Único

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— Não faz nem duas horas que cheguei do aeroporto e você já quer me arrastar para uma festa. — Olhei abismada para minha irmã, que sorria de orelha a orelha.

— E quem se importa com isso, [Nome]? — Perguntou dando ombros, olhando cada peça de roupa em meu armário.

— Eu?!

Suspirei derrotada, desistindo de tentar convencer a mais velha de que estava cansada demais para qualquer interação com outras pessoas que não morassem na mesma casa que eu. Acabei de voltar do meu intercâmbio no Brasil, além do fuso horário estar mexendo comigo, eu fiquei quase um dia inteiro no avião, sentia que minha bunda estava quadrada. Eu preciso dormir!

Joguei-me sobre minha cama, desfrutando daqueles doces lençóis macios, que me convidaram a ficar por muito mais tempo. Só preciso de cinco minutos. Será que eu posso descansar enquanto Yerin escolhia minha roupa para a festa? Suponho que a resposta seria sim, se não fosse por alguém batendo na porta, tirando a atenção da minha irmã sobre minhas roupas e atrapalhando minha tentativa de descanso.

— Jung Yerin e Jung [Nome], o que estão aprontando? — Perguntou Sungchan, nosso irmão mais novo, entrando no ambiente e se jogando em minha cama. — O pai e a mãe falaram que vocês iriam sair, para onde vão?

— Channie, pensei que a sua fase de nos encher de perguntas já havia passado. — Reclamou a mais velha.

— Eu sou o caçula! Tenho total direito de encher vocês de perguntas! — Retrucou.

— E eu sou a irmã do meio. — Declarei. — E tenho o total direito de retirar os garotos fedidos de cima da minha cama. — Comecei a empurrar o garoto para fora, ganhando resmungos como resposta.

— Chata!

— Por que você quer saber aonde vamos? Não está pensando em ir junto conosco, né? — Yerin havia finalmente tirado sua atenção das minhas roupas apenas para receber a resposta do mais novo.

— Essa é a minha ideia!

— Nem que você pague a gente! Você não vai nessa festa! — Afirmou a mais velha, cruzando os braços. — Essa será uma noite apenas entre as irmãs Jung. E você ainda é menor de idade.

— Isso não é justo!

— Channie, eu prometo que amanhã eu te levo ao cinema e você escolhe o filme. — Tentei consolar o mais novo, que se encontrava cabisbaixo por não poder ir à festa. — Não fique assim, quando você ficar mais velho, te levaremos a várias festas.

Sungchan apenas concordou com a cabeça, levantando-se da cama e se retirando do ambiente. Olhei para Yerin, que voltou a montar a roupa.

— Ninguém mandou ele demorar para nascer. — Respondeu a mais velha, como se já soubesse o que eu iria falar. — Vem experimentar esse look.

— Chata.

Foi preciso de uma hora para que nós duas estivéssemos prontas, com roupa e maquiagem feitas. Por sorte, estávamos no horário. Despedimos de nossos pais e de Sungchan — mesmo que esse último tenha sido a contragosto.

Mesmo estando do lado de fora da casa, a música poderia ser ouvida pelo bairro todo. "Não dou nem uma hora para a polícia aparecer.", pensei enquanto seguia a mais velha para dentro da residência. Infelizmente, eu havia me esquecido que Yerin é como um camaleão sociável e conhece — praticamente — todos os presentes na festa, não tinha nem colocado meus dois pés na sala de estar, que eu já perdi ela de vista.

Sorte a minha que eu já conhecia o dono na casa e já havia visitado lá diversas vezes, então, sem dificuldade nenhuma — tirando a parte de passar entre as pessoas e quase tomar um banho de bebida, ou uma cotovelada — fui em direção ao banheiro dar mais uma olhada em minha aparência.

Foi apenas uma olhada rápida e sai tossindo baixo, pois tinha muita gente no banheiro e, provavelmente, o cheiro ficaria preso em minha roupa. Lá vamos pensarmos em uma boa forma de explicar para minha irmã que eu não peguei nenhuma verdinha.

