Capítulo XXXII

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Ela não precisou que suas pupilas se acostumassem a escuridão para saber que as figuras em sua varanda não eram humanas. Ninguém era tão grande, nem mesmo os licryanos. Ninguém tinhas ombros tão gigantes ou braços tão longos que quase se arrastavam no chão, com mãos pelo menos duas vezes maiores que suas cabeças. Se antigo tivesse cheiro, seria o daquelas criaturas, sem sombra de dúvidas.

Eles não vieram a Isabella imediatamente, estavam conversando algo entre si. Não era uma língua que a jovem pudesse identificar, produziam um cacófato desagradável que faziam os pelos de sua nuca se eriçarem.

Corra!, disse a si mesma em pensamentos. Seu corpo não se movia. Grite e corra! Aproveite enquanto estão distraídos. Ela não conseguia encontrar o ar ou a força para se mover. Vai logo, Isabella! Corre para o túnel! Finalmente, a jovem foi capaz de se levantar. Correndo em direção a gaveta do criado mudo, onde guardava seu revólver, as balas mágicas, a bolinha vermelha e o colar. Pegou-os rapidamente e saiu correndo em direção porta enquanto carregava sua arma. É claro que as criaturas a seguiram, mas ela não olhou para trás. Abriu a maçaneta e escorregou pela fissura da entrada tentando ganhar alguma distância. Os monstros não se incomodaram em abrir a porta, atravessaram-na com a força de seus corpos deixando para trás uma trilha de madeira e concreto destruído.

Isabella virou-se, apontando seu revólver para o monstro mais próximo e apertou o gatilho. O projétil voou quase atingindo a cabeça da besta, atravessando o ar e pousando na parede feito uma bola de canhão. Formou-se um enorme sulco no lugar onde a bala acertou. A jovem não teve tempo de admirar o poder de sua arma. Só lhe restara cinco balas e ela tinha que continuar correndo.

Apesar de ter errado o tiro, o poder de fogo de seu revólver surpreendeu os monstros, deixando-os estáticos e ela ganhou um pouco mais de tempo para fugir.

- Socorro! – gritou com toda a força de seus pulmões. – Socorro! – Ninguém respondeu. Aonde estavam os guardas?

Não pare!, disse para si mesma virando o corredor. A distração não durou muito tempo, os monstros eram mais rápidos do que ela e a alcançariam em breve. Sua única vantagem era que as bestas eram grandes demais e sempre esbarravam nas coisas, pelo caminho, fosse nas paredes, nas cômodas, nos lustres ou em si mesmos.

Um dos monstros ficou perigosamente próxima a ela. Isabella puxou seu colar do pescoço e o atirou no chão. Creta disse que quando quebrando, o pingente de cristal se transformaria em uma barreira. Ela nunca testou para comprovar a veracidade da informação, mas não tinha muita escolha senão arriscar. O cristal se estilhaçou, uma parede translúcida e azulada, onde pequenos quadradinhos roxos piscavam e giravam, surgiu pondo-se entre a jovem e as bestas. Ela não ficou ali para comprovar sua eficácia. Continuou correndo sentindo uma dorzinha se espalhar por todo seu corpo.

Baques começaram a se alastrar, em seguida o som de uma rachadura. Isabella olhou brevemente por cima do ombro vendo os monstros quebrarem sua barreira pouco a pouco com apenas com a força de seus punhos. Não ia durar muito tempo. Ela tomou um pouco mais de distância e sacou seu revólver, apontado para as bestas. Precisava se livrar de algumas delas ou nunca chegaria no túnel antes que eles lhe alcançassem. Mas tinha que ter calma e paciência, haveria um momento certo. Os monstros bateram incessantemente no bloqueio. Uma, duas, três, quatro batidas, mais uma e a barreira se quebraria. Nesse momento Isabella atirou, quatro projeteis voaram. Cinco batidas, a parede se partiu como vidro. As balas atravessaram o ar, um projétil atingiu o ombro de uma besta, outro, a perna, em ambos os casos seus membros foram decepados. O restante voou até atingir a parede atrás das criaturas, quase destruindo-as. Ela estava mirando nas cabeças deles. A situação não saiu como planejado, entretanto um deles não conseguiria mais se mover e um outro estava bem debilitado. Ainda faltavam dois.

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