Arlinda tinha íris preto meio azulados, meio cinzentos, fulgentes. Eram como as de um gato da sorte japonês. Não dava para ver suas pupilas. Seu nariz era bem longo e triangular, como o de um desenho animado, e seus lábios, ínfimos e naturalmente crispados, mantinham-se em uma linha digna. Possuía uma crina curta e lambida, descendo até ultrapassar sua mandíbula na parte frontal e ficando batida em sua nunca. Cobria parte de sua face.
Ela era como uma velhinha com frio, bem encolhidinha, olhando para baixo e brincado com os dedos calosos. Dedos calosos eram sempre um bom sinal, eram sinônimo de esforço. Era bastante insegura, dava para ver. De vez em quando, seus olhos vagavam freneticamente de um lado para outro, como se quisesse atravessar uma rua movimentada. Nunca fitava Isabella nos olhos. Gaguejava demais e engolia as palavras tal qual uma criança. Isso não abalou Sua Alteza.
- O que tem achado da festa, senhorita Lucien?
- É... é.... hã... b-bem.. – Demorou algumas cacofonias de hã's e bem's para que ela pudesse elaborar uma sentença sucinta. – N-normal, acho.
- O que é normal, acho? – inquiriu, querendo extrair mais do que uma resposta política dela.
- N-não faz meu estilo... – Outra resposta política, mas pelo menos com essa dava para saber que não era de seu agrado.
- E qual é o seu estilo?
Arlinda franziu os lábios, era incrível como sua boca desaparecia quando fazia isso. – A-algo mais calmo, s-suponho.
- Por exemplo?
Aquelas perguntas já começavam a irritar Lucien. Exatamente o que Isabella queria, quando perdesse a compostura, a garota mostraria suas verdadeiras cores.
- U-um encontro informal com a-amigos próximos.
- Como funciona esse tipo de festa?
Ela explodiu. – C-com todo respeito, V-vossa Alteza, não entendo o que vosmecê quer com uma p-pária como eu, nem suas intenções ao me fazer esse tipo de p-pergunta. N-não tenho nada a l-lhe oferecer.
- Nem sempre dá para entender a intenção das pessoas – foi dizendo Isabella languidamente. – O que você veio fazer aqui, senhorita Lucien?
Se Arlinda fosse inteligente, e Sua Alteza acreditava que era, entenderia a mensagem escondida em suas palavras. Se queria extrair alguma coisa da jovem de olhos azuis, precisava mostrar suas cartas antes. A herbalista assentiu em compreensão e seu estresse se esvaiu.
- V-você deve saber sobre a s-situação do meu pai, certo? – Isabella fez que sim. – Tem s-sido muito difícil p-para todos nós, mas ainda n-não queremos desistir quando sabemos que se sucedermos em nossas p-pesquisas, elas v-vão se tornar benéficas para t-todo império, talvez.... talvez para t-todo o mundo. Eu, sinceramente, n-não sou fã de festas, no entanto eu t-tento comparecer a elas de tempos em tempos. T-tenho a esperança de que t-talvez eu consiga um i-investimento se conseguir convencer a-as pessoas certas de que esse projeto é b-benigno.
- Não pensou em tentar me convencer a investir no projeto? – sondou abelhudamente.
- C-claro que pensei, m-mas não posso simplesmente sugerir a ideia sem que você m-mostre interesse antes. Vosmecê é a futura Imperatriz, se eu lhe chateasse com e-essa conversa, o tiro poderia s-sair pela culatra e v-você poderia se juntar a facção antipesquisa. Não sei se minha família aguentaria p-prosseguir com esse projeto com a f-familia imperial contra n-nós.
- Isso foi sábio da sua parte. Entretanto, só um pouquinho. Perder sua calma comigo poderia ter feito eu me virar contra você também, sabe?
Arlinda empalideceu um pouco, mas ela já era pálida para começar. – E-eu s-sinto m-muito p-por a-aquilo, n-não s-sei o q-que d-deu n-na m-minha c-cabeça.
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O Imperador Vermelho
Romance"Ele ascendeu ao trono em degraus de sangue". Quando Isabella foi misteriosamente teletransportada para uma realidade completamente distinta daquela a qual a jovem conhecia e que, como regalo, estava sob o constante ataque de bestas mágicas, ela não...