Deusa, não santa

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S/N acordou mais cedo que eu desta vez, ela cozinhou, se arrumou antes mesmo que eu acordasse e saiu de casa. Procurei a mesma na porta, ela estava no jardim da casa de madeira, antes de nos tornarmos pedras, eu sempre podia vê-la no jardim de casa, ela sempre usava galochas e uma jardineira amarela que a deixava deveras adorável. A mais nova contou que o jardim era a lembrança viva que a garota tinha com mãe, eu não pude conhecê-la além das fotos, mas tenho certeza de que era tão gentil quanto a filha. 

O cabelo da mais nova estava amarrado no alto da cabeça, aqui ela não tinha a jardineira amarela, mas ficava adorável no vestido azul que ia até seus joelhos e o salto de ossos que Kohaku se gabou de fazer para a "Santa". Os olhos que sempre me fascinavam vidrados no verde das flores que logo se tornariam marrons olhou para o céu azul.

A mais nova sabia como desvendar o tempo apenas com o movimentar das nuvens e a coloração dos raios de sol, sabia prever as mudanças drásticas e sabia a temperatura do dia seguinte, sabia das rajadas de vento que iriam vir e suas direções.

Ela era a deusa que sabia tudo. O apelido de "santa" era fraco demais quando se tratava dela.

- Vai chover? - Questionei e recebi um sorriso largo da mais nova.

- Não quando estivermos no rio. - Respondeu vindo em minha direção.

Abracei a cintura da mais nova, recebendo um sorriso da mesma. Aquele mesmo sorriso que me deu quando milênios atrás, quando descobriu do meu pequeno foguete, quando descobriu dos meus sentimentos, quando ganhou as olimpíadas escolares de biologia, quando recebeu meu primeiro buquê de flores com o nome - já que os outros tinham escritos apenas um "eu te amo" -, o mesmo sorrido do dia em que a pedi em namoro, o mesmo sorriso que eu queria proteger a todo custo.

Beijei os lábios macios que sempre me lembravam a morango, me lembravam a primavera, que me lembravam a café da manhã e jardins, o sabor que me lembrava ela e que a caracterizava. Senti sua língua macia como seda e quente como fogo, que ascendia chamas em meu corpo e que sempre me faziam desejar mais.

Separei o beijo e vi as orbes escuras em seus olhos, orbes tão escuras que faziam com que eu me perdesse, faziam com que eu desejasse mais do que podia querer, faziam com que eu visse além do que eles me mostravam e que olhavam através de mim.

Aproximei nossos lábios novamente e ouvi o arquejar da garota quando a prendi na parede, beijei o pescoço nu da mesma, senti suas mãos em meu pescoço, seus dedos puxando os cabelos de minha nuca e, por fim, sua boca de volta na minha.

- Santa! - Pudemos ouvir uma voz infantil ao longe, tal voz fez com que a mais nova me afastasse.

Com dois selares rápidos em minha boca, a morena correu até a porta da frente. Entrei na casa e terminei de arrumar minha roupa, conseguia ouvir a conversa baixa e rápida que garota tinha com quem quer que estivesse na porta.

Não demorou para que a conversa se encerrasse e a morena viesse me chamar para irmos.

- Podemos ir amanhã e continuar de onde paramos, que tal? - Sugeri e recebi um olhar brincalhão da garota, o que me deu um pouco de esperança.

- Vamos, amor. - Disse a mesma já do lado de fora da casa. - Eles devem estar nos esperando.

Sem opções restantes, seguia a garota para fora da casa, andei ao lado dela com nossos dedos entrelaçados, ela andava rápido, ansiosa pelo o que nos aguardava.

Rapidamente chegamos no riacho, o sol estava alto no céu, a água do rio corria rápido, S/N correu ladeira abaixo onde Chrome e Kohaku nos esperavam, em que estávamos era quente. Eu não havia percebido, mas por debaixo do vestido azul de S/N, a garota usava uma espécie de biquíni branco, eu não conseguia dizer de que material era feito, apenas que ela ficava linda nele.

As garotas se empolgaram em conseguir areia de ferro e iam conversando no processo.

S/N gostava de água tanto quanto adorava jardins, ela gostava de praias e piscinas, amava tomar banhos de chuvas e pisar nas poças, gostava do som da chuva e do quebrar das ondas, gostava do cheiro da terra molhada e a sensação da água em sua pele, gostava de beber algo quente enquanto admirava o cair das gotas, gostava de como as águas cristalinas brilhavam com o sol. E eu amava vê-la tão feliz com tão pouca coisa vinda da natureza.

- S/N! Olha o quanto que eu peguei dessa arei preta suspeita! - Chamou Kohaku.

Finalmente estávamos dando o primeiro passo no caminho do reino da ciência. As cortinas vão se levantar para a Era de Ferro. Isso é tão empolgante.

- Mas isso vai levar o dia todo. - Comentou a loira. - Não temos mão de obra.

- Será que eu deveria chamar alguém do vilarejo para ajudar? - Questionou Chrome.

- Pelo o que o vilarejo sabe, tanto o Senku quanto você são feiticeiros suspeitos. - Respondeu a loira. - Infelizmente, ninguém vai vir ajudar.

Ouvi o som da água se mover e vi S/N subindo o rio, indo em direção à uma melancia que descia rio abaixo, vindo em nossa direção. Assim que S/N deu duas batinhas na melancia verde, a mesma se ergueu, revelando o corpo pequeno de uma criança.

- O que está fazendo, Suika? - Questionou a morena. A mais nova ergueu a mão, revelando o imã e a poeira metálica grudada na mesma.

- Você nos seguiu até aqui? - Questionou Kohaku aproximando-se das meninas.

- O nome dela é Suika? - Questionei.

- Deve ser um apelido. Ela sempre está usando uma casca de melancia. - Respondeu o moreno ao meu lado.

- Eu quero ajudar. - Ouvi a garota dizer ao entregar o imã para S/N e se ajoelhou tocando na água. - Eu nunca posso ajudar porque tenho essa coisa na minha cabeça. Isso não vai mudar nem quando eu crescer. Mas a Santa disse que vai fazer algo para me ajudar um dia, não é, Santa? 

- Sim, pequena, mas eu ainda não tenho tudo que preciso, você pode esperar, não é? - Em resposta, a menina apenas acenou sorridente. - Senku?

Recebi um olhar de S/N, a mesma só iria tomar uma atitude quanto a isso se eu concordasse, já que era uma decisão minha antes de tudo.

- O reino da ciência não recusa ninguém. Mesmo uma pata de gato seria útil. - Disse me aproximando. - Uma baixinha como você seria dez bilhões de vezes melhor para reunir areia. Contamos com você, Suika.

S/N entregou o imã para a garota e veio até mim, ela sorriu enquanto me ajudava com a areia de ferro. Conseguíamos ouvir a conversa dos mais novos atrás de nós, mas apenas algo me chamou atenção e parece que a de S/N também, já que a mesma me olhou curiosa.

- Você conhece Dragon Quest ou Monter Hunter, mas conhece Momotaro

- Quem contou sobre isso a vocês? - Questionou a garota ao meu lado.

- Ruri nos contou sobre eles. Ela não contou para você, Santa? - Perguntou Suika.

- Eu sempre me recusei a ouvir essas histórias. - Lamentou a morena.

- Pensando bem, como vocês conhecem gorilas? Eles estão soltos por aí?

- Eu nunca vi um. - Respondeu Kohaku.

- Mas tem um gorila que aparece no Momotaro. - Lembrou Chrome.

- Não têm! - Respondeu S/N.

- Ele deu um bolinho para ficar amigo dele, lembra? Um urso, um leão, um gorila e um jacaré.

- Uma história fácil para entender sobre animais perigosos.

- Eu aprendi um monte de histórias com a Ruri. Muitas palavras difíceis também. - Disse Kohaku.

S/N parecia tão confusa quanto eu, ela vivia aqui a tanto tempo e teve diversas pistas de baixo de seu nariz, mas se recusará a vê-las. A mais nova olhou para mim e eu beijei seu rosto.

- Consegue descobrir mais histórias para mim? - Ela apenas concordou. - Relaxa, vamos descobrir juntos, assim você não fica na frente.

Você vai nos salvar, meu doutorOnde histórias criam vida. Descubra agora