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Orion conhecia a morte.

A primeira vez que vira um cadáver, ele tinha seis anos.

O funeral de seu tio-avô foi um evento sombrio; torturantemente longo e ainda muito rápido ao mesmo tempo. O andar de baixo da casa de sua família estava cheio de pessoas que ele não conhecia – famílias aliadas, sócios de negócios, políticos e dignitários formando um mar de corpos amontoados em todos os cantos.

Mesmo para seu eu mais jovem, as condolências que escorriam de seus lábios melosos soaram falsas. A piedade escondeu cuidadosamente os desejos vorazes sob seus sorrisos tristes, e as palavras suavemente sussurradas escondiam sua ganância e alegria e suas tentativas desesperadas de bajular qualquer membro da Casa dos Black.

A maior parte daquele dia sombrio foi perdido na névoa de suas memórias, mas a única coisa que Orion conseguia se lembrar com clareza era a visão do cadáver pálido de Corvus Black em exibição.

Ele ainda podia ver a carne cinza que contrastava fortemente com os tecidos escuros de seu terno, e como a luz do fogo brilhava contra seus anéis. Podia ver mãos enrugadas – mãos que Orion tinha visto esfolar coelhos e quebrar ossos de galinha para rituais – dobradas sobre o peito.

Ele até se lembrava de como Corvus tinha sido frio ao toque, como a falta de calor tinha sido estranha, antes que sua mãe o pusesse para longe com um aviso sibilante sobre respeito e um tapa firme para deixar claro o ponto. A cicatriz de seu anel ainda marcava sua bochecha, uma linha fina e curta, invisível a menos que se soubesse para onde olhar.

As complexidades da morte lhe haviam escapado naquela época, apesar das tentativas de seu pai de explicar; mas à medida que os anos levaram mais família dele e os corpos da Casa dos Black começaram a se acumular, Orion descobriu.

No momento em que ele perdeu todos, exceto um de seus primos, Orion se familiarizou com a ideia de sua própria mortalidade. Livres do fardo que tantos outros pareciam carregar.

Então, sim, Orion conhecia bem a morte a essa altura, mas ainda era um choque testemunhar isso.

Jones tinha sido cruel em seu ataque. Sua magia havia cantado no ar ao seu redor enquanto ela derrotava seu oponente, implacável e feroz – e Orion estava sem fôlego. 

O poder absoluto que Jones exibia o havia arrebatado.

Ele se sentira seguro com Jones parada tão destemida à sua frente, encasulado sob aquele oceano de força. Mas aquele calor, aquela sensação de segurança que ele nunca tinha sentido antes tinha sido arrancado quando a maldição os derrubou.

A dor que irradiava de seu ombro tinha sido cegante e o fluxo de sangue em seus ouvidos o ensurdeceu por um momento. Quando Orion finalmente conseguiu se sentar, chegou a tempo de ver Jones desmoronar na neve, com o pescoço rasgado e encharcado de sangue.

O mundo clareou, estática zumbindo em sua mente enquanto ele olhava, sem compreender, a cena diante dele.

- Merda. -ele ouviu Sebastian sussurrar, o choque tornando sua voz baixa e áspera, embora no silêncio abrupto fosse dolorosamente alto. 

Sem os sons de feitiços atirando no ar, não havia nada para distrair o quão isolada esta parte da aldeia era.

Sem a presença dominadora de Jones preenchendo a área, o vazio repentino era esmagador.

Orion estendeu a mão para agarrar seu ombro ardendo, reconhecendo distante o calor pegajoso do sangue encharcando sua jaqueta. Sua visão turva, manchando como uma pintura a óleo.

Jones não estava se movendo.

De bruços no chão, a neve vermelha a cercando, uma imobilidade antinatural invadindo aquela moldura fina.

FRATURA ♟TOM RIDDLE (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora