sense of home

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Heloísa ouvia o coração ritmado de Leônidas, sentindo os braços dele em volta de seu corpo. Aquela era uma sensação nova, mas já não conseguia imaginar mais sua vida sem aquele som que trazia paz, sem aquele conforto que fazia com que Heloísa pensasse que tudo estava bem. Que tudo estava certo e no lugar. E agora finalmente, finalmente tudo realmente parecia estar onde deveria.

Tinha sua filha de volta e esperava um filho dele. Do amor de sua vida, que respirava tranquilamente enquanto ela acariciava seu peito. Ele estava sonolento e ela também sentia seu corpo relaxar mais a cada minuto que passava. Como se o tumulto dos últimos três dias finalmente estivesse cedendo, deixando uma paz que ela sequer estava acostumada a sentir.

Ainda não sabia lidar com aquela sensação de felicidade que invadia seu peito todas as vezes que pensava em tudo o que havia acontecido. Mal conseguia refletir sobre as mudanças tão rápidas, mas sabia que era bom, que era leve. Que tinha vontade de rir e de chorar sem nenhuma explicação. Estava inundada por sentimentos e imensamente feliz.

Leônidas se remexeu, erguendo um pouco mais o tronco. Ele estava sentado com as pernas para fora da cama enquanto Heloísa se aninhava nele. Os sapatos dela estavam perdidos pelo quarto e suas pernas encolhidas. Sentiu um beijo leve dele em seus cabelos e um resmungo vindo de Leônidas.

- Preciso ir para o meu quarto. – ele disse em voz baixa.

Na primeira noite ele havia ficado ali, no quarto dela, enquanto conversavam sobre a busca por Clara, a descoberta de Olívia, os motivos de Leônidas ir embora. Falaram sobre o filho que esperavam, sobre o casamento, sobre Matias, Violeta e todo e qualquer assunto. Heloísa contou sobre a descoberta da gravidez, os enjoos, tonturas, e só perceberam que um novo dia havia chegado quando Isadora bateu na porta.

Na segunda noite trocaram beijos, declarações, mas quando o ar pareceu faltar de seus pulmões Leônidas disse que estava tarde e precisavam descansar. Heloísa não protestou, mas sentiu falta de estar com ele. Por isso ao ouvir a constatação, ela o abraçou mais forte e respirou fundo.

- Você não precisa ir para o seu quarto. – ela disse, tranquila, arrancando uma risada baixa dele.

- É claro que eu preciso. – ele suspirou. – Ainda não somos casados.

Heloísa afastou-se um pouco, olhando nos olhos dele.

- Eu estou esperando um filho seu, esqueceu? – Heloísa fez careta.

- E como eu poderia esquecer? – Leônidas abriu um sorriso que a desarmou. – A mulher mais linda desse mundo me dando o presente mais bonito que eu já recebi?

- Como você é bobo, Leônidas. – ela revirou os olhos com um sorriso maior que o dele. – Bobo e exagerado.

- Minha rosa, eu passei dez anos guardando a maioria desses elogios. – Leônidas aproximou os lábios dos dela. – Agora eu só quero dizer o quanto eu te amo.

Os lábios dele nos dela sempre causavam uma sensação de borboletas voando por todos os lados. Ele era doce e urgente, despertando nela sempre uma necessidade de tê-lo mais perto. Uma das mãos de Heloísa arranhou levemente o rosto de Leônidas e ele suspirou, aprofundando o beijo ainda mais.

Heloísa desabotoou os primeiros botões da camisa de Leônidas, e com um suspiro pesado ele a afastou. Seus olhos se encontraram e ele deu um sorriso pesaroso antes de selar seus lábios rapidamente por um breve momento.

- Eu tenho que ir. – ele riu, sem jeito. – Estão todos em casa.

- E o que tem? – Heloísa ergueu a sobrancelha, terminando de desabotoar a camisa dele. – Em duas semanas estaremos casados.

