Cabelos de Fogo

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Não sei quando comecei a reparar em tantos detalhes sobre ele. Não sei quando comecei a ansiar que ele estivesse por perto mais do que poderia ser considerado normal para dois amigos. Eu sentia meu coração batendo como se houvesse um tambor no meu peito. Ele saltava querendo pular para fora e sentia minha garganta fechando. Tudo porque esse fato chegou até a mim.

Caleb estava deitado na minha cama. Com a cabeça no meu travesseiro como sempre fazia. Tinha o celular na mão e olhava algum vídeo aleatório. Eu não queria parar para analisar o porquê de querer sentir o cheiro do seu shampoo que ficava impregnado no travesseiro depois que ele ia embora. Não queria ter que entender o porquê que meus olhos sempre tem procurado sua boca para olhar. Que descobri que tinha uma pinta no canto que só se ver se olhar com atenção.

Caleb tem sido meu amigo por anos. Sempre fomos inseparáveis. Estudávamos na mesma escola. Praticávamos os mesmos esportes. Gostávamos das mesmas matérias. Iriamos até fazer o mesmo curso. Não planejamos isso. Apenas tudo caminhava para que fosse assim. E estávamos confortáveis sobre isso. Eu estava confortável. Até esses últimos meses.

O que mudou? Não saberia dizer.

Antes quando olhava para ele, via o meu amigo. Um cara de um metro de setenta e cinco. Cinco centímetros mais baixo do que eu. Magrelo. Talvez branco de mais. Cabelos ruivos e compridos que viviam presos em um rabo de cavalo mal feito. Sempre tinha uma mecha bagunçada caindo na cara. Olhos azuis, e algumas sardas sobre o nariz e as bochechas.

Agora não podia parar de reparar que seus olhos azuis não eram apenas azuis. Eles pareciam um reflexo do humor do oceano. Porque comecei a saber exatamente o que ele sentia só olhando aquele oceano. Que me engolia toda vez que olhavam para mim.

Que seu corpo magrelo não era tão magrelo assim. Ele tinha músculos suaves que os jogos de basquete nos proporcionavam. Sua pele branca parecia ter um toque suave e eu segurava toda vez o impulso de querer contar cada pinta que eu via em seu corpo, passando o dedo em cada uma delas.

Eu não sabia a textura de seus cabelos. Nesses últimos tempos me vi com curiosidade de saber. Mas não seria nada menos que macios. Isso eu tinha certeza. Queria eles soltos naquele mesmo travesseiro que ele se encontrava agora. E olhando para mim exatamente como olhava agora.

_ Ei! Está no mundo da lua? Te chamei três vezes já. Porque está olhando para mim assim? Querendo ler minha áurea? _ Ele riu da própria piada e eu não pude deixar de rir também por ver seus olhos fecharem como sempre faziam quando ele ria de verdade.

_Só estava pensando em como as coisas irão mudar. Esse é nosso último ano na escola e não sei o que esperar de agora para frente. _ Não menti. Realmente isso vem me perturbando a mente. Mas esses sentimentos em relação a ele têm tomado a maior parte das preocupações.

_ Noah. Já falei que vamos estar juntos nessa. Eu também estou com medo. Mas quando lembro que vou ter você do meu lado, parece que tudo fica mais leve. È só mais uma fase que vamos passar juntos.

Merda. Porque ele falava essas coisas dessa forma? Ele não percebe como isso me afeta? Como isso soava para meus ouvidos?

Caleb sempre foi mais centrado. Parecia estar ligado a tudo que acontecia a sua volta e analisava antes de fazer qualquer coisa. Sempre me acalmava quando não sabia o que fazer. Ou me distraia para não ficar pensando em algum problema que não encontraria solução naquele momento.

Ele sempre foi meu porto seguro e só fui capaz de perceber isso agora. Será isso o início do que eles chamam de começar a ser tornar um adulto? Começar a analisar seus sentimentos e dar nomes a coisas que antes passavam despercebidas ou pareciam ser irrelevantes? Mas que agora eram tão necessárias como o ar que eu respirava naquele momento.

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