Amar é o ser na inexistência e talvez você não entenda a profundidade de um bem querer. É uma abstração em sua potência, é a imaterialidade pronta para ocupar o lado esquerdo do meu banco, aquele que tanto gosto, o da praça abandonada no centro da cidade.
Talvez alguns não entendam - sinceramente, não julgo os que mantém o bom senso - o quão profundo e perturbador é estar ao lado esquerdo do banco, é uma sensação incrivelmente simples e majestosa, quase um pedaço do céu. Mas por amor cederia o lado que está na sombra, dele você pode ver o padeiro chegar com os pães frescos e o cheiro maravilhoso que surge pela leve brisa que sempre vem morna pela rua que contorna o museu, do lado esquerdo você fica longe do carro vermelho esquisito e que cheira mal sempre me deixando em dúvida se aquilo faz parte de uma cena criminal, ficará longe do coitado que está embriagado e largado sempre na mesma ponta da praça como se não tivesse mais esperança na vida e desistiu de esperar o mesmo nada que eu mas o que para mim é o principal, cederei a sombra uniforme que não atrapalhará sua leitura e nem o vislumbre do céu.
Sim, eu gosto do lado esquerdo do banco e ninguém tiraria-me desse presente divino, não há razão para isso, mas eu não me incomodo nem um pouco - na verdade, espero ansiosamente esse momento- em levantar para que o nada sorria confortável ao meu lado, daria meu presente divino a inexistência real. Se você não daria o lado esquerdo, sinceramente? Parabéns, talvez você se livre da ansiedade da espera mas eu admiro os bobos como eu, gosto dos bobos como eu - por favor, falo bobos e não burros- e não temo em falar, ou melhor, pedir para que os amantes do amor reajam e parem de tentar não serem bobos, somos todos abobalhados. Parem de achar que não vale a pena sentir a incerteza da dor, não entende que esperamos o sobrenatural ? Tudo isso não existe, nossa espera é inexplicável, não há nada que mostre o caminho correto do nosso barco e mesmo assim estamos aqui, como um bando de bobos, sentados no lado esquerdo de um banco e sonhando com mares profundos e barulhentos, imaginando o chacoalhar de uma tempestade e sentir tudo isso gritar dentro do peito.
Não é paixão; não tremo, não suo, não gaguejo, não suspiro e nem muito menos me excito, tudo isso são sintomas da patologia da paixão. Então, não falo sobre paixão, falo sobre amor! Esse que nunca senti, esse que nunca apareceu para que eu me levante sorrindo do lado esquerdo.
Amar, no final das contas, é uma escolha divina e não há como ser diferente, é o sobrenatural. Amar não é tempo, não é sensação, amar é nada... exato ! Amar é o nada. Ai como é delicioso os devaneios do nada, com pernas cruzadas a enlouquecer escrevendo poemas e esperando o meu "coisa nenhuma". Simples e intenso, quero que me faça levantar daqui, me faça parar de escrever poemas estranhos e, por vezes, metalinguisticos.
Me faça sussurrar palavras conscientes no seu ouvido, me faça ser poesia em suas mãos e que não seja para a paixão mas sim ao nada, ao tudo, a inexistência, a necessidade. Contenha minha intensidade para ti, supra minha ansiedade sem fazer nada e ocupe o lado esquerdo, eu vou para o direito. Estaremos tomando café e fazendo poemas, seja na vida ou no papel.
Mas saiba que eu não preciso que me complete, já tenho minha imaginação e aprendi a assinar meu nome bem nova, eu preciso do nada. Ah que falta um nada me faz.
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E se for ? Há, quem há de ser ?
Short StoryContos. Só ? Sim, só contos. Sobre o que? Não sei, contos. Não há um tema? Não, que graça teria ? São contos, leia-os se quiser ou se não quiser... pule-os! Para quê se prender? Leia como quiser, faça o que quiser apenas uma vez. Não quer que eu...