Quando anunciou que ela e Leônidas estavam de mudança do casarão, Heloísa jurou ter visto uma expressão de alívio nos olhos de Violeta. Foi apenas uma pequena fração de tempo, mas o suficiente para fazer Heloísa refletir se, no fundo, sua irmã já não sabia sobre tudo o que havia acontecido. Se, no silêncio daquela casa, não eram todos detentores de segredos que poderiam destruir a família como conheciam.
Mas, menos de uma semana depois, Heloísa finalmente estava em sua nova casa. Uma casa linda, embora muito menor do que aquela que chamou de lar uma vida inteira. Também não precisava que fosse maior. Havia um jardim florido na frente, um quintal enorme para que Clara crescesse correndo por ele e o mais importante: havia segurança. Havia cuidado, carinho e proteção.
Havia Leônidas, que na última semana havia pintado todas as paredes com cores escolhidas por ele e Heloísa, que havia juntado as poucas coisas que eram verdadeiramente deles e comprado todos os móveis necessários. Leônidas, que tinha um sorriso maior do que o dela enquanto Heloísa passeava pelos cômodos da casa vendo o resultado final, enquanto Clara permanecia em seu colo adormecida.
- E aqui, minha rosa, é o quarto de Clara. – ele abriu a porta do cômodo.
O berço de Clara já estava ali, assim como os brinquedos dela, e tantos outros novos brinquedos. Uma parede era coberta pelas mais diversas pinturas de flores, e Heloísa sentiu as lágrimas nos olhos.
- Gostou? – ele perguntou, ansioso. – Foi difícil encontrar alguém para pintar as flores, mas...
- Está lindo, Leônidas. – Heloísa suspirou, levando uma das mão ao rosto dele. – Você é o melhor pai que minha filha poderia ter.
- É só um quarto. – ele disse, tímido, sem olhar para os olhos de Heloísa.
- Não, é muito mais. – ela caminhou com Clara até o berço, deixando a menina adormecida no conforto de seu novo quarto. – É todo o cuidado que tem conosco desde sempre. Muito obrigada.
- Você não precisa me agradecer. – Leônidas sorriu, segurando a mão de Heloísa. – Vem.
Heloísa o seguiu até o quarto ao lado do de Clara. Era como todo o resto da casa, com mais conforto do que luxos, com cores leves, um cheiro remanescente de tinta fresca e promessas.
- Esse é o seu quarto. – Leônidas sorriu, enquanto Heloísa adentrava o local com olhos arregalados.
Ele a observou suspirar e então encará-lo novamente.
- É perfeito. – ela abriu um sorriso tão grande que iluminou o mundo dele.
- Sei que não conversamos sobre isso, mas agora que... – ele procurou as palavras. – Agora que não estamos no casarão e que sua família não está por perto, eu imaginei que fosse querer o seu espaço.
Heloísa franziu a testa.
- Nós podemos trazer o berço de Clara se você não se adaptar a dormir longe dela. – o sorriso dele era genuíno, calmo, honesto. – Ou podemos colocar no meu se você quiser.
- No seu? – ela perguntou, surpresa.
- Tem um quarto nos fundos da casa e...
- Por que?
- Essa casa é sua, Heloísa. – Leônidas respondeu sem rodeios. – Quando a conheci eu fiquei encantado, completamente encantado.
Ele suspirou, e Heloísa não o interrompeu.
- Você se recusava a contar sua história, mas já tinha tanto amor por Clara. Eu quis cuidar de vocês. Quis que confiasse em mim. – uma lágrima solitária correu pelo rosto dele. – E você confia. Você me permite ser o pai da Clara, estar perto de vocês.
Heloísa também limpou a lágrima que escorreu no rosto dela.
- Isso me basta, minha rosa.
Leônidas tinha os olhos mais honestos que ela conhecia. Não havia nenhuma cobrança ali, apenas constatações. Havia o amor e cuidado de todos aqueles meses. Do homem que deu à ela e à filha um sobrenome. O homem que a ouviu contar sua história sem julgamentos.
- Mas não basta para mim. – ela disse, por fim, se aproximando dele.
Heloísa aproximou-se o suficiente para colocar as duas mãos no rosto de Leônidas, puxando aqueles olhos para ela, querendo ser tão honesta quanto sentia que ele era.
- Eu não quero que você seja só o pai da Clara. Eu não quero iniciar nossa vida com quartos separados. – sorriu entre lágrimas dele e dela. – Eu quero um futuro com você, Leônidas.
Talvez ele fosse responder, mas ela não esperou. Uniu seus lábios em um beijo que despertou sentimentos desconhecidos, desesperados. Leônidas retribuiu com uma paixão que a teria assustado, se não fosse exatamente o que ela precisava. As mãos dele foram para a cintura de Heloísa os aproximando como se nenhum espaço pudesse existir entre eles.
Ela o queria. Queria Leônidas em sua vida todos os dias. Queria dormir e acordar nos braços dele. Queria as rotinas noturnas envolvendo a filha deles. Queria aquele desejo que acabava de ser reconhecido, enquanto ela dava um passo de coragem e desabotoava a camisa dele. E Leônidas se afastou um pouco, os olhos mais escuros do que o normal, olhando para ela com questionamentos.
- Eu quero. – ela disse, antes que ele pudesse fazer qualquer pergunta.
Heloísa estava nos braços dele novamente, enquanto as roupas dos dois eram retiradas e aquele quarto se tornava deles, tanto quanto um se tornava do outro. Ela sequer sabia que poderia haver tanta devoção naquele ato, que em meio a beijos e suspiros poderia haver tanto prazer e tanto amor. Era amor o que ela sentia por ele, e era amor o que sentia vindo dele.
Leônidas era cuidadoso e apaixonado. Tirava seu ar com a mesma facilidade que fazia borboletas voarem por seu estômago. E, enquanto tentava recuperar a respiração ele a puxava para seu peito e a envolvia com seus braços como se não quisesse que ela fugisse nunca mais.
- Eu te amo. – ele disse em uma voz baixa, enquanto beijava a testa de Heloísa e acariciava suas costas.
Heloísa ergueu os olhos, encarando aquela imensidão verde de sinceridade. Acariciou o rosto dele com as pontas dos dedos, sentindo o amor em todos os poros de sua pele, como se aquela sensação, aquele sentimento, pudessem pular de seu peito a qualquer momento.
- Eu amo você também. – ela sorriu com o sorriso surpreso dele. – O que?
- Eu não esperava ouvir isso, minha rosa. – Leônidas fechou os olhos ainda sorrindo. – Eu sequer dormi na noite passada, querendo aproveitar cada segundo do que achei que seria a nossa última noite juntos.
- Eu gosto de dormir nos seus braços. – Heloísa beijou os lábios dele rapidamente. – Me sinto segura.
Leônidas a abraçou mais forte.
- Mas depois dessa tarde eu acho que as coisas vão mudar. – ela abriu um sorriso cheio de malícia. – Sinto que você pode me atacar a qualquer momento.
Ele girou por cima dela, com um sorriso tão malicioso quanto o dela.
- Eu posso ficar tentado a isso, minha rosa. – Leônidas buscou os lábios de Heloísa. – Muito tentado.
O beijo foi aprofundado enquanto seus corpos buscavam um ao outro, mas um choro alto fez com que rissem entre o beijo, afastando-se lentamente. Leônidas ainda beijou o pescoço de Heloísa antes de levantar da cama e vestir sua peça íntima antes de buscar Clara.
Heloísa fez o mesmo, arrumando seus cabelos no espelho antes de ir até o novo quarto da filha. O choro já havia se transformado em riso enquanto Clara segurava o rosto do pai, e Heloísa sorriu emocionada ao ver aquela cena. Os dois perceberam sua chegada e Clara a chamou com a mão, enquanto Leônidas abria um dos braços para recebe-la.
Ele deu um beijo leve em seus lábios, o que fez Clara rir. Eram novos hábitos, novas rotinas, uma nova casa e finalmente eram uma família.