só de pensar no quanto estavam próximos, ela suspirava contra a boca máscula. Sem perceber, arqueou o corpo, apertando-se ainda mais contra Nadin. Ele prendeu a respiração e então deixou escapar um gemido, um som tão rico, sedutor e envolvente que ela estremeceu, como se passasse por um terremoto.
Pensar que ela causara o gemido saído do fundo do peito dele, que ela o fizera reter o fôlego, bastou para lançá-la num frenesi apaixonado. Erguendo os braços, Allya enterrou os dedos nos cabelos dele, aprofundando o beijo. Suas línguas adotavam aquele ritmo lento, eróticos. Incansáveis.
Até que Allya não suportou mais. Queria sentir as mãos de Nadin em sua pele desnuda, queria vê-lo nu e tocá-lo em todos os lugares que estavam encobertos pelas roupas. Puxando a camisa e o sobretudo dele, pediu em tom frustrado: - __Vamos para o meu apartamento... Preciso de você...
O sussurro dele também saiu rouco:
- Oh, querida... Também preciso de você. – Então, vamos. Agora.
Nadin dedicou mais alguns segundos mordiscando-lhe o pescoço, o queixo, a orelha. De olhos fechados, Allya deleitava-se com a sensação dos lábios vorazes dele em sua pele. Não obstante, sabia que se continuassem ali por mais tempo, ela não iria conseguir se controlar.
Bem devagar, Nadin deslizou as mãos frias pelo corpo dela, ao longo das costas, passando pela cintura, até que encaixou os polegares na sensível dobra sob os seios. Allya tremeu. O tempo pareceu parar.
Allya prendeu a respiração, aguardando o próximo movimento. Afrouxando a mão que agarrava a camisa de Nadin. , espalmou-a contra o coração forte. Às batidas fortes e descompassadas excitavam-na sobremaneira.
Com o coração acelerado e sua mão repousada contra o peito forte de Nadin , Allya estava com os olhos fechados, tentando desesperadamente não se apaixonar ...
- Por favor... podemos ir? – suplicou ela, nem um pouco constrangida com o tom desesperado e lamuriante.
Nadin enterrou o rosto na cabeleira dela e abraçou-a com força. Ele ainda não usara a palavra amor, mas, qualquer que fosse seu sentimento por ela, este o impelia a beijá-la, a tocá-la de um jeito bem íntimo. Estaria se iludindo ao oferecer àquele homem tudo o que podia? Sua mente, seu corpo, sua alma... Antes de ter certeza...
Interrompeu o pensamento. Embarcaria naquela onda de paixão sem analisar o que se passava. Depois, teria muito tempo para ponderar e conjecturar. Naquele instante, o desejo que a devastava, que devastava a ambos, tinha precedência sobre tudo.
- Querida, vamos embora daqui – decidiu Nadin , finalmente.
Para surpresa de Nadin , Allya enlaçou-o pelo pescoço e beijou-o. Ansiosa, cheia de expectativa, Allya concordou.
— Não poderia ter dito nada que me agradasse mais.
Continua ...