waitin' on you

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Heloísa Camargo segurou a fita métrica entre os dedos, prestando atenção na tarefa que tinha. Ou, ao menos tentando prestar atenção na tarefa que tinha. Tentando ignorar o perfume de Leônidas Lobato ou a forma como os olhos dele fitavam tudo o que ela estava fazendo. Precisava terminar de tirar as medidas para ajustar o terno do homem a sua frente.

Era a véspera do casamento de sua irmã. Um casamento na fazenda, ao ar livre, e Leônidas e ela eram o único casal de padrinhos de Violeta e Eugênio. Nem poderia ser diferente, é claro. Heloísa era a melhor amiga da irmã e Leônidas era primo de Eugênio. Era Leônidas a ponte daquele casal improvável, mas Heloísa não poderia estar mais feliz pela irmã.

Leônidas riu baixo quando Heloísa o espetou sem querer com o alfinete. Ela lançou um olhar para ele, que ergueu a sobrancelha, fazendo Heloísa suspirar. Era difícil estar tão perto dele, mesmo já conhecendo Leônidas há mais de vinte anos. Ele parecia ainda ter aquele mesmo efeito sobre ela, aquele encantamento de quando seu eu adolescente deu de cara com aqueles olhos verdes.

Nunca havia acontecido nada, embora ela não soubesse o motivo. Parecia sempre haver algum tipo de conexão, algum momento onde eles estavam exatamente como estavam agora, envoltos em algum tipo de jogo. Mas o tempo havia passado, os dois casaram com outras pessoas, se afastaram um pouco, e agora era a primeira vez que estavam solteiros ao mesmo tempo.

Não que ela pretendesse se envolver com ele. Só estava garantindo que o terno estaria perfeito, já que Leônidas havia comprado sem experimentar e só quase no dia do casamento percebeu que estava grande demais. E havia aparecido na porta de seu quarto com um sorriso de desculpas. Violeta jamais a perdoaria se o terno grande demais de Leônidas estragasse toda a estética das fotos.

- Para de me espetar, Helô. – ele riu, fazendo Heloísa revirar os olhos.

- Devia espetar mais por você aparecer quase a meia noite. – fez careta. – O casamento é amanhã, Leônidas.

- Tenho certeza que você vai resolver tudo com essas mãos de fada. – Leônidas fez charme.

- Eu não deveria. – Heloísa o espetou propositalmente. – Mas Violeta mataria a nós dois.

- Eu certamente morreria, mas porque sua adorável irmã mataria você?

- Porque você é o meu par. – ela riu.

- Eu sempre gostei de ser seu par. – Leônidas piscou para ela.

- Idiota. – Heloísa se afastou um pouco, terminando de marcar a parte de cima. – Pronto. As calças ficaram boas?

- Eu não experimentei. – ele deu de ombros, tirando com cuidado o paletó.

E como se fosse o ato mais normal do mundo, tirou a própria bermuda e começou a vestir as calças do terno.

- Leônidas! – Heloísa ralhou.

- O que foi? Você já me viu de sunga. – ele riu. – E teve também aquela vez que você abriu a porta quando eu estava tomando banho.

- Faz mais de quinze anos, idiota. – ela também riu.

A calça do terno estava absolutamente perfeita, mas Leônidas ficou olhando para Heloísa, esperando a aprovação.

- É, acho que não precisamos ajustar nada.

- Não? – Leônidas ergueu um pouco a camiseta, puxando as laterais. – Parece meio folgada.

Heloísa se aproximou dele, avaliando o cós da calça.

- Você pode usar um cinto.

- Eugênio quer suspensórios. – ele disse, pegando os suspensórios de cima da cama e entregando a ela. – Será que funciona?

Heloísa suspirou fundo, sabendo que se arrependeria.

- Não com essa camiseta. – ela disse, sabendo que Leônidas removeria a peça no segundo seguinte.

Foi exatamente o que ele fez, e aquela ajuda já parecia uma tortura. Porque a verdade é que ele era um homem muito bonito e agora vestia apenas as calças perfeitas do terno enquanto seus olhos verdes olhavam para ela.

- Para de me olhar assim. – ele disse, com um sorriso malicioso.

- Para de tirar a roupa no meu quarto. – Heloísa bateu em Leônidas com os suspensórios.

- Por que? – Leônidas se aproximou. – Eu sei que você também já pensou nisso.

- E se não aconteceu em vinte anos não tem porque acontecer agora, Leônidas. – Heloísa riu, mas seu coração estava disparado.

- Ou talvez a gente esteja perdendo tempo, Helô. – ele ficou sério de repente. – Sempre pareceu que a gente estava perdendo tempo.

- Não complica a minha vida, Leônidas. – ela pediu, quase sem voz, sentindo Leônidas enlaçar sua cintura. – Não complica a minha vida.

- Por que tem que ser complicado? – Leônidas disse no ouvido dela.

Heloísa suspirou quando ele mordeu levemente a orelha dela, sem resistir a tocá-lo. Parecia inevitável bagunçar aqueles cachos que ele havia cortado apenas para o casamento. E como se obtivesse permissão Leônidas beijou o pescoço dela, trilhando beijos até seus lábios.

Não havia motivo para resistir, e nem ela queria. Leônidas a beijou sem dar espaço para mais pensamentos. Eram vinte anos de quase. Quase um beijo na varanda da casa dos pais de Heloísa durante o aniversário de Violeta. Quase durante o casamento da irmã com Matias. Anos de abraços longos demais, de mãos que se buscavam, e agora estavam ali entregues.

Se perderam um no outro em meio a toques, beijos, suspiros e olhares de desejo. Suas roupas ficaram no chão, a tarefa de ajustar o terno ficou esquecida enquanto seus corpos se encaixavam, e todo aquele momento parecia intenso demais para que pensassem nas consequências. E por causa disso, também não conversaram sobre nada que pudesse furar aquela bolha.

Ele foi embora antes do sol nascer, e Heloísa terminou de ajustar o terno de Leônidas sem saber se havia sido sonho ou realidade. Dormiu algumas horas e quando sua filha, Olívia, ligou para saber onde ela estava, Heloísa pediu que a jovem passasse no quarto e levasse o terno para Leônidas.

Só o viu a noite, já no casamento, segundos antes de entrarem de braços dados a caminho do altar. Trocaram olhares durante a cerimônia, divertiram-se durante a festa de casamento durante toda a madrugada e viram o sol nascer na beira do lago, ao lado dos noivos. Todos pareciam imensamente felizes, e quando Leônidas passou os braços ao redor de Heloísa, ela não se importou.

- A gente precisa falar sobre a noite passada... – ele disse no ouvido dela, causando arrepios.

- Precisa? – ela perguntou, também em voz baixa.

- Você não quer falar sobre isso? – Leônidas ameaçou se afastar, mas Heloísa o segurou no lugar.

- Não. – riu, alegre. – Mas eu quero repetir a noite passada se você estiver interessado.

- Eu sempre estive interessado, Helô. – ele beijou o ombro dela.

Heloísa virou-se nos braços dele, sem se importar se Eugênio e Violeta estavam olhando.

- É mesmo?

- Sempre. – Leônidas sorriu.

- Então você tinha razão. – Heloísa passou os lábios lentamente pelos dele. – Perdemos muito tempo.

Mas não perderiam mais. 

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