Ninguém além de você (CONCLUÍDA)

Crime

A passagem do tempo não era nada para a Dama Yanli. Ela tecia sem se importar se em Zárya passavam minutos, meses, anos ou décadas. Sempre observando.

Os fios que se desligavam das pessoas que morriam, ela os tirava e colocava em um cesto com cuidado. Eles seriam renovados e fortalecidos e quando fosse o momento, sabia que Xanty Hue se incumbiria de mandar de volta os mesmo para que ela os tecesse em uma nova história, em uma nova vida, um novo quadro.

Ela puxou um dos fios que acabara de se soltar. E percebeu que ele estava escuro. Sem a áurea da alma que ali deveria habitar e franziu o cenho, horrorizada com aquilo e se voltou à tapeçaria. Ela deveria ter errado algo, não era possível que alguém fosse tão egoísta a ponto de não permitir uma alma retornar para se purificar e descansar.

Dama Yanli sentiu os dedos tremer com a cena que viu bordada ali. A pobre alma já estava rachada pela perda, pela dor. A única coisa que a mantinha ainda unida, mesmo em rachaduras, era o amor e sorriso de seus filhos, mas quando ela não aguentou mais lutar e se deixou partir e se quebrar por completo, foi impedida. Ela não poderia ser reparada, mas foi preservada por um ser de coração egoísta que sempre a quis para si.

Ela quis cortar o fio daquele ser em meio a sua ira, mas o céu abaixo de seus pés trovejou e um belo homem de cabelos prateados apareceu. Ele arrastava o seu hanfu vermelho sangue com detalhes dourados pelo chão e Yanli, ao vê-lo, se colocou de pé, ficando diante dele e se ajoelhando em reverência em seguida.

_Dama Shendi Yanli, o que pensou em fazer?

_Meu senhor... Aquele homem...

_Não importa o que aquele alfa fez. Você não deve interferir. Você apenas tece os acontecimentos presentes para ficar nas memórias dos tempos deste mundo. – Hue estendeu a mão para ela que a aceitou, a colocando de pé – Não interfira. Cada mau e cada bem tem sua paga e seu propósito. Todos dão livres para plantar o que quiserem querida, mas a colheita, ela é obrigatória.

Yanli o olhou nos olhos. Os olhos de Xanty Hue eram cinzas e sua pele branca como a superfície da lua à noite. E apesar dele estar a repreendendo, havia suavidade em suas palavras e doçura em seu olhar.

_Me perdoe.

Hue curvou a cabeça levemente e guiou Yanli de volta à sua tapeçaria.

_As próprias escolhas e atitudes desse alfa irão puní-lo. E quando ele retornar para cá, eu irei cuidar dele pessoalmente. Apenas deixe o fluxo do que já está escrito seguir minha jovem Dama. Eu sei como tudo começa e como tudo termina. Eu vejo o passado e o futuro e sem jamais interferir. Um coração cheio de amor, é capaz dos maiores sacrifícios e eu sempre irei recompensar isso. Assim como um coração cheio de ganância é capaz das atitudes mais egoístas e estes, eu sempre irei punir das piores formas.

Dama Yanli se curvou em reverência e Xanty Hue se curvou para ela de volta com um sorriso carinhoso e com elegância se virou e saiu caminhando, desaparecendo depois de dois passos.

Yanli sabia que não poderia interferir, mesmo que aquele homem tenha cometido um crime contra o céu, não poderia ser punido em vida, mas sua alma havia sido marcada e Xanty Hue jamais voltava atrás quando ele decidia marcar alguém...