Capítulo 5

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Com os olhos ainda fechados, tentei descobrir onde eu me encontrava. Minha consciência estava voltando aos poucos e usei toda a sua capacidade atual para tentar fazer a descoberta. Senti algo acolchoado abaixo de mim e constatei estar deitada em uma cama. Alguém havia posto um cobertor sobre mim. Passei os braços pelo local e me virei de lado esbarrando em alguma parede tão acolchoada quanto a que eu me encontrava deitada. Não, eu não estava em uma cama. Era algo menor, talvez um sofá. Meu braço esquerdo caiu ao tentar tatear o local, e minha mão encostou no chão.

Onde eu estava? A memória do que ocorrera veio a mim como um soco. Minha paralisia, a Suburban, Mark parando o veículo. Meus olhos se abriram de ímpeto, se arregalando, ao me lembrar das cenas. Com apenas um levantar de mão, ele parou o veículo. Não, isso não pode ter acontecido. Será que fora um sonho? Mas se foi, onde estou, então?

Analisei o local. Estava na sala de alguém, e como imaginara, deitada em um sofá. A sala era grande e conjugada com a cozinha. O ambiente era luxuoso, e apesar da decoração em tons claros parecer ter sido planejada para deixar a atmosfera mais relaxante, o medo que me assolava me impedia de atentar para isso no momento. Havia duas portas, uma ao lado da cozinha e outra na parede oposta e que, aparentemente, dava para a saída da casa. Uma janela extensa se encontrava em uma das paredes da sala e um corredor mal iluminado se estendia para os fundos da casa, mas a má iluminação me impedia de ver além.

Uma voz aguda ao longe ressoava em um timbre áspero. A irritação era evidente. Concentrei-me tentando ouvir melhor, procurando identificar alguma palavra, mas não consegui. Estava muito distante. Eu tinha que procurar alguma rota de fuga para mim, mas estava com medo de que, ao me levantar, alguém aparecesse de algum canto escondido ao perceber que eu tinha acordado. Não sabia se havia alguém à espreita no corredor ou em qualquer outro lugar me vigiando, por isso optei por não fazer movimento brusco algum.

Identifiquei que as vozes vinham da direção da saída, então não tinha outra opção que não fosse a janela ou o corredor escuro para eu fugir. Pensa, Agnes. Pensa.

À medida que o tempo passava, ficava mais difícil escutar a voz feminina. Em algum momento, ela cessou. Instante depois, a porta se abriu em um estrondo. Fechei os olhos, prendi a respiração e fingi ainda estar dormindo. De alguma forma, na minha cabeça, essa era a melhor chance de eu sair bem dali.

Alguns passos ressoaram pela sala.

— Sei que está acordada. — Mark falou. Abri os olhos devagar e ele estava me encarando. — Você não dorme que nem a bela adormecida, como está tentando fingir agora. Tá mais para a Fiona.

Ele estava na cozinha enchendo uma caneca com um líquido quente. Ergui-me, mas continuei sentada no sofá. Passei a mão em meus cabelos, que estavam desregulados, e percebi que minhas mãos tremiam.

Mark se aproximou com a caneca em mãos e a me entregou. O cheiro bom já adentrava minhas narinas.

— É chá de capim-limão. Isso vai te acalmar. — Ele olhou para as minhas mãos trêmulas. — Não precisa ficar com medo. Você está segura comigo. Eles não ousariam machucá-la aqui.

Peguei o chá com cuidado, fazendo de tudo para não derrubar o conteúdo da caneca. Mark deu um passo para mais perto e eu me afastei de imediato. Ele se surpreendeu.

— Você está com medo... De mim? — Ele parecia incrédulo.

A verdade era que eu estava. Sua presença ali me deixava desregulada. Eu não sabia mais quem ele era ou do que era capaz. Eu não o conhecia. Ele não era mais só o novato gato da escola. Ele fez coisas que eu não imaginava serem possíveis para nenhum humano. Mark era um completo estranho para mim agora.

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