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  Eu esperava que aquela conversa fizesse Mikhael compreender que a vida era ampla, e que existiam várias formas de enxergá-la, mas ao contrário do que imaginei pareceu-me que ele se fechara ainda mais a supor pela forma como me tratou no dia seguinte a nossa conversa na faculdade:

_ Oi Mikhael.

_ Gillian, eu preciso mesmo falar com você.

_ Fala, o que quer falar?

_ Eu passei a noite toda acordado, as suas palavras ecoavam no meu pensamento a noite toda me confundindo, me perturbando, eu não quero desqualificar o que me falou, mas... Entenda tudo isso foge ao que eu acredito.

_ Você insiste em criar um tabu sobre algo que não existe.

Abri os meus braços para ele enxergar todo o meu corpo:

_ Eu sou isso Mikhael, uma pessoa comum, o fato de gostar de alguém do mesmo sexo que eu não me difere em nada de você, mas na sua cabeça você insiste em acreditar que sou pecador pelo fato de ter sentimentos.

_ A diferença não é na estética Gillian, a diferença está aqui.

Ele levou a mão a parte lateral de sua testa com dois de seus dedos:

_ É na forma de pensar, é isso o que nos difere, é melhor seguirmos os nossos caminhos, cada um como acredita.

_ O que isso significa?

_ Que eu preciso me distanciar de você Gillian.

_ Não é o que eu desejo, mas não posso invadir o espaço que você delimita você sabe onde me encontrar, quando decidir parar de querer fugir dos próprios sentimentos.

_ Você teima em me confundir Gillian, é por essa razão que precisamos nos afastar. Mas ainda irei ao almoço na casa dos seus pais.

_ Tudo bem, eu não posso negar que isso me entristece, mas tenho que respeitar o que você quer.

_ Obrigado.

Aquele dia ele sentou-se bem distante de mim, e se manteve assim durante todo o período da faculdade, quando fomos dispensados ele saiu tão apressado desviando de um e outro pelo caminho que nem olhou para trás, fiquei seguindo ele com o olhar até ele sumir do meu campo de visão. Cheguei a casa dos meus pais desanimado, mas imediatamente me arrependi de ter ido até lá, meu pai Jean estava descabelado, seu rosto vermelho e pela forma desconcertado como encontrei os dois, imediatamente entendi que eu os havia atrapalhado chegando em um momento de intimidade dos dois:

_ Filho?

A forma ofegante da respiração do meu pai Beto deixava claro que eu os havia interrompido:

_ Desculpa pai, eu não deveria ter chegado sem avisar.

_ Que isso hein, essa casa ainda é sua e você pode chegar à hora em que quiser, você já é adulto o suficiente para saber que eu e seu pai, bem... Nós fazemos amor.

_ E eu os interrompi. Eu vou para casa, assim deixo vocês á vontade.

_ Não filho, pode ficar, vejo que você precisa conversar. Está com algum problema?

_ Sim e não, não exatamente.

Eles me fizeram sentar para conversarmos:

_ O que é que está acontecendo?

_ Eu me apaixonei.

_ Isso é maravilhoso Gillian. Não entendo por que me parece desanimado.

_ Os seus sentimentos não são correspondidos filho?

_ Não é isso pai Jean, eu acho que ele sente o mesmo que eu, mas...

_ Mas?

_ Ah pai Beto é complicado.

_ Complicado a que nível?

_ Ao nível máximo.

_ Mas eu tenho certeza de que encontrará uma forma de descomplicar meu filho, você sempre foi uma pessoa persuasiva, que se moldavam as situações.

_ Ah pai Jean, dessa vez não serei eu a ter que se moldar, e sim ele.

_ E ele tem nome?

_ Tem sim, o nome dele é complicação.

Tanto Beto como Jean sorriram, deitei no colo do meu pai Beto enquanto meu pai Jean preparava o almoço:

_ Farei strogonoff para ver se te animo um pouquinho.

_ Vocês dois são maravilhosos ouviram, maravilhosos, eu tenho muita sorte deter vocês dois como meus pais, nunca me envergonharei disso.

Os dois trocaram um olhar, e eu fechei os meus olhos enxugando uma lágrima que teimava em escorrer pelo meu rosto, acordei com o meu pai me chamando:

_ Gillian, o almoço está pronto.

_ Eu dormi?

_ Seu pai tem esse dom filho, ele fica fazendo esse cafuné e vamos ficando sonolentos, isso funcionou com você também.

_ Isso não tem nada a ver com dom Jean, funciona por que vocês estão sob muita pressão, carinhos sempre acalma o coração. Por que não dorme aqui hoje filho, assim não ficará sozinho naquele apartamento com a cabeça cheia desses pensamentos.

_ Não, já atrapalhei o dia de vocês, não quero atrapalhar a noite.

_ Fala como se alguma vez tivesse nos atrapalhado Gillian.

_ Seu pai tem razão, nunca nos atrapalhou, fica aqui hoje, me sentirei mais tranquilo sabendo que está aqui conosco.

_ Outro dia quem sabe eu passe a noite aqui, mas hoje não, eu preciso ficar sozinho para pensar, e amanhã eu estarei de volta afinal é o almoço.

_ Mais um motivo para passar a noite aqui. Afinal amanhã terá que vir para cá cedo.

_ Sim, mas amanhã eu trarei um amigo comigo, e combinamos de nos encontrar em casa, preciso estar lá quando ele chegar.

_ É o complicado?

_ Em pessoa.

_ Então tá certo filho, te esperamos amanhã aqui. Descanse bem, pois amanhã vai ser bajulado por toda a família e sabe como todos são.

_ Quem sabe vendo isso ele entenda o conceito de família que somos.

_ Conceito de família?

_ Não é nada pai Jean... Estou apenas confabulando com os meus pensamentos, bem nos vemos amanhã, beijos.

Dei um beijo em cada um e segui o rumo de casa, cheguei, tomei um banho tépido, quando ouvi o toque do meu celular, era ele:

_ Mikhael?

_ Gillian, eu estive pensando... Não sei se é certo ir ao almoço amanhã na casa dos seus pais depois do que conversamos, se achar que devo não ir me fale.

_ Você não quer ir?

_ Quero, mas não sei como você está se sentindo com o que conversamos.

_ Eu já disse o que acho, não sou eu quem está te afastando Mik, é você quem quer se afastar.

_ Então ainda quer que eu vá a esse almoço?

_ Sim, eu quero.

_ Então se é assim eu irei te encontrar. 

Eu faço o meu próprio paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora