Onde Me Meti? (part. 3)

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"Madrasta, Gabriel? Sinceramente você tá merecendo levar os tapas que eu não te dei quando era criança, talvez tenha sido isso que te falta."

"Calma coroa, foi pra descontrair, t-tendeu?"

O menino falava de forma arrastada, levemente bêbado.

"Descontrair, descontraída vai ser eu quando te der uns tabefes!"

A mulher disse isso e se dirigiu ao sofá, seu filho fazendo o mesmo, eles se santaram e Gabriel se aproximou da mãe, se aconchegando e fazendo gestos indicando que queria carinho, ela o abraçou e acariciou seus cabelos.

"O que a Paula tava fazendo aqui, mãe?"

"Ah filho, ela queria conversar algumas coisas que deixamos passar e tal."

"Sobre?"

"A entrevista, coisas que toda pessoa devia saber sobre o parceiro, ela disse."

Ela falava distraída, olhar longe. O menino notando isso, saiu de seu abraço e olhou a mãe.

"Ah, só isso? É que quando eu cheguei tava o maior climão."

"Sim, é só isso sim, não tinha climão nenhum, meu filho."

Carmem disse enquanto se levantava e ajudava seu filho a fazer o mesmo, guiando Gabriel para o seu quarto, o botou para dormir como criança e deu um beijinho em sua cabeça.

A mulher pensou em tudo que fez para criar ele da melhor forma possível, tantos momentos que ela deixou de ficar com ele para trabalhar e dar a ele um futuro bom.

"Eu te amo, filho!"

O menino que ainda não tinha dormido murmurou um eu te amo de volta.

Carmem foi se deitar e pensou que ela nunca admitiria, mas ultimamente ela até gostava de passar um tempo com Paula, pensou também sobre seu estranho interesse que a Terrare tinha em saber sobre sua vida amorosa, e teve que se lembrar que elas eram rivais, por mais que tivessem dado trégua por um tempo ela não poderia baixar guarda.

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Casa de Paula Terrare :

Paula chegou em sua casa relativamente tarde, esquentou as sobras da janta e comeu, passou no quarto de Ingrid e desejou boa noite, mesmo que a menina não ouvisse, aquilo confortava Paula. 

Paula fez seus ritos diurnos e foi se deitar, pensando nos dias que seguiriam, e em como tinha muito de Carmem que ela não conhecia, faces da mulher que ela não tinha idéia, faces essa que a impressionavam demais.

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Dois dias se passaram voando, nervos nas alturas para a entrevista que ocorreria naquele dia, precisamente as 19h.

As 17h as mulheres chegaram, seus filhos chegariam uma hora e meia depois, apenas para acompanhar o programa. Quando chegarem uma mulher as recebeu, indicando o respectivo camarim para que pudessem se arrumar.

"Oi, ou mocinha, e o meu camarim?"

A loira perguntou.

"Ah, eu pensei que vocês poderiam dividir, né? Dada a situação de vocês."

A mulher de cabelos curtos, a produtora, disse e deu de ombros.

Paula que já tinha ido para o camarim voltou quando ouviu o que Carmem falou, e foi até as mulheres para esclarecer o ocorrido.

"Oi, querida, qual seu nome?"

"Aline."

"Então Aline, a minha namorada aqui - Paula dizia enquanto passava os braços em torno de Carmem, que a olhava com curiosidade -ela é bem brincalhona mesmo, mas vamos ficar aqui, fica tranquila!"

Paula dizia enquanto apertava Carmem pela lateral do corpo esguio, ela se mantinha com postura ereta, braços para baixo, meio desconcertada. A menina respondeu com um simples "Ok" e saiu.

Elas entraram e Paula disse :

"Tá maluca Cascacu? Mas o que foi isso? "Camarins separados"?

Paula falava e fazia gestos exasperados, queria gritar, mas se conteve.

"Ai, é que eu esqueci, Paula."

Carmem falava com um tom de desculpas, esboçando um leve beicinho.

"E como vamos fazer pra nós nos arrumarmos, Paulete?"

"Como assim?"

"É, esse espaço mequetrefe, essa caixa se sapatos não foi feita para duas pessoas usarem ao mesmo tempo, não tem um banheiro, o banheiro fica no corredor de trás, vamos nos arrumar como?"

Ponderando uma resposta para uma questão lançada a si, a morena finalmente respondeu :

"Não tinha pensado nisso, mas de uma forma ou outra temos que nos arrumar, né? Vira aí."

Ditava ordens a mais velha, que não queria ter que lidar com Paula seminua (talvez nua?) com ela naquele cubículo.

"Não, espera ai, eu vou sair."

Carmem disse, tomando rumo para a porta.

"Fica aí mesmo Carmem, já não basta a bola fora de hoje cedo e vc vai ficar pra fora? Não, fica aí mesmo que vão achar que estamos brigadas."

Carmem ficou sem jeito, mas ficou ali mesmo.

"Vira aí, Carmem!"

Disse Paula, Carmem a olhou como se ela fosse doida.

"Como vira aí? Vira aí pra quê?"

"Vira aí pra eu me arrumar."

A Terrare disse isso como se fosse muito óbvio, ela acenou para Carmem se virar e ela também se virou. 

Pela visão dos espelhos que ficavam nas duas extremidades do pequeno cômodo, Carmem teve vislumbre de Paula, de suas costas, mas rapidamente desviando, pois não era muito legal espiar, e mal sabia ela que Paula a observou se vestir também.

Elas se vestiram e se maquiaram, ficavam andando dum lado para o outro no pequeno cômodo, até que se chocaram uma contra a outra e chocaram seus corpos, cambaleando uma para cada lado, e com todo o nervosismo acumulado as restou implicar com quem estava mais perto.

"Não olha pra onde anda?"

Disse Paula, na intenção de atazanar um pouquinho a Wollinger.

"Você que não vê, ou viu e fez isso de propósito."

Elas começaram algo que não parariam tão cedo se seus filhos não tivessem chegado para avisar que elas entrariam ao vivo em 5 minutos. Eles avisaram e se retiraram, indo buscar um lugar para assistirem o programa.

"Tá pronta, Carmem?"

"Eu achei que eu tava, mas não sei não..."

Ela dizia enquanto se abanava e respirava fundo, a Terrare notando aquilo, respondeu :

"Você tem que estar, não chegamos longe para desistirmos aqui."

Disse, e dessa vez abraçou Carmem de forma genuína, braços em volta da cintura da loira, mãos fazendo círculos suaves para acalmá-la.

"Eu vou estar lá com você, tá?"

A goiana falava com uma voz reservada apenas para sua filha, Carmem respirava fundo e se acalmava enquando recebia aquele alento vindo de quem menos esperava.

"Tá, mas acho que você já pode me soltar."

Foi o que Paula fez, soltou Carmem e agarrou sua mão, que tremia, algo que Paula tinha notado, a Wollinger ainda não estava 100%, nem queria demonstrar isso.

"Pode soltar, Paula."

Carmem disse, levantando a mão e os braços unidos das duas.

"Eu já entendi, mas quero entrar assim com você."

Então Carmem assentiu e elas foram esperar serem anunciadas pela apresentadora.





O Acordo de Milhões - CarrareOnde histórias criam vida. Descubra agora