1|Herança I

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Clara Silva Bennet

E chegou o natal.
A pior época do ano na minha opinião.

Quando era pequena, em idade porque em tamanho o tempo não ajudou, nunca acreditei no Papai Noel.

Fala sério, a gente tem que se portar bem o ano todo para no final, a gente sentar no colo dele e pedir um presente.

Cara, para isso eu arranjo um Sugar e peço presente o ano inteiro né?

Nunca recebi presente no natal pois sempre fugia do acolhimento de onde estava nessa data.
Assim foi minha infância e adolescência, indo de lar em lar esperando me acostumar com um.

Sempre tive muitos pedidos de adoção por minha beleza, ainda hoje conservada. Minhas curvas e traços morenos, meus olhos azuis e meu cabelo loiro, sempre ajudaram muito.

Mas toda vez que tentavam me levar eu dava um jeito de fugir pois sempre acreditei que meus pais me vinham buscar de novo, que haviam me deixado à porta de um orfanato com dois anos de idade, apenas para ir comprar alguma coisa ou apenas por um tempo, por isso, todas as noite, por mais longe que esse orfanato ficasse, me sentava na porta, na esperança de encontrar eles de novo e voltar para minha casa.

Oh criança burra e inocente.

Pensei assim durante 18 longos anos, a cada dia que se passava na minha nada excitante vida, minha esperança ia desaparecendo aos poucos, lentamente, até aos dias de hoje, onde esse traiçoeiro sentimento já se reduziu a pó faz muito tempo.

Quando completei 18 quiseram me expulsar do abrigo onde estava, não só pela minha idade mas também pelo meu feitio.
Sempre fui muito observadora e atrevida, adoro ver séries criminais, resolver um mistério mesmo que seja pela TV.

Depois do sonho de ser astronauta que acho que é o sonho básico de toda inocente criança, coloquei como objetivo ser espiã, ou detetive, ou policial, algo do tipo. Se bem que a primeira sempre me agradou mais, e passados 6 anos, sou uma das maiores espiãs da indústria americana.

Quando estava prestes a ser mandada embora do lar, apareceu um senhor de uns 50 anos, cabelo e barba brancos, magro e alto, seu nome era Walter e ele insistiu que me queria adotar.

Quis recusar como sempre fazia, mas algo em seu olhar dizia que com ele eu ficaria melhor, seu olhar transmitia segurança e carinho, assim que aceitei, ia ficar na rua mesmo.

Passado uns dias de me adotar ele disse que me tinha procurado por anos, tanto ele quanto meus pais. Ele disse que os conhecia, ele era melhor amigo do meu pai.
Eles eram ambos espiões e me abandonaram por estarem sendo buscados pela Interpol por corrupção. Walter diz que eles foram incriminados, mas nunca irei saber a verdade já que ambos morreram faz dez anos.

Quando recebi aquela informação, por mais estranho que pareça, não senti nada, nunca os conheci mesmo, então, porque chorar por desconhecidos?

Enfim, desde esse dia, Walter me treinou para ser a melhor espiã, me abrigou em sua casa e sua agência, me deu comida, roupa, conforto mas sobre tudo carinho.

Hoje em dia tenho Walter como pai e ele me tem como filha.

Meus pensamentos são interrompidos por um toque de celular. Olho a tela e vejo o nome "Walter" surgir no ecrã escuro, dou um sorriso sem dentes e atendo:

- Oi pai

- Oi minha filha, como você está? - pergunta sua voz rouca e um pouco falha pela velhice;

- Tou bem, e o senhor? - pergunto;

- Também querida, olha, é o seguinte, eu tenho um assunto para resolver e necessito sua ajuda, será que poderia vir? - pergunta esperançoso do outro lado;

IMAGINES DO MALUMA|+18Onde histórias criam vida. Descubra agora