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Ah, lá vai ela de novo. Passando brilho labial e tirando por completo a concentração de Tsukishima da tarefa de casa.

Ambas estavam no quarto de Kei, assim como sempre fizeram desde o fundamental. Era sexta-feira, dia de revisão em dupla, e já era costume as duas se sentarem sobre a cama da loira, os materiais escolares espalhados pelas cobertas macias, e resolverem as tarefas de casa antes de começarem a revisar tudo aquilo que haviam aprendido durante a semana.

Tsukishima sempre levou suas tardes de estudo a sério. Porém, nos últimos dias, concentrar-se com Yamaguchi ao seu lado, com aqueles lindos lábios macios, brilhantes e rosados pelo brilho labial, estava se tornando impossível.

O problema teve início em uma inocente conversa na sala do clube de vôlei, duas semanas atrás. Hinata, outra aluna do primeiro ano, comentou que o inverno estava chegando e ela odiava essa estação porque seus lábios ficavam ressecados e, às vezes, chegavam ao ponto de rachar.

Tsukishima não estava realmente prestando atenção, pois sabia que se estressaria com qualquer coisa que Hinata estivesse a dizer (as duas não se davam bem). Concentrada em retirar a camiseta do treino e passar o desodorante (e também em não olhar para o lado, onde sabia que Yamaguchi encontrava-se apenas de top, as sardas espalhadas pela pele bronzeada de seus ombros e braços feito estrelas no céu noturno), ela ouviu, ao fundo, Asahi, uma das garotas mais velhas, dizer a Hinata algo sobre um protetor labial.

E, aparentemente escutando a conversa, Tsukishima viu pelo canto do olho Yamaguchi virar-se com interesse para as duas assim que terminou de vestir a camisa do uniforme do colégio.

– Qual é a marca? – ela perguntou. – Meus lábios também ficam muito ressecados durante o inverno e, sinceramente, os produtos que minha avó compra pra mim não são dos melhores. – ela riu baixinho, daquele jeito adorável que fazia algo aquecido tomar conta do peito de Kei.

No dia seguinte, quando se encontraram perto do poste de luz para caminharem juntas até a escola, Tsukishima notou o brilho rosado nos lábios finos da melhor amiga.

– O que você passou na boca? – perguntou assim que começaram a caminhar lado a lado, o som de seus passos ecoando pela rua deserta àquela hora da manhã.

Na verdade, Tsukishima sabia o que era. Porém, ela queria que Yamaguchi entendesse, por meio dessa frase, que estivera olhando para a boca dela; que havia notado algo de diferente justamente porque já olhara para a boca dela várias vezes antes.

– Ah, é aquele protetor labial que Asahi falou ontem, lembra? – disse, sorrindo de maneira inocente. – Quando fui comprar, tinha de várias cores e sabores. Escolhi o de morango, espero que não tenha ficado ruim. Você acha que ficou ruim, Tsukki?

Tsukishima olhou para ela e Yamaguchi já a estava encarando, os olhos castanho-esverdeados refletindo a luz do sol feito joias preciosas. Ela tinha os lábios inclinados para frente num quase biquinho e, sinceramente, aquilo era tortura.

Sentindo o coração bater mais rápido e uma súbita vontade de inclinar-se e depositar um selinho naquela boca, Tsukishima olhou duramente nos olhos da amiga, como se dissesse: "eu sei que você não percebeu, mas eu gosto de você, então, por favor, pare de ser tão adorável e brincar com meus sentimentos". Então, virou-se para frente, dando de ombros com o máximo de indiferença que conseguiu como resposta à pergunta anterior.

E foi assim que deu-se início ao inferno de Tsukishima Kei.

Como se não bastasse o protetor labial destacar aquela boca que já atormentava os sonhos da garota desde os 12 anos, Yamaguchi agora também precisava retocá-lo. E ela fazia isso nos piores momentos:

MORANGO ; ( 𝒕𝒔𝒖𝒌𝒌𝒊𝒚𝒂𝒎𝒂 )Onde histórias criam vida. Descubra agora