Presságio

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Parte 1

CONTOS

Presságio

"Mateus andava preocupado. Nunca foi de se sentir assim, mas, ultimamente, se sentia sendo observado, o tempo todo. Como se alguém acompanhasse cada passo do seu dia. Desde a hora em que acordava, até a hora em que ía dormir. Mas, o mais estranho de tudo é que, cada vez que ele olhava para trás, não via ninguém.
Estava começando a se sentir sufocado, e culpou o cansaço, ele só estava alucinando. Se alguém realmente o estivesse vigiando, ele já teria percebido. E, além disso, quem perderia tempo vigiando uma pessoa comum?
Mateus nunca fez nada extravagante, andava sempre na linha, não avançava os sinais vermelhos, respeitava as leis e acima de tudo, as pessoas.
Nunca fez mal a uma mosca, não poderia haver no mundo, alguém que quisesse o mal dele, isso seria loucura demais. Ele precisava urgentemente de férias e descanso.
O trabalho no escritório de direito estava sugando sua vida. Ele havia se formado havia quase dois anos. Trabalhava no escritório desde que ainda era estagiário, ganhou o emprego fixo por mérito próprio. Sempre fora muito esforçado, e não gostava de deixar assuntos pela metade ou de fazer mal feitos os trabalhos que lhe eram confiados. Para ele, trabalho é trabalho. E tudo que ele se comprometia a fazer, fazia bem feito. Nunca houveram reclamações.
Por ele sempre fazer todos os trabalhos impecáveis, a demanda estava aumentando, ele tinha cada vez menos noites de sono.
Isso devia estar afetando o funcionamento correto do seu cérebro, por isso ele estava com mania de perseguição. Ou assim ele pensava.
Pobre Mateus, mal imaginava que estava realmente sendo observado a distância.
Estava a questionar quem desejaria seu mal, já que nunca fez mal a ninguém. Mas esse alguém não o conhecia de verdade. Mateus foi escolhido ao acaso e nem ao menos imaginava qual seria seu destino. Certo dia, quando ele deixava o escritório, sentiu que alguém o observava, mas já estava acostumado as peças que sua mente andava lhe pregando, então continuou seu caminho sem olhar para trás. Foi um erro fatal.
Enquanto seguia seu caminho, a sensação de ser observado só piorava, mas ele tinha medo e não quis parar para conferir.
Não sabia se tinha mais medo de estar certo ou errado. Quando estava prestes a atravessar a rua, e a sensação tinha aumentado ainda mais, escutou alguém chamar seu nome. Olhou para trás, e viu um de seus antigos colegas de turma.
Devia fazer uns 2 ou 3 anos que não se viam, ele ficou feliz pelo reencontro. Caminhou até o colega e um homem esbarrou neles ao passar muito apressado, nem ao menos pediu desculpas, mas eles não se importaram. Foram até uma cafeteria e conversaram durante horas, atualizando um ao outro sobre suas vidas.
Mateus chegou em casa por volta das 20h, exausto. Mal teve tempo de jantar antes de dormir.
A sensação de ser observado o perseguia até em seus sonhos. Nem mesmo o cansaço conseguia vencer sua mente. Ele já estava cogitando a hipótese de procurar ajuda médica. Alguma coisa de muito errada estava acontecendo. Na manhã seguinte, ele chegou ao escritório por volta das 9h da manhã. Tinha apenas duas reuniões pela manhã e uma na hora do almoço. O resto do dia estaria livre, finalmente poderia descansar um pouco.
Após a última reunião do dia, ele pensou em mudar um pouco sua rotina. Não foi direto para casa, resolveu que ía tomar um café, sozinho, em uma pequena cafeteria que ele costumava frequentar, mas com a rotina de trabalho muito pesada, ele não ía lá havia muito tempo. Enquanto caminhava até lá, sentiu um arrepio na espinha, os cabelos da nuca se arrepiaram e ele sentiu a mesma sensação de estar sendo observado, mas dessa vez era diferente, ele sentia como se estivesse sendo seguido, acompanhado de perto, e não estava errado. No momento em que atravessava na faixa de pedestres, sentiu uma dor aguda na parte de trás do corpo, mais precisamente do lado esquerdo, e então ouviu alguém gritar para ele em sinal de aviso ‘Cuidado’. Quando olhou para trás, para saber o que o havia atingido, viu o mesmo homem que esbarrou nele no outro dia, e esse andava ainda mais de pressa...”

Parte 2

“Tudo pareceu estar acontecendo em câmera lenta. Mateus estava encarando um homem de barba longa, óculos escuros e boné. O mesmo homem com quem ele havia esbarrado poucos dias antes.
A diferença era que agora o homem estava segurando em uma das mãos, uma lâmina pequena e fina, quase imperceptível a distância.
Ao olhar para baixo, Mateus viu que sua camisa, antes branca, estava começando a ficar tingida de vermelho. Ele olhou para o homem, ainda incrédulo e perguntou, com um fio de voz que ainda lhe restava ‘por que?’
O homem tirou os óculos escuros para encará-lo, antes de responder.
Olhou diretamente nos olhos de Mateus e respondeu ‘ainda não terminei’.
O estranho saiu correndo, deixando-o  para trás. Toda a cena não durou mais que um minuto, mas para Mateus pareceu uma eternidade. Depois que o homem correu, as pessoas ao redor pareceram entender o que acontecia diante de seus olhos.
Mateus sentiu a força se esvair de seu corpo, e como não conseguiu mais se manter de pé, ele caiu.
Sua visão escureceu, mas ele ainda podia ouvir as pessoas ao seu redor. Ouviu quando as sirenes da polícia se aproximava, e ouviu também quando a ambulância chegou para levá-lo ao hospital mais próximo. Depois disso, perdeu a consciência completamente. Mateus teve um sono agitado, e ficava revivendo aquela cena em sua mente. Não conseguia entender o que aconteceu, e por que justo com ele. Em sua cabeça estavam se passando as cenas dos últimos meses, de quando ele começou a se sentir perseguido.
Reconheceu o homem em alguns momentos, como no dia em que saiu mais tarde do escritório e se atrasou para o jantar que tinha combinado com os amigos. Lembrou que quando chegou a porta do restaurante, o homem passou por ele, como se estivesse apenas caminhando pela rua. Agora ele sabia que não era apenas isso, ele estava realmente sendo seguido.
Mateus teve lapsos de consciência durante algum tempo, mas não acordou completamente, continuando desacordado por mais algumas horas. Acordou ao som de passos, e imaginou que fosse uma enfermeira que estava ali para verificar seus sinais vitais. Mas ao abrir os olhos e conseguir focar na pessoa que havia entrado, ele viu um homem jovem, de barba feita recentemente, e pensou que era um médico. Tentou perguntar o que havia acontecido, mas sua garganta estava muito seca e ele não conseguia falar. Então o médico se aproximou dele, olhandi em seus olhos, antes de injetar algo em seu soro. No primeiro instante, Mateus achou que era algum tipo de remédio para a dor, mas quando o médico olhou em seus olhos, Mateus soube que não se tratava de um médico.
O homem o encarou e disse ‘eu avisei que não tinha terminado’. Mateus não teve tempo, muito menos forças para perguntar novamente o motivo de isso estar acontecendo com ele. Sentiu que seu corpo começava a ficar pesado, não conseguia mais de mover e então  perdeu a consciência completamente, mas dessa vez ele não acordou mais.”

