Jealousy

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Leônidas arreou o Barbada e o montou indo em direção à tecelagem. Precisava conversar com dona Violeta sobre uma festa surpresa que pretendia organizar para Heloísa. Sua rosa estava sempre tristinha e ele já havia tentado várias maneiras de fazê-la sorrir e achava que uma festa de aniversário seria uma boa ideia para animá-la.
Não, eles não estavam namorando e nem eram um casal. Leônidas ainda lutava para conquistar o coração de Heloísa. Ele confessava que nos últimos meses havia conseguido romper algumas barreiras. Eles chegaram a ir juntos ao Rio de Janeiro levar Matias ao sanatório. Foi quando Heloísa soube do passado dele. Leônidas lhe contou sobre sua ex-noiva que terminou o noivado e casou com o pai dele. Foi uma baque tão forte na vida dele a ponto de largar os estudos no final e não se formar. Escolheu se afastar e criar um mundo para si.
Depois desse dia eles tiveram algumas conversas e confidências. Heloísa confessou sentir algo por ele, mas que rezava para que passasse, pois não sabia viver com isso. Leônidas se sentiu triste e esperançoso ao mesmo tempo. Esperançoso porque ela admitiu seus sentimentos, e triste por saber que o que ela sentia provocava dor.
Alguns dias depois aconteceu algo totalmente inesperado. Dr. Matias disse a ele ser o pai da filha de Heloísa. Ele foi questionar e ela veio na defensiva, negou e pediu pelo amor de Deus que  não falasse sobre isso com ninguém. Leônidas acreditou que o que o doutor dissera era verdade, mas não a confrontaria mostrando que não acreditou no que ela disse, não naquele momento, talvez no futuro conseguisse voltar àquele assunto. Ele quis abraçá-la naquela hora, ela estava muito fragilizada. Ele quis abraçá-la em muitos momentos, dizer que estava ali que ela podia confiar nele. Ele sabia que esse era um assunto delicado e que a costureira não se abria com ninguém sobre isso. Saber que ela guardava um segredo tão grande para si durante tantos anos e ele não podia fazer nada para amenizar doía muito.
Agora entrava na tecelagem indo ao encontro de Violeta. Nos planos dele o aniversário de sua rosa seria uma surpresa linda. Quem sabe ele não arrancaria muitos sorrisos do rosto dela? Ver Heloísa sorrindo era como o sol a iluminar seu dia, o enchia de afeto e amor.
Leônidas congelou na porta da recepção quando viu Heloísa sentada na poltrona ao lado de um homem. Era alguém que ele já havia visto. Claro! Era um dos novos administradores da tecelagem. Qual era o nome dele mesmo? Antônio Figueiredo. Isso mesmo. Mas o que sua rosa fazia conversando tão próxima àquele homem? A conversa parecia muito íntima e ela sorria às vezes. Leônidas ficou parado alguns segundos, mas não ouviu o que conversavam. Preferiu não ser visto.
Enquanto observava a cena ele se pôs a pensar em algumas coisas. Antônio era um homem fino, estudado, sempre arrumado, e pelo pouco que conhecia sabia que não era comprometido. Esse rapaz tinha tudo para ser um bom partido. Heloísa não estaria errada se escolhesse ter algo com ele e não com Leônidas. Olhou para suas próprias roupas, as mesmas de sempre. Depois que saiu de casa nunca se importou com luxo. Não fazia diferença para ele se tinha apenas umas quatro trocas de roupa. Talvez fizesse diferença para Heloísa. Ela mesma o chamara de maltrapilho uma vez. A tristeza se abateu sobre ele que recuou e se afastou não entrando na sala.
- Leônidas, você por aqui? – Ele já estava no final do corredor quando Violeta o chamou.
- Dona Violeta... – Ele ficou sem fala. Não queria mais falar sobre o assunto que o trouxe até ali.
- Você precisa de alguma coisa? – Ela perguntou. – É algo sobre o Matias?
- Não é nada. Eu... foi só uma coisa que eu havia pensado, mas vejo que foi uma besteira. Eu vou voltar pra fazenda, tenho algumas coisas para fazer... Tchau. – Leônidas saiu deixando uma Violeta confusa para trás.
Sobre seu cavalo, no caminho de volta para a fazenda sentiu um nó na garganta e seus olhos queimavam pelas lágrimas que ele segurava. Onde estava com a cabeça quando pensou que Heloísa poderia querer algo com ele? Antônio todo arrumado, perfumado, cabelo bem cortado. Não que Leônidas não gostasse de seus cachos, mas talvez ela não gostasse.

