O verão que também mudou a minha vida

Cruel summer

   Eu e Belly nos conhecemos quando tínhamos 6 anos. Quando eu me mudei da Itália sabendo apenas um pouco de inglês e entrando num mundo totalmente diferente. Eu sou filha de um italiano tradicional, com família tradicional, daquelas que se unem no domingo pra comer massa e falar alto, e de uma brasileira que nunca me deixou esquecer o melhor do país dela. Ela não queria se casar com o meu pai pois dizia que a vida era surpreendente demais para se prender a um cara no primeiro ano após a faculdade. O engraçado era que de fato a vida era surpreendente pois eu surgi de uma hora para a outra, o resto vocês já imaginam. Meus pais viviam viajando, conhecendo o mundo enquanto trabalhavam, mas, quando eu fiz seis anos, resolveram se estabelecer em um lugar só e me verem crescer sem a loucura de ter que fazer amigos todo início do ano letivo. Assim que cheguei percebi que ninguém me entendia -literalmente- e era muito difícil me enturmar, aí que Isabel Conklin entra na história, ela não se importava se eu não falava inglês direito, ela fez questão de arrumar uma maneira de de comunicar comigo.
Belly cresceu passando todos os verões indo à Cousins, sempre foi assim. Quando nos conhecemos ela fez questão de me incluir na tradição mais especial que ela tinha, de me incluir não só na sua vida na escola, mas também na sua família. Então, desde que tenho 7 anos eu passo meio verão na casa dos Fishers, em Cousins. E foi o lugar que mais me senti acolhida, eles são minha segunda família. Nesse verão meus pais estão comemorando 17 anos juntos e por terem uma vida muito ocupada não conseguiram comemorar com estilo os anos anteriores, por isso resolveram viajar pela Europa nesse verão, o que significa que eu teria que passar o resto do meu verão com minha nonna na Itália, mas, apesar de eu amar Florença, eu amo muito mais estar em Cousins. Então, nonna, deixa pro próximo verão.



- Belly, Trixie, Steven, nós saímos em 10 minutos - Laurel gritou do andar de baixo. Meus pais viajaram na noite anterior e eu dormi na casa dos Conklin, ou pelo menos tentei. A ideia de passar um verão inteiro, pela primeira vez, em Cousins me deixou acordada boa parte da noite.
- Sério, B. Eu tô tão feliz, acho que meu desejo se realizou, poder passar um verão inteiro com você no meu lugar favorito vai ser incrível. - Belly disse enquanto colocava mais um maiô estilo nadador dentro de sua mala.
- Primeiro, sim, eu estou muito animada também, segundo, seu desejo envolve Conrad e língua, não eu, mas obrigada. Terceiro, por favor não leva esse maiô sem graça. - Eu disse com um sorriso no rosto, ia ser o melhor verão das nossas vidas.
- Primeiro, ew, eu não sou uma cabeça-oca que coloca todas as expectativas de ficar com um garoto acima de qualquer outra coisa, incluindo as amigas. Segundo, não há nada de errado com o meu maiô, você também usa um parecido e eu não fiz nenhum comentário. - Belly rebateu.
- Primeiro, chega de enumerar as coisas - eu disse rindo - Mas eu não quero impressionar ninguém, Bells, se você quer chamar atenção de um certo alguém você tem que mostrá-lo seus novos peitos, vai por mim. - completei.
- Oh meu deus, Beatrice, sua depravada, sinceramente eu não acredito que você fala essas coisas. Você tem lido muitos romances, acho melhor parar. - Belly disse e depois completou fazendo careta. - Sem contar que você quer sim impressionar alguém, não é porque você vê o Steven - Belly fez uma pausa dramática para fingir que ia vomitar - todo o ano que no verão não possa ser diferente, afinal seus peitos são muito mais chamativos que os meus, se eu pudesse roubaria sua genética brasileira.
- Meninas, aqui embaixo, agora. - Laurel nos chamou, ia acontecer, finalmente estávamos indo para Cousins.
- Salva pelo gongo, salva pelo gongo. - Belly sorria dizendo enquanto eu já me encontrava com o pé na porta.

A viagem para Cousins foi ótima, havia algo de especial em fazer aquele percurso, o sentimento de alívio depois de um ano de muito estudo e nada de festas ou garotos. Belly estava disposta a transformar aquele verão no melhor das nossas vidas, nós pensamos em cada detalhe desde o segundo que descobrimos que eu ficaria lá por todo o verão, ia ser simples: faríamos tudo ao contrário da Belly e da Trixie originais, iríamos à festas, fogueiras, encontros, ficaríamos até tarde acordadas, menos tempo com Susannah e Laurel e mais tempo com os meninos e seus amigos, esse seria nosso verão. Belly finalmente teria um olhar diferente de Conrad e eu de Steven, ou pelo menos era o que ela dizia. 

Desde que conheci Belly passei a frequentar a casa dela, quando me mudei nós tínhamos alugado uma casa que era longe de tudo, inclusive a casa dos Conklin. Depois que nós tornamos melhores amigas, fiz meus pais comprarem uma casa que fosse próxima a minha única amiga, eu jurei que só iria aceitar ficar num país estranho se pudesse ficar perto dela. Apesar de eu ser muito persuasiva a opinião de uma criança de seis anos meio que não faz diferença, mas minha mãe sabia que eu precisava de Belly, então nós mudamos para a mesma rua, algumas casas depois. O que significa que eu vivia na casa da minha melhor amiga e vice-versa, Steven era tão familiar pra mim quanto Belly, entretanto, me apaixonar por ele foi algo que eu não previa, simplesmente aconteceu.
Parecia tudo igual, a casa, o céu, as árvores em volta, A casa de Beck - nome de solteiro de Susannah, mãe dos meninos e melhor amiga de Laurel, uma das minhas pessoas favoritas do mundo -, tudo parecia da mesma forma que sempre foi, desde a primeira vez que vim aqui, há 9 anos. Eu lembro do meu primeiro meio verão aqui, tínhamos 7 anos, minha mãe como uma brasileira normal tinha pânico só em pensar em me deixar com desconhecidos, mas, depois de Laurel me acolher sem nem pensar duas vezes, ir para Cousins com eles só parecia ser o certo. Belly me apresentou aos irmãos Fisher, desde novos já tinham personalidades visivelmente distintas, Conrad era protetor, mais fechado, Jeremiah exalava divertimento e travessuras, naquela época estávamos na fase em que meninos eram chatos e éramos superiores à eles estão passamos boa parte da minha estadia lá sem muito contato com eles, até um dia em que resolvemos ver um filme de terror sozinhos. Os meninos pretendiam nos assustar, estávamos vendo O Chamado escondido a meia noite, o plano deles consistia em telefonar para a casa no momento exato e fingir que não sabiam de nada, o engraçado era que naquela época ninguém tinha celular então era impossível ligar para o telefone, então o plano deles falhou. O que não evitou de quase morrermos de tanto medo, Laurel estava trabalhando em um dos seus livros, o meu favorito, devo dizer, e então desceu com uma aparência de cansada e desajeitada em busca de água. Só que ela estava tão cansada que acabou caindo no chão da cozinha e tentando amenizar a queda com as duas mãos no chão, seu cabelo ficou todo para frente e, sinceramente, eu achei uma ironia muito grande do destino ela estar vestindo uma camisola branca nesse dia, nós ouvimos o barulho e olhamos todos ao mesmo tempo para encontrar o que Steve juraria de pé junto ser a Samara. Naquele dia acordamos a casa inteira com nossos gritos, o que resultou em nada de TV para nós durante todo resto de verão. Eu nunca me esqueceria disso, foi o meu primeiro verão lá mas eu já me sentia pertencente.

- Olha quem chegou!! - Jeremiah e Steven se abraçaram e eu juro que vi os olhos dos dois brilharem, Jere era a Belly do Steven, os dois se completavam.
- Meu deus, minhas meninas já são mulheres, não posso acreditar, venham logo aqui. - Susannah nos abraçou sorrindo e nos apertando - Como eu senti falta de vocês. - ela completou
- Também sentimos sua falta. - Dissemos em uníssono.
- Uau, Belly, os aparelhos e os óculos, meu deus, como você está linda. - Disse Susannah passando a mão pelos cabelos dela.
- E você, Trixie, quando você ficou tão alta? E seus óculos? Meu deus, vocês estão muito diferentes, vamos, quero saber tudo que perdi durante esse ano, entrem. - Susannah parecia genuinamente feliz enquanto entrava com Laurel.
- Vocês chegaram. - Conrad caminhou até a gente - Belly, Trixie - Ele disse, demorando seu olhar em Belly que estava corando. Vocês estão diferentes. - Ele completou quase sem olhar para mim.
O momento de constrangimento foi interrompido por Jeremiah 

- Olha quem voltou toda crescida - Jere abraçou Belly e a girou - Uau, Trixie, até você? - ele sorria enquanto dizia essas palavras. Isso sempre foi algo que amei em Jeremiah, não importa o momento, ele sempre estava feliz. Estava chovendo demais para ir até à praia? tudo bem, podemos brincar de exploradores em casa. Quebrou o braço durante um pulo nada correto na piscina? ótimo, agora garotas podem assinar seu gesso. Eu chamava do "Jeito Jere de viver".

Nos abraçamos e conversamos enquanto entrávamos na casa. Era tudo como eu me lembrava, como se fosse intocado durante todo o ano, só para que estivesse perfeito quando nós voltássemos.