Leônidas jogou a cabeça para trás, e Heloísa depositou um beijo no pescoço dele.

- A menos que prefira dormir com o Matias do que comigo.

Ela ficou surpresa ao ouvir a gargalhada de Leônidas e sentir as mãos dele deslizando por seu corpo.

- Sabe bem que se dependesse de mim nós já teríamos completado bodas de estanho. – ele disse.

- Bodas de que? – foi a vez de Heloísa rir, afastando-se dele para olhar em seus olhos.

- Bodas de estanho, minha rosa. Dez anos de casamento.

- Leônidas, faça-me o favor. – ela gargalhou.

- O que foi? – ele segurou os braços dela com delicadeza, mas mantendo as mãos de Heloísa longe de seu corpo. – Assusta a ideia de passar dez anos casada comigo?

Ele tinha um sorriso tranquilo, mas Heloísa sabia que era uma pergunta séria. Era sobre futuro, comprometimento, sobre o amor que ele carregava há onze anos e que ela só havia descoberto ser recíproco há pouco tempo.

- Passar os próximos dez anos da minha vida ao teu lado é tudo o que eu mais quero, Leônidas. – ela disse séria. – Quero criar o nosso filho com você.

Leônidas desviou rapidamente os olhos, e ela sorriu ao ver que estavam marejados. As mãos dela estavam livres para ir até o rosto dele.

- Quero que nosso filho tenha os seus olhos. – Heloísa continuou. – Que tenha a sua generosidade, a sua alma.

- E eu espero que pareça com você... – Leônidas disse.

Heloísa o calou com o indicador.

- É o meu momento. – ela sorriu, fazendo ele sorrir também. – Você me amou incondicionalmente por onze anos, Leônidas. E eu neguei tanto a possibilidade de ficarmos juntos...

Leônidas deu um beijo na ponta do dedo de Heloísa que ainda estava em seus lábios.

- Mas agora tudo o que eu quero é ser feliz todos os dias. – Heloísa sorriu. – Eu não quero esperar mais, meu amor.

- Eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que você seja feliz como merece, minha rosa.

Ela assentiu, o puxando para perto, e Leônidas não ofereceu resistência, mudando sua posição para deitar-se por cima de Heloísa. Os olhos verdes dele brilhavam com a luz baixa do quarto, e Heloísa quis que o mundo parasse naquele momento específico em que Leônidas a encarava como se ela fosse algum tipo de preciosidade.

- Você me faz o homem mais feliz do mundo.

- E por acaso o homem mais feliz do mundo pretende dormir com a noiva dele?

- O homem mais feliz do mundo foi convencido. – ele riu. – Mas eu ainda sou um empregado nessa casa, e se a sua irmã sonha...

- Se ela demitir você eu contrato novamente. – Heloísa passou o nariz pelo dele.

- Contrata? – Leônidas franziu a testa. – Para fazer o que?

- Você faz perguntas demais, Leônidas.

- Eu tenho algumas ideias. – ele soou sábio. – Você pode me contratar para declamar poemas.

Heloísa mordeu o lábio inferior dele levemente.

- Eu gosto dessa ideia.

- Quanto mais fecho os olhos, melhor vejo... – ele começou, fazendo Heloísa sorrir abertamente. – Meu dia é noite quanto estás ausente.

- Mas eu não estou. – Heloísa foi calada por um beijo dele.

- E a noite eu vejo o sol, se estás presente. – Leônidas disse entre os lábios dela. – Você é o sol da minha vida, Heloísa.

- E você é o sol da minha, Leônidas.

Cessaram as palavras com beijos, toques e amor. Uma conexão de corpo, de almas, de cura. Onze anos antes, quando se encontraram naquela estrada, nenhum deles imaginou o quanto aquele encontro mudaria suas vidas.

Mas aquela era a primeira de muitas noites. 

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