O segundo andar estava mais vazio se comparado ao primeiro, e ali no canto de uma sala, dois pares de olhos me fuzilam bem na cara. Aproximei-me das duas figuras conhecidas, Hwang Eunbi e Kim Jungwoo.

Kim Jungwoo, meu amigo de infância e o dono da casa. Desde que o conheci, Woo sempre se mostrou ser uma pessoa muito alegre, mesmo que às vezes preferisse ficar em seu mundinho jogando videogame, ele sempre foi bastante interativo com todos. Ele foi — e ainda é — o típico garotinho que recebia diversas cartas de amor durante os dias dos namorados.

Hwang Eunbi, também minha amiga de infância. Ela já é mais o oposto do garoto, Eunbi costuma ser um pouco mais quieta e sempre está com um rosto sério, mas quando ela se sente à vontade, Hwang fica mais solta e brincalhona. Diferente de Jungwoo, Eunbi gosta bastante de sair, mas ela não costuma interagir com todas as pessoas. Ela é conhecida como a garota de personalidade misteriosa, palavras de Yerin.

— [Nome], bebe mais um pouco! — Disse Jungwoo, entregando-me sua latinha de bebida e eu bebia.

— Mal cheguei de viagem e você já quer me embebedar? — Perguntei brincando. — Que bela recepção.

— É bom te ver de novo. — Me disse EunBi, dando-me um sorriso pequeno. — Estava pensando em ir jogar o videogame do Woo, vem conosco!

Ela me disse, e eu seguia.

Fomos para o último quarto do corredor, e o Kim fez questão de trancar a porta para que nenhum bêbado a abrisse. A festa poderia ser em sua casa, mas não tenho dúvidas de quem organizou tudo foi Lucas e Johnny, e Jungwoo apenas cedeu o local para os amigos.

Ficamos jogando por um bom tempo, até EunBi começar a se estressar pelas suas derrotas seguidas e não querer jogar mais. Estressada, deixou o controle de lado e foi até sua bolsa — a qual ela havia jogado na cama do Kim assim que entrou no quarto — tirando um saquinho de dentro dela.

Jungwoo apenas estendeu a mão em direção a garota, que deu uma de suas balas para ele, então ela virou-se para mim. Ofereceu-me e eu aceitei, dali para frente eu desliguei. Ali no quarto seis olhos vermelhos. Sentados, rindo alto.

Eu tinha o mundo inteiro.

— Teve aquela vez que fomos ao zoológico e o Woo chorou quando viu as girafas. — Lembrou Eunbi, rindo da memória.

— Em minha defesa: eu tinha seis anos e não sabia que elas tinham todo aquele tamanho. — Tentou se defender.

— Você pensava que eles eram do mesmo tamanho dos seus brinquedos? — Perguntei rindo.

— Sim.

— Bem que poderíamos voltar lá esses dias. — Sugeriu EunBi.

— Que tal amanhã?

— Não! — Neguei rapidamente. — Pode qualquer dia, mas amanhã não. Ainda estou cansada da viagem e o docinho demora para passar.

Oh my God! Sorry, senhorita intercambista cansada. — Zombou Hwang. — Passou meses com seus amigos brasileiros e esqueceu da gente. Os de verdade eu sei quem são.

— Para de bobeira! Você está no meu coração. — Mandei beijinho para a mesma. — E mesmo que eu quisesse, era mais fácil morrer sozinho do que trocar vocês.

Ela entrou nos meus braços, disse no meu ouvido:

— Não vai morrer sozinha.

Ele me olhou de canto, fingindo que não via. Riu meio sem jeito, encostando sua cabeça em meu ombro.

— Eu amo vocês. — Declarei, depositando um beijo na bochecha de cada.

— Também de amamos. — Retribuindo o beijo, um de cada lado do meu rosto.

Meninos e MeninasOnde histórias criam vida. Descubra agora