Depois da tempestade

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Foi pela ausência de seus lábios que eu chorei pela primeira vez. E eu amaldiçoei ter te conhecido por não ser capaz de parar de te amar.

- LCDP

Hawkins, Indiana

February 14, 1987

06h:52min

A luz fraca atravessa a pequena fresta da cortina, iluminando o ambiente gélido tal qual a estação do ano no estado: inverno. O brilho do alvorecer invade o quarto e contrapõe a escuridão, atingindo seus rostos adormecidos.

Espalhado pelo colchão de casal, Jim Hopper descansa de barriga para cima com o braço dobrado por cima da cabeça e um ronco baixo escapando por entre seus lábios. Ao contrário dele, Joyce Byers ocupa um pequeno espaço dormindo lateralmente e encolhida na ponta da cama. Sua respiração lenta e rítmica denúncia seu sono profundo e tranquilo.

A claridade aos poucos desperta o homem que pisca algumas vezes para se acostumar com o brilho. Sua primeira visão, assim como quase todos os dias no último ano, são os fios castanhos e ondulados da namorada espalhados pelo travesseiro branco, imagem que o faz sorrir adorável. A posição preferida dela era de lado, por isso ele nem ligava quando acordava com a mulher de costas para si.

Como de costume pela manhã, Hopper rodeia o braço pela cintura da morena e encaixa seus corpos quentes, ouvindo-a ressonar baixinho. O aroma familiar de lavanda percorre seu olfato e ele afunda o rosto em meio aos fios sedosos e bagunçados de Joyce para apreciar o cheiro de flor devido ao condicionador. O perfume inebriante trás várias recordações de meses anteriores, mas uma em especial na prisão russa Kamchatka em um dia emocionante.

Flashback ON

O barulho alto alertou a liberação e abertura do ferro a frente. Erguendo os punhos em forma de auto-defesa, Hopper se preparou para sair em contra ataque com os guardas soviéticos do outro lado, entretanto para sua surpresa, não eram os russos. Conforme a porta de ferro subiu lentamente, uma figura pequena e conhecida surgiu a poucos metros.

Apoiada na parede, Joyce sentiu a adrenalina dominar seu corpo cheio de expectativa, fazendo seu coração disparar e seu peito subir e descer descontroladamente. Ao ver Hopper aparecer por completo, seu rosto se contorceu em um choro aliviado e suas pernas migraram até ele automaticamente. Sua primeira reação foi abraçá-lo, enquanto lágrimas umideciam suas bochechas pálidas.

Desacreditado, ele aceitou o contato boquiaberto e impactado, sem perceber que travava a respiração. Inerte a tudo, o tempo pareceu passar em câmera lenta, enquanto a afastou e olhou profundamente em seus olhos para ter certeza que realmente era ela ali o salvando.

Joyce por sua vez, mirou aquela íris azul como o mar exultante e comovida por poder vê-las novamente e em seguida, voltou a abraçá-lo com força. Seus corpos se encaixavam perfeitamente, apesar da diferença de estatura.

Ele, ainda perplexo, rodeou os braços na cintura feminina e pousou seu rosto sobre a touca de lã vermelha mais abaixo, sentindo aquele aroma de lavanda tão familiar e característico dela. Ignorando seus próprios ferimentos, machucados e dores, a apertou contra si como uma necessidade de reafirmar sua presença e emitiu um sorriso aliviado e contente. Ela havia conseguido entender seu código, estava viva e estava ali por ele. Seu pequeno milagre. Contudo, a sensação durou pouco, pois a culpa voltou a assombra-lo ao constatar tê-la colocado em perigo.

— Você tá vivo!

Joyce exclamou com a voz estrangulada de emoção, como se afirmasse para si mesmo a presença dele.

After of StormOnde histórias criam vida. Descubra agora