Trezentos e oito dias antes

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Uma semana.
Se passou apenas uma semana.
Sete dias desde aquilo.

Sinto vontade de vomitar toda vez que lembro. Por deus...

O pior é que ele não se lembra de nada. Então eu tenho apenas que fingir que nada aconteceu.

Não sei se eu sinto raiva ou apenas fico frustrado.

Se eu soubesse que tudo iria doer assim, eu nunca teria me apaixonado.

A verdade é que eu sou um brinquedo que as pessoas gostam até seus truques não funcionarem mais. E eles estão todos cansados de mim.

Você deve estar se perguntando o que me faz pensar tão melancolicamente. Não teria outra resposta se não a vida.

É claro que quando eu vi James de novo ele não lembrava de nada (ou pelo menos fingia) e não seria eu quem refrescaria a memória dele. Por mais que o que eu mais queria no mundo era ter meu amor retribuído, eu não queria ser apenas uma coisa de uma única vez.

Para não ter que encarar ele todos os dias eu me fechei para o mundo. Foquei apenas no estudo, escola e livros. Apenas. Não seria uma paixãozinha que iria fazer minhas notas caírem. Eu deveria me importar apenas com isso, afinal eu não iria entrar em Harvard se eu ficasse me distraindo com essas coisas idiotas.

Recebi várias mensagens de Betty, e até mesmo Britt ao longo desses 7 dias, mas eu apenas ignorei. Eu realmente não estava com ânimo para festas e coisas que eu odeio.

Não me encontrei com tanta frequência com James, porque ainda doía lembrar do beijo dele. Argh! Lembrar disso ainda hoje me faz querer chorar.

Estava sentado na minha escrivaninha lendo "Fahrenheit 451" quando um barulho batendo na minha janela me atrapalha. Meu desejo era ignorar, mas ele se tornou cada vez mais frequente, tirando minha concentração e me deixando mais irritado.

Quando eu abri a janela me deparei com James sinalizando para eu descer.

Seria extremamente mal-educado da minha parte não o receber, então eu apenas desci as escadas e falei para a gente se sentar na calçada mesmo. Ele concordou sem muitas passagens.

Sentar ao lado dele na calçada deveria ser normal, mas dessa vez ele estava diferente.

- O que aconteceu? - eu perguntei.

Ele franziu a testa e olhou no fundo dos meus olhos como se conseguisse ler a minha mente.

- Você tá bem? - ele nem ao menos me deu tempo de responder - Você tá estranho esses dias comigo e eu nem sei o que eu fiz. Eu pensei em várias possibilidades, mas nenhuma seria algo que você faria, porque você é incrível. E eu sou um péssimo, péssimo amigo. Eu nem sei porque você ainda fala comigo, sabe? Você é gentil, inteligente, bonito, engraçado, educado, carinhoso com simplesmente todo mundo e eu realmente não mereço tudo isso.

- Você tá brincando? Você é tudo isso e mais um pouco - eu ri fraco - Não me vem com esses papos, tá bom? Porque você é incrível. E de onde você tirou tudo isso?

- Não sei, acho que ficar longe de você me faz pensar muito, será que eu deveria adquirir mais vezes? - ele riu e eu dei um soquinho nele.

Ele não parecia mais triste e agora ria como se não houvesse amanhã. A risada dele é a minha música favorita, eu juro por Deus.

Já estava anoitecendo e ele resolveu ir para casa.

- Você é incrível, sabia? Eu te amo muito. - ele me disse, e meu coração bateu mais rápido - Você é o melhor amigo que alguém poderia ter. - Claro... Nós somos apenas amigos...

Olhei ele indo embora e suas costas no pôr do sol, desejei poder escrever meu nome nelas.

Bem, amar James Jones não era fácil.

Eu sabia de várias coisas.

Eu sabia dizer quando os meus amigos estavam tristes.

Eu sabia dizer quando alguém estava mentindo para mim.

Eu sabia dizer os 16 primeiros dígitos de pi. ( 3,14159 26535 89793 a propósito)

Eu sabia dizer a distância entre a Lua e o Sol.

Eu sabia a tabela do um ao 20 de cor e salteada.

Eu sabia dizer quando meus pais brigaram, mas não queriam contar para ninguém então apenas ficavam em cômodos separados.

Eu sabia dizer quando meu irmãozinho mais novo tinha quebrado alguma coisa, porque ele sempre entrava no meu quarto e se escondia debaixo da cama, e a minha mãe sempre iria colocar a culpa em mim, mas eu não ligava, porque ele iria ficar mais triste do que eu.

Eu sabia que queria entrar em Harvard e me formar em medicina.

O fato é que eu apenas sabia das coisas. Porque foi como eu aprendi a viver.

Mas, depois daquele dia, eu percebi, pela primeira vez, que existem coisas na vida que eu não sei, coisas que são confusas.

Bem, James Jones definitivamente era uma dessas coisas.

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⏰ Última atualização: Oct 05, 2022 ⏰

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