Heloísa acordou preguiçosamente. Abriu os olhos e demorou um pouco para que sua memória voltasse para o corpo. Um sorriso apareceu em seus lábios. A noite foi incrível. Após o banho o cansaço abateu e os dois sucumbiram ao sono. Depois de três dias sem se verem os dois mereceram essa noite. Foi revigorante.
Ela levou a mão ao ventre de dezesseis semanas e fez carinho em seu bebê. Às vezes ainda era difícil acreditar em tudo o que acontecera em sua vida nos últimos meses. Foi uma reviravolta. Heloísa descobriu a gravidez, reencontrou a filha que lhe fora tirada dos braços, declarou seu amor para Leônidas quebrando todas as barreiras que ela mesma havia imposto ao longo dos anos e agora eles estavam casados.
Quando se conheceram estavam os dois muito quebrados por seus passados. Leônidas tinha uma história dolorosa com sua ex-noiva. Ela havia o deixado e casado com o pai dele e ainda tiveram um filho, o que sempre foi o plano dos dois enquanto estavam juntos. Quando tudo aconteceu ele se afastou da família e preferiu viver em uma cidade onde ninguém o conhecia.
Heloísa com um passado doloroso teve a filha retirada dos braços pelo próprio pai. Ela sentia uma culpa que a corroera a vida toda a fazendo se privar da felicidade por medo de que estivesse deixando para trás o amor que sentia por sua filha. Ela nunca havia se envolvido com ninguém por mais de vinte e quatro anos até Leônidas aparecer com seus olhos verdes penetrantes, seu sorriso sincero e um amor intenso por ela. O rapaz foi chegando de mansinho e aos poucos arrancou seus espinhos. Ele estivera por perto por dez anos sempre mostrando a ela que o que sentia era sincero e que não desistiria.
Quando Heloísa se entregou para ele no dia do aniversário de sua filha, ela deixou claro que eles não seriam um casal e que aquele momento foi apenas um deslumbre dos dois, mas Leônidas continuou por perto, deu o espaço que ela pediu, mas fez questão de assegurar que não havia desistido do seu amor por sua rosa.
Nos primeiros sintomas da gravidez Heloísa quis deixar para lá e ignorar, até que as tonturas e enjoos começaram a incomodar demais e ela precisou procurar o médico. Não havia dúvidas, estava grávida. O medo e a aflição foram os primeiros sentimentos que ela teve, resistiu em contar a Leônidas, mesmo ele suspeitando e a pressionando. Tentou o afastar mais uma vez. Ela quase o perdeu. A moça chegava a sentir um arrepio na espinha quando se lembrava que poderia não tê-lo alcançado naquele dia e o perdido para sempre.
Agora estavam ali, casados a espera de um filho que só traria alegria às suas vidas, e tinha também Olívia que descobrira ser sua Clarinha, que agora estava sempre por perto. Se existisse vida melhor ela desconhecia.
Heloísa se levantou e colocou apenas o robe por cima da camisola. O casarão estava muito silencioso para um domingo de manhã que ela estranhou. Desceu as escadas e ouviu barulho vindo da cozinha.
Se aproximou sem fazer barulho e parou na porta. Leônidas cantarolava enquanto mexia no fogão. Ele estava muito bonito com a camisa azul com as mangas dobradas até o cotovelo. Enquanto se movia dava para ver os músculos dos braços e costas sob o tecido. Ela nunca pensou em se sentir atraída o olhando cozinhar. Ela se aproximou da mesa o fazendo assustar quando arrastou uma cadeira.
- Ei! – Ela falou. – Te assustei? – O provocou.
- Um pouco. – Leônidas se aproximou e colocou um selinho nos lábios dela e se abaixou beijando sua barriga. – Você estava em um sono profundo, minha rosa. Pensei que fosse dormir o dia todo.
- Que horas são? – Ela perguntou.
- Quase meio-dia. – Respondeu ele se voltando para o fogão.
- Isso explica meu estômago roncando com o cheiro da sua comida. – Falou rindo. – O que você está cozinhando?
- Hum... Surpresa! Daqui a pouco você vai saber. – Heloísa se desmanchou com o sorriso que recebeu.
- Eu nem sabia que você cozinhava. Cadê todo mundo dessa casa?
- Manuela foi almoçar com Augusta. Dona Violeta saiu com Eugênio. Tenório buscou Olívia... só sei que ficamos só nos dois e alguém tinha que fazer o almoço para vocês dois.
- Nós estamos mesmo com fome. – Disse acariciando a barriga.
A refeição foi um macarrão com molho e legumes gratinados.
- Você cozinha bem. – Ela falou saboreando a comida.
- Meu menu não passa muito disso. – Leônidas riu. – Na verdade nunca tentei fazer muitas outras coisas.
- Eu não sou muito boa na cozinha não. – Heloísa falou de forma descontraída. – Também não gosto muito de lavar louça.
- Onde fui me meter? – Debochou ele e continuou comendo.
- Algo que nunca me faria conquistar um homem seria pelo estômago. – continuou ela. – Nunca fui boa na cozinha. Manuela me ensinou algumas coisas, mas nunca me interessei muito e eu mal sei me virar.
- Ainda bem que temos a Manuela e a Augusta. – Os dois caíram na risada. – E eu nunca procuraria isso em uma mulher. – Leônidas a fitou com seriedade.
- E o que você procura em uma mulher? – Heloísa havia terminado de comer e o olhava com expectativa.
Leônidas colocou seu prato de lado e se aproximou um pouco mais. – Nobreza no olhar, sinceridade nas palavras. – Ele tocou o rosto dela enquanto falava. – Vontade de viver, coragem para enfrentar desafios. Empatia. Um coração enorme. – Continuou ele. – E beleza de uma rosa.
- Uau! Espero que a encontre. – Sua voz era rouca e Leônidas estava muito perto agora de maneira que seus narizes quase se tocavam.
- Já a encontrei. – Ele encostou seu nariz no dela e suas respirações ficaram um pouco mais rápidas. Os olhos estavam quentes e cheios de desejo.
- Eu não sou tudo isso. – Os lábios dele apenas tocavam os dela devagar.
- É muito mais... – O beijo se tornou quente e cheio de desejo.
As ações se tornaram incontroláveis e eles mal conseguiam se segurar. Leônidas a puxou para seu colo enquanto distribuía beijos pelo pescoço e colo dela. Rapidamente Leônidas desamarrou o robe que ela usava expondo os seios dela sob o tecido fino da camisola. Com as mãos ágeis ele tocou por cima do tecido a fazendo arfar. Os dedos de Heloísa se perderem pelos fios encaracolados dos cabelos dele.
- Acho melhor irmos para o quarto. – Heloísa dizia entre beijos. – Alguém pode chegar...
Momentos depois, eles se encontravam aninhados um ao outro em sua cama. Passaram o resto da tarde assim. Aquilo já havia virado uma rotina gostosa entre eles que agora não tinha nada que os impedisse de dizer que eram um casal.