Parte 3 - Ponto de vista do assassino

“Quando meus pais se divorciaram, eu tinha apenas 10 anos. Mas ainda lembro com clareza dos acontecimentos. O advogado da minha mãe conseguiu com que ela ficasse com todo o dinheiro e propriedades do meu pai, deixando-o apenas com uma pequena casa para morar. Ela nem ao menos fez questão de ficar comigo. Meu pai teve que recomeçar do zero para poder fazer com que conseguíssemos viver com o mínimo dignidade.
Meu pai era um homem inteligente e esforçado. Conseguiu um novo emprego e trabalhava quase em tempo integral.
Mal tinha tempo de estar comigo, mas pelo menos não estaríamos passando fome. Quando eu estava prestes a completar 14 anos, meu pai ficou doente, tive que me virar para sustentar nós dois. Mas, antes do final do segundo mês em que estava de cama, ele faleceu.
Culpei minha mãe por tê-lo deixado sem nada e por isso ele teve que trabalhar tanto e acabou morrendo. Mas culpei mais ainda o advogado dela. Com a morte do meu pai, fui mandado para a casa de um tio, que me criou, ele não era amoroso, mas pelo menos eu tinha comida e educação. Quando completei 18 anos, ele me disse que era hora de seguir meu rumo e me mandou embora de casa. A raiva que eu sentia desde criança só aumentou com o tempo. Aos 18 anos eu só pensava em uma coisa, vingança. Queria vingar a morte do meu pai.
Pesquisei sobre o advogado que tirara tudo de mim e descobri que ele era dono de um escritório de direito bem sucedido.
Passei mais dois anos me certificando de aprender tudo sobre ele, cada passo seu. Descobri que um de seus empregados, um advogado que se chamava Mateus, era tido por ele como um filho.
Comecei a segui-lo, e descobri sua rotina. Durante meses, eu acompanhei cada passo que ele dera e nem ao menos fui notado.
Deixei a barba crescer, para não ser reconhecido depois.
Mateus não tinha uma vida muito agitada, também não me fizera nenhum mal, apenas era querido pelo homem que destruiu a minha vida. Não tinha nada contra ele, mas queria devolver na mesma moeda o mesmo mal que aquele homem me fez. Queria tirar dele a pessoa que ele mais amava.
Mateus era inocente, assim como meu pai, mais isso não me impediria de cumprir meus planos.
Eles não tiveram pena do meu pai também. Certo dia, Mateus saiu mais cedo do trabalho, estava indo até uma pequena cafeteria.
Eu já tinha decidido que estava na hora de colocar em prática o que tinha planejado. Segui ele de perto, e quando ele estava na faixa de pedestres, aproveitei sua distração e o atingi com uma lâmina fina e pequena que havia ganhado de meu tio a muito tempo.
Ele se virou para me encarar, e perguntou por que. As pessoas ao redor estavam começando a ficar curiosas com a comoção, afinal, estávamos parados no meio da rua. Tinha que ser rápido, mas tirei meus óculos, olhei em seus olhos e disse ‘ainda não terminei’. Segui pela rua, correndo, para que ninguém me reconhecesse.
Mais tarde, fiquei sabendo o hospital ao qual ele havia sido levado. Tirei a barba e segui para o hospital. Chegando lá, consegui facilmente me infiltrar como médico.
Fui até o quarto em que ele estava internado, e injetei um veneno no soro. Ele abriu os olhos por um instante, pareceu me reconhecer, por isso eu disse mais uma vez ‘falei que não tinha terminado’. Ele fechou os olhos novamente, dessa vez para sempre. Saí do quarto calmamente, cumprimentei alguns médicos que passaram por mim, e segui para a recepção.
Fingi estar assinando um formulário quando ouvi que mais médicos corriam para o quarto dele, e escutei quando disseram que ele havia falecido. O homem que o tinha como filho, desabou de joelhos, aos prantos, quando recebeu a notícia. Minha vingança estava completa, ele podia ter dinheiro, mas não tinha alguém para seguir seus passos. Saí pela porta da frente do hospital, minha missão estava cumprida, meu pai poderia descansar em paz agora. "

Galerinha que leu esse conto, me diz nos comentários o que acharam. E não esqueçam de votar no capítulo, aproveita pra compartilhar com os coleguinhas também. Obrigada por ler. ( Tô me sentindo uma boglera hahaha)

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⏰ Última atualização: Dec 06, 2023 ⏰

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