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Eu não sabia como Mikhael receberia a notícia de que nós havíamos sido descobertos, eu temia a reação dele, mas ao mesmo tempo não podia esconder dele essa informação, cheguei à faculdade e encontrei-o a minha espera na portaria:

_ Oi Mik, como foi com o seu pai ontem?

_ Eu levei uma bronca daquelas, mas consegui contornar a situação.

_ Como?

_ Disse que tinha um trabalho importante para fazer toda essa semana, ou seja, estou liberado essa semana depois das aulas.

_ Liberado todinho para mim?

_ Não! _ Liberado para o Billy, liberado para ele, não para você, mas quem sabe sobra um tempinho, vai saber.

_ Eu preciso te contar uma coisa.

_ Que coisa?

Nesse exato momento Raulf passou nos olhando com um sorriso estampado em seu rosto cínico, Mikhael logo percebeu:

_ Não gosto desse rapaz.

_ Também não gosto.

Balancei a cabeça e desconfiado Mikhael olhou para ele e Raulf ainda nos olhava com o mesmo riso nos lábios:

_ Por que ele nos olhou assim Gillian, o que está acontecendo?

_ Eu não vou mentir para você Mik, mas preciso que mantenha a calma.

_ Manter a calma sobre o que Gillian?

_ Ele me procurou ontem, querendo conhecer o meu apartamento.

Mikhael soltou uma risada fraca:

_ Vai me dizer que levou ele ao seu apartamento e você ficou com esse babaca?

_ Não, claro que não, como pode pensar algo desse tipo, esse tipo de pessoa me dá asco.

_ Então o que está acontecendo?

_ Ele queria ir ao meu apartamento, como eu recusei convidá-lo, então ele disse que talvez você não fosse tão resistente como eu.

_ Eu... Quer dizer que ele sabe... Como ele soube Gillian?

_ Ele andou nos vigiando, eu vou resolver essa história não se preocupe.

_ Vai resolver como Gillian, dormindo com ele? _ Eu falei que esse cara não era confiável.

_ Entrar em desespero agora não resolverá nada Mik.

_ Você não entende não é... Se alguém descobrir sobre você, sua vida continuará do mesmo jeito, seus pais te aceitando, te amando e nada mudará, mas se alguém descobre sobre mim, as coisas se tornam bem diferente, minha vida toda é destruída.

_ Então é isso o que eu significo para você?

_ Gillian... Não, dramatiza uma situação que já é dramática por demais.

Mikhael saiu andando e voltamos à estaca zero, ele sentou-se distante, e assim que terminou a aula ele foi embora sem nem mesmo se despedir, fui para casa desanimado, cheguei e Billy logo se aproximou latindo:

_ Seu pai não veio hoje Billy, vai ter que se contentar comigo, vamos garotão, vamos passear.

Peguei a coleira, coloquei em Billy e ao chegar à portaria Raulf estava ali a minha espera:

_ Olá Gillian... Vim aqui para saber se mudou de ideia e quer me convidar para conhecer o seu apartamento?

_ Me deixe em paz cara, me esquece.

_ Eu percebi que o Mikhael ficou distante de você hoje, por acaso os pombinhos andaram se estranhando?

Aquilo já era demais, segurei Raulf pelo colarinho trazendo ele para bem perto do meu rosto:

_ Olha aqui seu babaca de merda, eu já avisei para me deixar em paz, arrume outra diversão ou eu não responderei por mim, se mexer com o Mikhael eu vou achar um jeito de se arrepender até o último dia da sua vida.

Soltei-o com um solavanco, fazendo com que ele recuasse os passos para trás, ele ria descaradamente:

_ Esse jeito marrento só me faz ficar ainda mais instigado Gillian. Mas por hoje vou deixar que leve esse pulguento caolho para passear.

Bufei de raiva, olhando Raulf se afastar, recobrei a atenção, e continuei o passeio com Billy, fiquei cerca de meia hora na rua e voltei para casa, olhei o celular para ver se tinha alguma mensagem, nada, Mikhael não havia me enviado nada.

No dia seguinte, ele não foi à faculdade, e assim também aconteceu no dia seguinte, isso não era normal, Mikhael era muito sistemático quando o assunto era o estudo, e agora faltava, dois dias seguidos, ele também não ligou para combinarmos como nos encontraríamos para que eu fosse a sinagoga, ele simplesmente não dera notícia nenhuma depois da nossa última conversa.

No sábado no horário da reunião apareci na frente da sinagoga, Mikhael estava conversando com uma turma e quando me viu a expressão dele mudou, era um misto de susto com alegria, não sei explicar como era, mas ele veio ao meu encontro:

_ Gillian... O que faz aqui?

_ Como assim o que eu faço aqui, não era o nosso acordo?

_ Não depois do que houve.

_ Então é isso, eu não sou bem vindo?

_ Claro que é bem vindo Gillian, só fiquei surpreso em vê-lo aqui sabendo que não acredita em nada. Mas venha, deixe apresentar você aos meus pais.

Fui seguindo ele até uma turma de homens muito bem vestidos:

_ Pai... Eu quero te apresentar um amigo.

Um homem de meia idade se virou, olhou-me e foi até simpático:

_ Prazer meu jovem, seja bem vindo a nossa reunião.

_ Pai esse é o meu amigo da faculdade, Gillian.

_ Gillian não é um nome muito comum, por acaso é filho do doutor Jean Rak?

_ Sim, sou filho dele com muito orgulho.

_ Claro que é. Bem dá licença, a reunião irá começar em breve, espero que você goste da reunião, Mikhael você pode me acompanhar por um instante?

_ Vou só acomodar o Gillian e já te encontro meu pai.

Assim que o homem se afastou eu perguntei:

_ Ele não gostou muito de mim não é?

_ O problema não é você, é o seu pai. Há uns tempos atrás ele fez um abaixo assinado para tirar seu pai do hospital e não deu em nada.

_ Eu sei dessa história, meu pai chegou muitas vezes chateado com essa história em casa.

_ Eu preciso encontrá-lo. Aqui é um bom lugar, eu não poderei ficar ao seu lado, pois estarei no coral hoje.

Fiquei reparando na conversa de Mikhael com seu pai, e por mais que não conseguisse ouvi-los, tinha a nítida impressão que os dois falavam sobre mim, e quando os dois cessaram a conversa, o reverendo tomou o seu lugar iniciando a reunião, enquanto Mikhael evitava olhar na minha direção:

_ Shallon Adonai irmandade.

Unânimes os irmãos responderam a saudação do reverendo e ele iniciou a reunião com uma palavra sobre o amor:

_ Se estamos aqui hoje foi por que um homem nos amou de tal maneira que se entregou por nós em um madeiro....

De fato a palavra foi muito bonita, e os louvores traziam uma emoção, mas de nada valia se não era colocada em prática, e o que eu sentia ali no olhar do reverendo direcionado a mim era que existia muita raiva ao invés de amor. 

Eu faço o meu próprio paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora