Facas

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Menos de meia hora depois, estávamos de volta para o treinamento. Dessa vez só os gêmeos e Matthew comigo. E no quartel da Bloody.

Lucas tinha me dado um beijo na testa antes de dar uma ordem a Gatto para continuar nosso treino e sair andando na direção dos escritórios com Chloe, Marcello e Bianca — a mulher que até então estava sem nome para mim.

Então, andamos pelos trilhos de trem até os locais de treino que eles se referiram logo cedo. Pessoas passavam e sorriam para os gêmeos, alguns até mesmo abaixavam suas cabeças a eles. Todos respeitosos, todos calmos indo em direção ao almoço.

A cada pessoa que se aproximava, eu tentava adivinhar onde suas tatuagens estavam, quais eram suas profissões e quais as armas que mais usavam.

Era um passatempo bom, divertido e inofensivo. Tirava a minha cabeça de lugares que não queria que ela fosse. Ajudava pelo menos.

Andamos por alguns minutos, passando por salas fechadas, locais com máquinas de venda e pessoas sentadas em puffs conversando e rindo alto. Era legal, diferente de tudo que achava que Bloody seria. Um lugar descontraído onde os mais estranhos encontraram um lugar para chamar de lar.

Uma família. Por mais estranho que soasse.

Minha mente tinha começado a vagar por esse lugar sombrio novamente, o lugar onde o mês acabaria e eu teria que voltar para uma casa onde as pessoas que moravam lá eram tudo menos família. Um lugar onde eu estaria longe do meu irmão e dos gêmeos e de Matthew. Talvez Chloe tivesse que agir de maneira alheia novamente, só para o bem da sua missão. Esse era lugar sombrio que me ameaçava engolir inteira se eu não tivesse cuidado.

Felizmente, antes de me aventurar demais no breu da minha mente, Gatto tirou uma chave e um cartão do bolso. Ele passou o cartão por um painel magnético que liberou uma fechadura em um lugar que, aparentemente, era uma porta escondida no concreto da parede. Foi só quando escutei o click da fechadura que me dei conta de que havíamos chegado em nosso destino.

E cá estávamos, pelas últimas duas horas treinando feito loucos. Qualquer coisa para tirar cada um de nós do nosso lugar escuro da nossa mente. Eu conseguia ver isso, pelo menos eu não estava sozinha.

Leonardo me ensinava a atirar facas o que, na melhor das hipóteses se resumia a uma catástrofe.

Matthew parecia ter muita mais sorte com os tiros ao lado de Victoria, suas balas atingindo o alvo com perfeição, mesmo depois de ter tido dificuldade em montar sua arma. Isso me indignava.

Me motivava também, claro. Estar atrás de Matt em qualquer situação me deixava com mais raiva que o normal o que, consequentemente, servia como combustível para o meu foco e minha determinação.

Mas facas...

Para falta de palavra melhor, elas eram uma merda. Ou talvez seu fosse a merda com um complexo de superioridade. Os dois pareciam plausíveis naquela situação, principalmente com Gatto gritando pela décima vez na minha orelha:

- Seu pulso, Pirralha! - ele instruiu, pisando no seu terceiro cigarro apagado - Se você insistir em deixar ele preso como se você estivesse com uma arma na mão essa faca não vai pra lugar nenhum!

- ISSO NÃO É TÃO FÁCIL QUANTO PARECE! - berrei de volta, tão indignada quanto ele.

Escutei um riso cochichado e olhei para Matthew, que imediatamente corou e arregalou os olhos. Ele olhou para o alvo logo em seguida, parecendo genuinamente com medo de mim com uma faca na mão.

Bom. Ele tem um senso de sobrevivência.

Bufei, batendo o pé até o lugar onde minha faca estava caída no chão. Ela era mais pesada que as facas que estávamos usando na fábrica, mas eram mais confortáveis também. Infelizmente, isso não ajudava nada contra a dor crescente no meu pulso.

A Verdadeira História de Uma AssassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora