Igreja

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Sano encarava seu guarda roupa de cara feia. Não gostava de nenhuma daquelas peças. Pelo menos não das que ganhou para si. E aquilo era um saco.

Era uma manhã de domingo e seus pais estavam obrigando ele e seus irmão a irem a igreja com eles. Era assim quase toda semana, e toda semana era a mesma ladainha: As pessoas tinham que ir arrumadas ou, no mínimo, apresentáveis. E, segundos o senhor e a senhora Sano aquilo queria dizer produção total. Sinceramente, eles estavam indo a igreja ou a porra de um desfile de moda?

Mas aquele nem era o problema real da questão, e sim as roupas que tinha e era obrigado a usar. Não gostava de shorts curtos (até porque, nem era apropriado para uma igreja), odiava calça leagin, odiava as saias que tinha e definitivamente odiava os vestidos que sua mãe (e as vezes seu pai) insistiam tanto em comprar. Tirando as roupas que roubava do Izana aquelas eram suas únicas opções, e nem fudendo que seus pais o deixariam usar qualquer uma delas.

Suspirando cansado ele pega a única roupa que era de fato sua que não lhe deixavam desconfortável: Uma calça jeans, uma blusinha preta fechada e sem mangas. Apesar dela ''valorizar seus peitos'' (palavras de sua mãe que ele guarda com desgosto) era a menos pior por assim dizer. Faria apenas o que fazia sempre que a usava: Colocaria seu casado preto e simples por cima.

Se olhava no espelho sem muita animação. Estava pronto de qualquer modo.

--Cruzes! –Sua mãe indaga assim que entra no quarto, sem aviso ou permissão alguma. Ela vestia um vestido florido com uma sandália amarela que combinava. Diferente de sua aparência, sua expressão não era nada bonita –Você vai desse jeito?!

--Hãn...sim?

--A roupa até que não está tão ruim –A mais velha diz chegando mais perto –Mas tem mesmo que usar esse casado?

--Gosto dele.

--Mas com essa blusa? –Questiona, se colocando atrás do filho na frente do espelho, o observando de lá –Não acha que está matando o visual?

--Não ligo muito para isso, você sabe –Dá de ombros. Ela suspira, cansada

--Pelo menos vamos arrumar esse cabelo, não é? –A mais velha passa as mãos sobre os fios loiros do filho, carinhosamente. O adolescente suspira derrotado, sabia que não conseguiria discutir

--Claro. Mas nada exagerado, por favor

Com a permissão concedida a mulher começa o seu trabalho, cuidando e penteando os cabelos sedosos apesar de meio mal tratados do seu amado filho. Feliz com o resultado, ela se afasta esperando uma reação dele enquanto admirava o próprio trabalho.

--Ta-dam! –Exclama, bem humorada. Ele estava com os cabelos soltos muito bem arrumados e duas presilhas brilhantes no lado direito. Aos olhos da mãe ele estava lindo, aos próprios olhos era como se não fosse de fato ele.

--Tá bonito –Mente

--Já sei! Tem uma coisa que ficaria perfeito em você! Espera aqui! –Ela exclama saindo apressada do quarto.

''Ela age como se eu tivesse um ano de novo, para ficar me arrumando desse jeito que nem a porra de uma boneca de merda.'' Foi o único pensamento que se passou em sua cabeça antes de voltar a encarar novamente o espelho.

Ele não gostava do que via. Não só pelo cabelo arrumado mas também todo o resto. Aquele volume em sua roupa indesejado, aquelas vestes que lhe eram tão desconfortáveis, aquele cabelo exageradamente grande e nem sequer podia o cortar...não suportava a própria aparência. E aquilo lhe doía, e lhe doía muito.

--Pronto! –Sua mãe diz assim que volta a entrar no quarto bem animada, com uma mine bolsa na mão –Agora fica parada para que eu não borre nada!

--Espera, o que é isso aí? –Questiona mesmo que uma parte sua já soubesse a resposta

Guia Para Jovens Desasjustados E Que Procuram Serem FelizesOnde histórias criam vida. Descubra agora