Quando eu era adolescente, eu me lembro de uma vez que teve um show do Skank que foi eu, o Gabriel e uns amigos relacionados, acho que é só até aí que eu lembro, porque a gente começou a beber, tocou minha música, eu fui dançar e só parei quando eu entrei numa briga com uma menina que tava tão louca quanto eu e desloquei minha clavícula.
Eu lembro também do Gabriel naquela noite, ele era o único sóbrio, tinha tomado uma ou duas doses de vodka e nada mais, ele disse que era a dose da coragem.
Com licença, quem vai narrar os fatos a partir de agora sou eu – Gabriel – porque a Cecília nunca lembraria com tanta clareza todas as coisas que aconteceram naquele dia.
Eram umas dez da noite quando a gente saiu pra ir pro show, porque a Cecília e mais uma menina, cujo o nome eu não lembro, tinham ficado se arrumando até tarde.
Nossos lugares eram péssimos, a gente ficou pertinho do portão da saída onde dava pra ver o palco um pouco de cima, muito longe, ainda dava pra escutar a música, mas não era lá essas coisas.
A gente tinha nossa própria companhia, a Cecília gritando todas as músicas muito louca e alcoolizada porque ela já tinha vindo o caminho inteiro bebendo, usando de desculpa que era o esquenta do show, e a gente também tinha uma geleira com um monte de cerveja – Que Cecília insistiu para nós comprarmos, porque "se fosse pra ver show de velho, a gente ia beber que nem velho", sendo que o Skank nem é tão velho assim, a gente também tinha várias outras bebidas, que eu mal vi o rótulo porque todo mundo foi pegando, se embebedando e no final eu era o único sóbrio da parada toda.
A briga que a Cecília mencionou ali em cima, foi meio por causa de mim, deixando já bem claro que eu nunca fiquei muito de boa com essa situação.
Uma menina tinha chegado e me beijado, ela tinha um gosto de álcool muito forte, e a Cecília viu, tudo que eu não esperava era que a Cecília alcoolizada era completamente diferente da Cecília sóbria, ela partiu pra cima da menina, nenhuma das duas se aguentava em pé.
Eu lembro muito bem que ela gritava coisas como:
— Quem você pensa que é pra beijar meu garoto, piranha? Eu sei que ele é lindo e é um gostoso, mas você não precisa tirar uma lasca do que é dos outros, tá bom? – com uma das mãos ela segurava meu rosto e alisava a minha bochecha e com a outra ela apontava pra cara da menina.
— Olha aí galera, sempre tem uma pretinha barraqueira com ciúme do namoradinho branquelo. – Foi o que a garota falou, virada pros amigos dela, sério, eu preferia ver o cramunhão na minha frente a ver a Cecília irada quando as pessoas são racistas com ela.
Vi essa cena duas ou três vezes na vida, tive que fazer a Cecília prometer não arranjar mais brigas, porque cuidar dos machucados dela era sempre um desafio.
E dito e feito, minha garota avançou com o corpo na outra menina e começou a desferir socos no rosto dela, a menina se estabilizou e foi pra cima também, e foi aí que aconteceu, numa virada brusca a Cecília deslocou a clavícula e os policiais que acabaram de chegar no lugar separaram as duas, o rosto da outra garota estava pior e a Cecília tinha um osso praticamente pulando pra fora, mas ela seguia firme e forte.
Ela só não foi presa naquele dia porque o irmão mais velho dela tava com a gente, eu fui com ela dentro da ambulância direto pro hospital.
Enquanto a gente tava na ambulância, eu segurava a mão dela, de vez em quando ela apertava e se desculpava baixinho, não sei exatamente pelo o quê.
Mas teve uma hora que eu me lembro perfeitamente, ela apertou a minha mão muito forte e começou a falar.
— Eu quero que você saiba, que… AI AI AI, TA DOENDO… – Ela respirou bem fundo e se ajeitou. — Um dia, a gente vai namorar, e ser feliz pra sempre sabia?
— A gente vai é? – Eu dei um sorrisinho em resposta e ela apertou a minha mão.
Eu nunca imaginaria que a Cecília se comportaria desse jeito bêbada, ela era sempre quem me carregava, eu devia isso a ela.
— A gente vai. – Ela sorriu meio grogue, ainda assolada pelo efeito da bebida. — Eu vou comprar uma casinha em Manaus pra gente, daquelas antigas que são uma grudada na outra, mas eu quero uma de janelas triangulares, triângulos sempre foram muito mais legais que quadrados. – As vezes ela sentia uma dor, mas não dizia nada, acho que ela tava tentando falar tudo de uma vez. — A gente vai ter um cachorrinho, pequeninho bem Kawaii, e um gatinho branco pra eu lembrar que você é um branquelo do caralho… AI PORRA ESSA DOEU.
Eu observava ela de boca aberta sem saber o que falar, quando a gente chegou no hospital, ela foi enfaixada e calou a boca, não falou mais nem um A, não continuou o assunto, eu também não iria lembrar, estava ocupado de mais lembrando e relembrando tudo que ela me disse.
Mas eu queria muito que ela tivesse falado alguma coisa, seria tão mais fácil se tivesse sido assim.
FIM.
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LOVER gabriel montresor
Фанфикand you'll save all your dirtiest jokes for me, and at every table, i'd save you a sit Onde Cecília sentia que Gabriel não gostava tanto assim dela ou Onde Gabriel iria onde Cecília fosse para conquistá-la