Capítulo Único

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O amor pode te corroer de dentro para fora, te consumir até não haver mais nada e, ela sabia disso. Sempre soubera dos riscos, mas foi inevitável não se apaixonar por ele. Verônica sabe o quão errado é se apaixonar por Marcos — seu melhor amigo. Ele também sentira o mesmo, seu amor por Verônica ardia nele, profundamente.

Como flechas consumidas por fogo sendo atirada contra o seu peito. Doia ama-lo. Ambos sabem que não poderão ficar juntos.

Verônica vai a biblioteca todas as tardes para se encontrar com Marcos,. Ela não gostava de mentiras, mas se permitia mentir todos os dias para sua mãe; dizendo que iria estudar ou ler. O local é de muito conforto, apesar das altas temperaturas, especialmente no verão. É que se faz muito calor em sua cidade de Minas. Mas eles não se importam de ficar ali, o mais importante é a companhia um do outro.

O ventilador velho que range em cada virada, sopra seus ventos fazendo os longos cabelos ruivos da bela moça, se bagunçarem. Para ele lembra as folhas de outono, que se espalham com uma simples brisa. Marcos sorri genuinamente para a moça, fazendo -o a corar.

Todas as tardes se resumia em sorrisos bobos e olhares apaixonados, muita das vezes eles ouviam sem parar todas as músicas de Legião Urbana.

 Verônica sempre foi religiosa; mais por conta de sua família. Todos os domingos a mesma tinha que ir aos cultos. É o único momento onde ela e Marcos eram pessoas totalmente diferentes um do outro; enquanto ela via o pastor pregar, Marcos canta e sarava com lindas cantigas de Umbanda. Na verdade, na visão deles não havia nenhuma diferença entre ambos, mas na sociedade Marcos era massacrado, principalmente por pessoas como a família de Verônica. Sua família é racista, religiosa e rigorosa. A garota tinha medo do que aconteceria se eles descobrir sobre ela e Marcos, chegava dar calafrios só de imaginar.

Era tarde quando Verônica ouviu um barulho de pedra sendo jogada em sua janela, levantou de sua cama e curiosa correu para abrir a janela. Seu sorriso se iluminou quando viu Marcos acenando para ela, sussurrou para que ele a esperasse e logo disparou para calçar um calçado. O único a sua frente era um All Star velho, seria ele mesmo.

Ela andava como uma pluma, sem fazer qualquer tipo de barulho, com o coração a mil e a adrenalina a consumindo, a garota saiu de casa deixando seus pais dormindo e logo correu para os braços de seu amado.

— Venha, quero te levar à um lugar diferente. — Ele entrelaçou suas mãos com a dela.

— Você endoideceu de vez? E se meus pais acordam e se deem por minha falta? 

— Verônica, se acalma. — Ele sorriu para ela. — Não vamos demorar.

Marcos sempre tem as melhores intenções com Verônica, era o garoto mais apaixonada do mundo. Com sua bicicleta eles seguiram rindo com o vento gélido em seus rostos. Marcos gritava e cantava a música Boa Vida de Cazuza enquanto ela o abraça por trás e aprecia o momento.

Deixando sua bicicleta no canto da árvore, os dois se sentam no banco de concreto; o único que se tinha ali, de frente ao penhasco que dava para se ver toda a cidade iluminada.
Só os dois sabiam o quanto estavam apaixonados um pelo outro.

Verônica até agora não acreditava que tinha saído de casa no meio da noite sem a autorização de seus pais. Para ela isso era uma tremenda aventura; já que a menina certinha nunca aprontava atrocidades. Seu coração acelera pela adrenalina, mas se acalma com os doces e suaves chamegos que recebia de Marcos.

O rapaz antes de buscas Verônica, tinha acabado de sair do centro que seu avô é Pai de Santo. Lá ele refletiu sobre sua vida, sobre a garota e sobre os dois. 
Mesmo se entristecia ao se lembrar que nem por nada nesse mundo, a família de Verônica aceitaria o namoro dos dois. A família dela frequenta a igreja evangélica e de longe ele já havia visto sua mãe cometer racismo com pessoas de sua pele na rua.

Seu maior medo é perde-la e os dois sabiam que uma hora isso aconteceria.

— Se sua família descobrisse sobre nós, você fugiria comigo? — Suspirou ao perguntar fazendo a garota lhe olhar.
— Por que a pergunta? 

— Por nada... Eu só tenho medo de te perder. — Verônica sorriu gentil para ele e então falou — Você só me perderá se um dia me deixar, e Deus me livre se um dia isso acontecer.

Verônica voltou para sua casa algumas horas depois e essas saídas começaram a virar uma rotina sem fim de segredos que só os dois soubera. Dias e meses se passaram, a garota saltitava e cantava enquanto arrumava a casa para sua mãe. Ver o seu amado todos os dias, deixava o seu dia repleto de sorrisos bobos e suspiros apaixonados. A noite foi chegando e a janta ela já preparava; fazia de tudo para ir se deitar mais cedo só para se encontrar logo com Marcos.

A cozinha cheira alho refogada e deliciosas batatas assada. A comida já esfriava sobre a mesa de jantar, tinha algo de errado pois seus pais nunca se atrasam para a janta, e logo Marcos estaria a esperando de baixo de sua janela. Começou a se desesperar com a possibilidade de seus pais se esbarrar com o rapaz, já estava a beira de lágrimas quando escutou barulho vindo da porta principal.

Logo desfez a cara de choro e tentou abrir um sorriso, mas sua tentativa de expressão feliz foi se desfazendo quando viu seu pai mais sua mãe e logo atrás de seu pai, Marcos.

— Quando a irmã Neusa me contou que tinha te visto de noite com um negrinho do centro de macumba eu não acreditei. Falei que você era a garota mais obediente e certa que tem na cidade, mas pelo visto eu estava enganada.

Os olhos de seu pai transbordava ódio e desprezo.

— Mamãe... não fale assim. — Falou em um soluço de choro mas logo sentiu a mão quente da mulher cobrindo seu rosto com um tapa.

— Calada! Nunca achei que uma filha minha se rebaixaria tanto com um preto. Não duvido que já deve estar grávida.

Seu pai pegou Marcos pelo braço e o arremessou no chão, fazendo com que Verônica desse um passo para trás em um susto. O homem andou batendo os pés com força até o armário e ao abrir a gaveta, ambos podiam ver a pistola refletindo em suas mãos.

— Verônica não é culpada de nada, o demônio da macumba que esse sujeito vai que a enfeitiçou. — Marcos nunca sentira tanto ódio em sua vida. — Mas esse diabo vai embora e ela aprenderá a não se deixar pelo cão.

— Papai não o machuque, eu o amo. — A garota disse aos prantos. — Marcos é o amor da minha vida.

— Isso não é amor e sim amarração, minha filha. — Respondeu puxando o rapaz com uma de suas mãos livres.

— Acho que nem Oxalá terá compaixão com a sua alma. — Marcos cuspiu as palavras. — Sua alma é podre e não merece nenhum tipo de resgate. Quando você morrer, irá para a última camada do umbral e assim apodrecera lá como espírito sem luz.

— Não me rogue pragas seu bicho ruim.
Verônica chorava sem parar e não tinha nenhuma força para fazer qualquer coisa, ninguém os ajudaria.

— Deus que cuida de todos nós, hoje eu faço um favor a todos, livrando a cidade desse demônio que caminha sobre nossa cidade e amarra a vida de garotas inocentes. — Com sua última fala, o homem apertou o gatilho fazendo o corpo ensanguentado cair no chão sem vida. Verônica gritou tão alto que qualquer pessoa suportaria gritar, seu grito foi agonizante e cheio de ódio e tristeza. Ela acabou de ver o amor de sua vida sendo morto em sua frente. Mas como eu disse, o amor pode te corroer de dentro para fora, te consumir até não haver mais nada, e ela sabia disso, os dois sabiam e mesmo assim arriscaram tudo por amor.

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