A última visita ao cemitério

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Antenor:

5:33

Caminhava mais uma vez naquela grama alta por entre as covas em direção a você.

Uns dos tumultos mais altos do cemitério. Lembro-me como se fosse ontem quando eu disse para o coveiro que você amava o pôr do sol e lhe pedi para que colocasse seu corpo em um ponto que desse para vê-lo.

Mas eu acabei envelhecendo e meus joelhos não estão tão bons para subir esse morro.

-- Aah estou tão cansado!

Respirava forte, não tinha mais fôlego como quando era mais jovem.

Sentei-me em um toco que antes era uma linda cerejeira, mas infelizmente morreu com o tempo e agora me serve de banco.

Tirei uma carta amassada do meu bolso, a última carta de amor.

Comecei a recita-la

Minha doce Jezabel que não é tão doce assim.

Tenho certeza que com o seu temperamento teria me dado um chute, mas, vamos concordar que você nunca foi uma mulher doce, estava mais para um tamarindo, não veja isso como uma coisa negativa por favor, acho que foi por isso que eu me apaixonei perdidamente por você.

Bem, sinto lhe informar, mas minha caligrafia está pior do que antes, eu sei eu prometi que iria melhorar ela, você sabe que minha memória não é boa então acabei esquecendo de treina-lá.

Lembro-me do dia em que meus olhos foram de encontro aos seus.

Como uma garota de 20 anos poderia estar coberta de lama? Foi um encontro inesquecível.

Sempre com aquelas roupas esquisitas a procura de novas aventuras, tão barulhenta que me dava nos nervos, tão teimosa e egoísta, tão... tão linda...

Nesse momento não consegui conter minhas lágrimas, não consegui conter minha saudade.

Eu te prometi que não choraria mais, eu te prometi muita coisa e nem consegui cumprir, eu sinto sua falta, eu sinto muito sua falta, de suas carícias seus abraços seus beijos nossas noites loucas, sua janela que eu adorava pular escondido dos seus pais, eu sinto saudades de nós...

Foi egoísmo seu pedir para eu ser feliz, para eu sorrir novamente!

Como posso ser feliz se minha felicidade morreu? Ela era você. Como posso sorrir? Se todos os meus sorrisos eram teus.

Você me escreveu uma carta e disse adeus, acha isso justo?

Eu não queria que a carta ficasse tão triste, eu não queria que nossa última conversa fosse essa então eu tive que reescrever ela muitas vezes, ainda continuo indeciso.

Seus olhos eram castanho escuro mas, me fizeram enxergar todas as cores, você me fez enxergar todos os detalhes daquela cidade sem graça, você me fez sentir um monte de coisas que nem nos meus sonhos mais loucos com você eu teria sentido, tomou meu coração como fosse teu, você trouxe o melhor de mim foi minha luz, como pôde me deixar tão louco assim?

Eu ouvi que o amor era uma doença, então por que eu me sinto tão bem?

Estamos no inverno, sua estação predileta, você amava tomar café no telhado da minha casa exatamente essa hora para ver o pôr do sol comigo.

Flashback*

-- Por que você não me olha como você olha para ele?
-- Está falando do Sol?
-- Hum.
-- Não acredito Antenor que está com ciúmes do Sol.
-- Eu nunca falei que estava com ciúmes, eu só queria que você me olhasse como você olha o Sol.

Fim do Flashback*

-- Eu estava com ciúmes só não queria adimitir, mas eu estava.

Voltei a ler.

Logo logo estarei com você minha doce não tão doce Jezabel.

Sabia que a morte estava próxima.

Uma última lágrima escorreu do meu rosto enrugado, não era de dor e nem de tristeza mas sim de felicidade.

Finalmente encontraria minha amada.

Me encostei no seu túmulo e lá descansei em paz.

Eu sempre te amarei.

Eu sempre te amarei

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