Eu me embrenho entre árvores nuas e sem-vida.
"Eles estão nos alcançando!", alerto olhando duas ou três vezes para trás, com o coração à mil."Rápido!", exclamou minha amiga ao lado, com as vestes todas ensaguentadas e o nariz inchado, na qual ela estancava-o com a manga comprida de sua blusa de lã.
Eu sou a mais rápida do grupo, e por isso, estou na liderança.
"Anda logo, Stacy!", reclamou Emily logo atrás de mim.
Nos embrenhávamos cada vez mais na escuridão da floresta, e estávamos perdidas e exaustas.
Agora as árvores eram mais nodosas e folhosas - e juntas. O que nos dificultava para correr sem tropeçar numa raiz para fora do solo úmido, ou dar de cara com um tronco de árvore. Sobretudo, tivemos que diminuir o passo. Sempre atentas a qualquer ruído que não fosse nosso.
Logo estávamos caminhando em fila indiana, pulando raízes e se encontrando com barreiras de árvores que não nos ajudava em nada.
"Deve ser só um esquilo.", disse Kimberly encostada num tronco duas vezes maior que ela, se recompondo.
"Está de brincadeira, né? - indagou Jana. "Um esquilo não faz esse barulho, e sei que todas vocês ouviram também." - retrucou a garota melancólica.
Interrompi a discussãozinha das duas.
"Que seja, se é um esquilo ou uma bomba atômica. Eles já devem estar muito perto de nós, então, temos que nos esconder."
"E onde, oh esperta? Subir numa árvore? Você acha mesmo que ELES não vão nos descobrir? Se fosse isso, já teria feito a tempos.", Stacy indagou irônica, coberta de arranhões no rosto e nos braços, feito pelos finos galhos e gravetos de árvores.
"Aqui!", exclamou Kimberly, apontando para o chão.
"Onde, Kim?", indago à ela. Kimberly continua apontando para o solo úmido e arenoso, repleto de folhas decompostas e galhos secos. "No chão?"
Kim revira os olhos e dá um passo à frente, inusitadamente abre-se um buraco - o bastante para uma pessoa passar por vez - e ela cai no breu sem fim.
"Ahh!", berrou Stacy, que agachada bem perto do buraco, mas com cuidado para não cair também e gritou para Kim: "Kim, está tudo bem aí?"
Demorou um pouco para ela responder, mas por fim, ela retruca:
"Pode descer, é seguro!", confirmou ela."Não me parece muito seguro.", murmurou Jana.
"Bom, meninas, no momento, parece ser mais seguro do aqui com ELES vindo em nossa direção.", digo, e logo, pulo no buraco escuro. Ouço, Jana gritando por mim, surpresa pela minha decisão, mas eu não presto atenção nas tentativas falhas de minhas amigas me puxarem de volta para a superfície, eu já estava bem longe delas. E o buraco de terra enraizada parecia um labirinto subterrâneo, repleto de bifurcações. Parecia mais um escorrega escuro que não havia fim. "Nossa, sinto que eu esteja já à quilômetros da floresta."
Sem ter tempo para concluir minha teoria, pisoteio o solo arenoso. "Então o buraco tem fim.", murmurei com escárnio. "Kim!", chamo, mas me assusto com minha própria voz, que ficou dez vezes mais alta. "É claro, eco.", penso. "Kim!", chamo de novo, mas num sussurro desta vez.
Algo me puxa, e eu grito, mas este alguém tampa a minha boca com suas mãos todas sujas de terra e arranhões. "Kim?", indago assustada.
"Shiu!", a voz sussurra no meu ouvido. Ela, com cuidado, tira as mãos dela da minha boca, e ainda fazendo sinal de silêncio, perguntou num tom quase inaudível: "E as outras?"
Suspirei aliviada. Era a Kim.
"Não sei ao certo, Kim, elas não queriam entrar num buraco escuro qualquer, mas eu expliquei à elas que aqui seria bem mais seguro do que lá fora, com ELES à solta. Talvez elas ainda estejam descendo do escorrega. Bom, eu espero que elas ainda não estejam nos esperando na floresta.", digo, o suor escorrendo das minhas têmporas. Eu sou a líder, eu devia cuidar de toda. Sem exceção. "Kim, eu estou com med..."
PUM.
Algo desajeitado e pesado cai sobre mim.
"Ai!", exclamo, deitada de bruços no chão, com o peso nas minhas costas."Desculpa.", ouço a voz de Jana. E apesar de estar dolorida, esboço um sorriso aliviada.
"Tudo bem.", digo com a respiração encurtada. "Onde está a Sta..."
PUM.
Mais alguém cai em cima de mim. Reviro os olhos, irritada.
"Tem tanto espaço nesse buraco, e vocês tinham que cair em cima de mim?, acuso. "Dá para saírem de mim, quero me levantar."
"Ah desculpa.", Jana e Stacy disseram em coro, ambas finalmente saindo do meu lombo. "É que estava tão confortável.", completou Jana, sonhadora.
"É! Estava! Menos para mim!", reclamo, massageando meu bumbum e fazendo alongamentos nas costas e nos ombros.
Caminhamos em silêncio, eu na liderança, e Kim, ao meu lado. O restante, atrás de mim.
As paredes eram feitas da mesma terra enraizada que o escorrega, mas com algumas vinhas entrelaçadas em cipós e mais raízes. Estávamos caminhando a poucos minutos, mas eu - pelo menos -, já comecei a sentir falta de ar. O túnel escuro onde estávamos perambulando era bem abafado. A única entrada de ar que sabíamos que existia era por onde caímos, é claro, mas já estava bem longe de onde estávamos.
Comecei a ficar para trás. Apesar de ser a mais rápida do nosso grupo, eu tenho asma, e isso acarreta muito, principalmente depois de uma longa corrida - como aquela feita meia hora atrás.
Emily percebeu que eu estava com dificuldade para respirar.
"Ei.", ela chamou a minha atenção. "Você vai ficar bem. Nós vamos ficar bem.", e sorriu para mim, como consolo. Eu, apesar disso não ter ajudado com minha falta de ar, fez com que eu me sentisse mais protegida e certa de que sairíamos dessa juntas, então, devolvi o mesmo sorriso. "Onde está sua bombinha, Emma?", indagou ela, preocupada.
Nego com a cabeça.
"Já revirei todos os bolsos possíveis do casaco e da calça. Não está comigo. Devo ter deixado cair na floresta."Emily me olhou com pena, e passou o braço por debaixo do meu, e assim, ficamos caminhando abraçadas de lado por alguns minutos até eu dar um pulo, assombrada.
"O que foi?", indagou Emily que se soltara do abraço, assustada. As outras também olharam para mim, curiosas.
"Estamos ferradas, estamos ferradas, estamos ferradas!", exclamo sem pensar em outra coisa, beira às lágrimas. "Desculpe meninas, não sei se sou uma líder muito boa, é melhor uma de vocês me substituírem.", exalto.
"O que houve, Em?", Kim me pressionou.
Soluço.
"A bombinha.", mais soluços. Eu engulo o choro. "Eles sabem onde estamos.", engasgo. "Deixei cair na floresta minha bombinha, se ELES viram minha bombinha caída por aí, ELES vão nos encontrar mais rápido do que imaginamos.", explico em meio aos soluços."Ótimo!", murmurou Stacy, de cara amarrada.
"Parem de tagarelar feito hienas e CORRAM!", Jana exigiu.
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Caçadoras das Sombras
FantasyUm grupo de amigas estão fugindo de algo muito ruim no meio da floresta, mas ela se embrenham tanto na escuridão que além de exaustas, ficam perdidas. Alguém pode ajudá-las??