O Instituto de Los Angeles tinha uma rotina diferenciada, considerando que atualmente abrigava apenas uma criança não-marcada e, por isso, não tinha aulas de luta corporal, ou com armas. Helen, então, organizou o dia de seu irmãozinho de forma que ele pudesse viver uma vida de criança, com responsabilidades e com tempos livres para se desenvolver. Por isso, o dia começava com um café da manhã que ela mesma preparava e que ele odiava.
— Eu não vou comer fruta — Tavvy protestou. — Odeio fruta.
— Fruta é importante para você — ela respondeu, num tom definitivo e ao mesmo tempo carinhoso. Helen aprendeu a não se importar com as caras feias de Octavian desde que se tornou responsável por ele e precisou lidar com sua alimentação, afinal ela sabia que ele comeria o que fosse oferecido, mesmo que recusasse num primeiro momento. De qualquer forma, não desconsiderava que Octavian ainda era apenas uma criança de oito anos que havia passado por muitas coisas.
Tavvy bufou, colocando uma grande quantidade da salada de frutas na boca, o que fez com que ele mastigasse com muita dificuldade, na tentativa de chamar a atenção da irmã e, com sorte, livrar-se de comer coisas saudáveis. Helen fingiu não ter visto e seguiu comendo delicadamente.
— Bom dia! — Aline cumprimentou, parada na soleira da porta da cozinha. Ela caminhou até Helen, depositando um beijo na esposa e esticou o braço para bagunçar o cabelo de Tavvy. — Estou vendo que hoje estamos mais obedientes.
— Aparentemente — comentou Helen, com um sorriso discreto frente à ironia de Aline. — Já tomou café?
— Sim, e temos que estar bem prontas mesmo para começar o dia. Estava no escritório. Recebemos uma mensagem de Barnabas Hale —disse, erguendo as sobrancelhas, deixando claro a Helen que teriam problemas durante o dia.
Com a nova Clave, os diretores de institutos ficaram com a tarefa de aproximar-se dos membros do submundo de sua região. Ainda que Aline e Helen tivessem o trunfo de Helen ser meio-fada, os demais submundanos ainda as odiavam por elas fazerem parte da "raça sobre humana que pretende se colocar acima de tudo e todos". Elas estavam, no entanto, tentando fazer com que ao menos tivessem uma boa convivência.
E nada melhor do que começar pelo Mercado das Sombras. Durante o dia, um local vazio, esquecido pelo tempo. Durante a noite, um mercado com os itens mais bizarros sendo vendidos em barracas, as quais eram comandadas por lobisomens, vampiros, fadas, feiticeiros e mundanos que possuíam a Visão. Helen e Aline vinham frequentando o lugar periodicamente e tentando chamar atenção de alguns mercadores, manter a boa vizinhança com eles e, quem sabe assim, abrir as portas do Mercado para um estreitamento de laços. O problema era que, definitivamente, Barnabas Hale não era dessas pessoas: era um feiticeiro bastante influente e ele desprezava Caçadores de Sombras.
— É exatamente o tipo de coisa que eu não esperaria receber. O que dizia a mensagem?
— Quer conversar conosco, pediu para que o encontrássemos mais tarde nessas coordenadas — ela se sentou e esticou a mão, oferecendo o pedaço de papel em que a mensagem havia sido cuidadosamente escrita, com uma caligrafia rebuscada. Helen o recebeu e leu.
— Não é um comportamento normal para Hale, não acha?
— Está pensando que não foi ele quem nos escreveu?
— Não é isso — ponderou Helen. — Para que ele tenha escrito pedindo para nos encontrar, algo de muito grave deve estar acontecendo. E nos últimos dias, temos recebido mais denúncias de atividade demoníaca que o normal. Algo está acontecendo, amor.
— Vamos resolver isso logo. Em que parte de LA fica esse lugar?
As tarefas de diretoria eram geralmente mais do mesmo. Aline e Helen contabilizavam gastos, registravam atividades demoníacas, planejavam atividades para Octavian, contavam estoque de armas, pediam produtos de limpeza e se preocupavam com compras de comida para o mês. Tudo isso além da diplomacia necessária com o submundo e como isso ia ao encontro de como elas pensavam politicamente. E essa era a melhor parte.
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Escrito nas cinzas
FanfictionA vida de Caçadores de Sombras nunca era tranquila por muito tempo. Sua missão na terra é de proteger a todos da presença de demônios. Eventualmente, de pessoas com poderes que surtam e colocam demônios na terra, também. Helen e Aline já vivenciaram...