Episódio Único

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A geada te fazia cobri os braços em desespero, friagem e angústia. Seu coração gélido por falta de calor é amor. O teu corpo jogado na calçada daquela rua deserta e observada por aquele que te criou, mas nem mesmo ele podia interferir em uma escolha que você fez.

Tuas mãos alcançaram a barra do vestido e olhou. Antes azul da cor que seria o céu, agora, cinza da cor do asfalto.

O arrependimento te consumia, e você se sentia tola por escolher ficar ao lado de um official, do que com sua família. Mas a guerra veio, e você não estava pronta para enfrentá-la.

Todos os dias sendo maltrada nas ruas, passando de mãos em mãos no meio dos oficiais, machucada, torturada e assediada. Aquilo não era vida, não para uma mulher de 24 anos, que o único sonho era se casar e ter uma bela família.

Devia ter ouvido a sua mãe e seu pai, um ex-official.

Eram tempos difíceis, mas você achava que o amor fosse capaz de vencer tudo, entretanto, não venceu.

Suas mãos tatearam a parede, tomando força para se levantar e caminhar de volta para a sua pousada. O dinheiro que usará para comprar leite, agora havia ido junto com sua pequena felicidade. Seus pés descalços e ombros desnudos eram capturado pelo olhar do seu amado, que guardava aquela parte da cidade.

O olhar assustado dele se encheu de  lágrimas quando te viu ajoelhar-se no chão e gritar de agonia. Mas ele não se moveu. Não tinha permissão para sair do seu lugar.

Você levantou a cabeça, encarando-o com os olhos encharcados. Não havia mais motivos para querer estar ali. Você só queria voltar.

— Por favor, me deixe ir... Me deixe voltar para casa... — Sussurrava, enquanto os outros oficiais riam. Odiava-os, como nunca odiou ninguém. Lembrando-se do mal que eles te fazem quando o Lee Felix não estava perto, só enchia o seu coração de raiva e sede de vingança. Gostaria de vê-los mortos, mas não poderia. Eles eram ganhadores a este ponto. Tomaram a sua cidade, é você e boba, apenas se entregou a um inimigo, aceitando ficar ao lado dele, quem sabe assim você teria proteção, mas nem o amor de Lee Felix poderia proteger você das mãos impuras de soldado, não era o amor de Lee Felix que te protegia da guerra. Você não estava protegia nem se estivesse nas mãos dele.

— Volte para sua casinha, estrangeira maldita, aqui não é permitido cãeszinhos como você pisar.

— Cale-se, seu ocidental imundo! — Encaro-o com raiva

Viu o maior deles sair do lugar e segurar o seu queixo com força, forçando-te a olhá-lo

— Não pense que só porque e a mulher de um dos soldados, que teremos pena de furar todo o seu corpinho com balas

Sua reação seguinte foi cuspir no rosto do official, fazendo-o te soltar

— Sua menininha mal criada — o homem te pisou. Te bateu. Ele te chutou. E mesmo que você implorasse pelo socorro de Felix, ele não podia fazer nada.

Machucada. Mancando. Com suas vestes rasgadas, você voltou para sua casa, mas diferente das outras vezes, você não tomou banho. Não se trocou. Não fez nada.

Quase meia noite, quando Felix chegou em sua casa, ouviu-o fechar a porta e te chamar com a voz doce e preocupada de sempre, até que ele te viu ali, sentada no canto do quarto, ainda exatamente como estava naquela tarde.

Ele correu até você, segurando sua cabeça com as mãos, beijando cada ferida tua. E mesmo que ele dissesse que te amava em mil formas diferentes, você já não conseguia mais acreditar.

— Por que deixas que me machuquem? — Perguntou com a voz trêmula, podendo sentir as lágrimas salgadas descendo e as feridas em seu rosto arderem

— Não posso fazer nada, meu amor. Estou abaixo deles, não posso te proteger...

— Então, por que prometeu que faria isso? — Um sorriso de ladinho surgiu em seu rosto, afastando as mãos do soldado de seu corpo — Não posso mais viver uma vida assim.

— Vamos viver uma vida felizes ainda!

— Quando! Me diga! Quando iremos de fato sair do país? Quando você me levará para conhecer o mundo como me prometeu? Quando nos casaremos?

— Minha querida...

— Isso não vai acabar! Essa guerra não vai acabar! — Suas mãos afastaram qualquer toque dele em ti — Nada a não ser nós dois acabará!

— Não! — Felix segurou suas mãos, ainda no chão, de joelhos, ele chorava. Os incontáveis beijos do soldado em suas mãos te fazia fraquejar, mas não seria capaz de perdoá-lo como das outras vezes. Estava farta. Cansada de todos menos ele, de quem realmente deveria ser. Cansada de ser maltratada por homens que maltratam seu povo. Exausta de viver numa ilusão que você mesma criou

— Eu errei em achar que ao teu lado eu seria feliz, mesmo em tempos assim. Papai e mamãe estavam certos, você não foi uma benção de deus, foi apenas um empecilho do inferno, e eu amei me queimar no fogo, achando que estava no céu.

As suas mãos soltaram-se das de Felix, rumando até o quarto onde a lamparina não estava acesa, assim como nenhum sentimento mais dentro de si estava. Você viu o olhar de Felix sobre si, e sorriu, tomando nas mãos o vidrinho e jogando seu líquido boca a baixo. Sentiu o seu interior queimar, assim como viu o desespero do amado ao notar o que fazia. Graças ao quarto escuro e a luz do luar, ele foi lento demais para entender que o que tomava era veneno, e foi tão egoísta com ele, que não deixou se quer um pouco para que ele fosse contigo também.

A noite foi uma sequência de choro e lágrimas, onde Lee Felix chacoalhava a seu ombro implorando para você acordar. Suplicando para você o amar como ele a amava, mas ele sabia que você morreu o odiando

O teu corpo sem vida deitado sobre o do Lee, sendo iluminada pela Lua, refletia o arrependimento que ele sentia ao ter conquistado o teu pequeno e frágil coração, pois assim, quem saiba, a menina de olhos bonitos e sorriso feliz por quem ele se apaixonou, estaria viva agora.

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𝐂𝐨𝐦𝐨 𝐜é𝐮 𝐞 𝐟𝐨𝐠𝐨 ¦ 𝐋𝐞𝐞 𝐅𝐞𝐥𝐢𝐱 Onde histórias criam vida. Descubra agora