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Na hora do jantar Heloísa estranhou a demora de Leônidas. Matias já havia descido e nada dele ainda. Na verdade, não o vira o dia todo. Ela passou boa parte da tarde na tecelagem, pois fazia tempo que não visitava o local, mas depois que voltou para casa seu caminho não cruzou com o dele nenhuma vez.Teria acontecido algo?
Passados alguns minutos, todos já jantavam quando ele veio e se sentou ao lado dela. Ela não pode deixar de reparar como ele estava diferente. Leônidas vestia a camisa que ela havia feito para ele. Os cabelos estava presos em um pequeno rabo de cavalo. Ele estava muito bonito. O que teria acontecido para ele estar assim tão arrumado? Ela não perguntou nada. Ele a olhou rápido, apenas uma vez, durante o jantar. Estava mais quieto que o habitual.
Após todos se retirarem Heloísa o procurou e o encontrou na varanda. Ele estava quieto encostado no batente.
- Curtindo a solidão? – Ela perguntou fazendo-se ser vista e recebeu apenas uma olhada de canto.
Heloísa se aproximou e parou ao lado dele. Escolheu o silêncio por alguns instantes enquanto olhava para a lua cheia que brilhava no céu.
- Você está calado hoje. – ela se arriscou. – Não falou nada durante o jantar e agora veio aqui para fora.
- Queria ficar um pouco sozinho. O dr. Matias... ele ocupa meu tempo e não consigo nem pensar direito, ele quer jogar o tempo todo, sair. Às vezes me sinto cansado. – Leônidas passou a mão pelos cabelos enquanto falava.
Ela apenas assentiu concordando e se virou para ele. – Eu pensei que você fosse sair. – Ele a encarou sem entender. – As suas roupas... os cabelos.
- Eu... eu ando sempre tão mal arrumado... nem pensei que você fosse notar.
Como ela não notaria? Ela reparava tudo nele. Leônidas era presença constante naquela casa, estava em toda parte. Ela gostava de receber o bom dia do rapaz, muitas vezes acompanhado de uma rosa. Ela podia não admitir, mas ele exercia uma certa magia sobre ela. Heloísa ficava desconcertava quando estava ao lado dele. Seu coração acelerava e parecia que ia sair pela boca.
- Claro que eu notaria, Leônidas. – disse com firmeza. – Essa foi a camisa que eu fiz. Estava pensando que dia você a usaria. Ficou muito boa em você. – Heloísa tocou os botões da camisa com os dedos fingindo estar alinhando a peça.
- Você deve gostar de homens bem arrumados. – Ele soltou e se arrependeu imediatamente.
- O que você está dizendo? – O rosto dela ficou vermelho. Ela parecia enfurecida.
- Me desculpa, eu não quis dizer isso. – Leônidas tentou retirar o que disse.
- Não quis mesmo? – Heloísa estava chateada e ele poderia ter estragado tudo de vez. – O que está acontecendo, Leônidas? Por que está pensando isso de mim?
- Eu vi você conversando com o dr. Antônio Figueiredo. – Ele soltou.
- Me viu... você está me seguindo, Leônidas? – Heloísa estava enfurecida.
- Não é nada disso que você está pensando, Heloísa. – Tentou explicar. – Eu... eu precisei ir na tecelagem falar com a dona Violeta... – ele se lembrou do motivo idiota que o fizera procurar a dona da tecelagem. – Eu apenas vi você conversando com ele...
- E pensou o quê? Que eu estava interessada nele? – Heloísa estava magoada.
- Eu não sei o que pensei. Só sei que ele é um homem boa pinta, está sempre arrumado...
- E acha que eu me interessaria por um homem por sua aparência? – Os olhos dela ficaram vermelhos e dava para perceber que segurava as lágrimas. – Francamente, Leônidas. Você não me conhece mesmo. – Heloísa se virou para entrar na casa e ele a seguiu.
- Espera por favor. – Leônidas segurou o braço dela sem colocar força. – Eu não pensei isso de você, Heloísa. Eu juro. – eles se encararam por um momento. – Eu só achei que talvez você merecesse alguém que lhe desse um futuro.
- Eu não estou procurando ninguém, Leônidas. E se eu não me rendi a seus cortejos não foi por sua aparência. Tire isso da sua cabeça. – Ela soltou um longo suspiro. – Eu não estou interessada no Antônio e nem em nenhum outro homem.
- Me desculpa de verdade. – Pediu mais uma vez.
Heloísa levou a mão ao rosto dele fazendo carinho na barba áspera. – Fica sossegado. Se tem algum homem nesse mundo pelo qual eu possa vir a me envolver será você. – Leônidas colocou sua mão sobre a dela que estava em seu rosto. – Eu só ainda não estou pronta.
Leônidas pegou a mão dela e depositou um beijo terno e demorado. Que tolo e inseguro ele era! Heloísa era sua rosa. Ele confundiu tudo.
- E a propósito, você ficou muito bonito com essa camisa. Mas eu gosto dos seus cachos soltos. – Ela sorriu e se afastou.

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E então? O que acharam?
Seu comentário me deixará muito feliz!

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